Apontado como um dos fortes candidatos ao Oscar, A hora mais
escura, novo longa de Kathryn Bigelow se vê no epicentro de polêmicas que podem
tanto impulsionar sua candidatura, como miná-la. O manejo de certos elementos
pelo marketing do filme e a absorção deles por crítica e indústria ditarão os
rumos da obra na vigente temporada de premiações. O projeto, a bem da verdade,
estava destinado às polêmicas. O filme que versaria sobre a caçada a Osama Bin
Laden teve de ser reimaginado após a morte deste por uma tropa da marinha
americana em maio de 2011. A hora mais escura aventa um dos maiores
dissabores dos EUA na guerra ao terror: o uso da tortura como estratégia de
combate ao terrorismo. A CIA já emitiu comunicado oficial condenando o filme e
o Congresso americano questiona o vazamento por setores da Casa Branca de
arquivos confidenciais sobre a operação que culminou na morte de Bin Laden para
o roteirista Mark Boal, que é também jornalista com vasta experiência no
Oriente Médio. Boal, inclusive, acompanhou in loco durante muito tempo a ação
dos EUA no Afeganistão.
Membros do alto comissariado do governo Obama vieram a
público dizer que não houve colaboração do governo na feitura do filme. Bigelow
e Boal, no entanto, insistem que apesar de ser uma ficção, há elementos
verídicos de sobra no filme que eles classificam como “um registro próximo ao
jornalismo literário” (gênero jornalístico dimensionado por Truman Capote no
clássico “A sangue frio” que admite recursos literários na confecção de um
relato jornalístico).
O meio intelectual americano rapidamente passou a discutir
essa questão, então logo percebida como central em A hora mais escura, que é a
adoção da tortura como instrumento na guerra ao terror. O fato de
Obama não ter fechado ainda a prisão que os EUA mantêm em Guantánamo (Cuba),
uma de suas promessas na primeira campanha para a presidência dos EUA, projeta
uma sombra ainda maior sobre o jeito americano de conduzir um conflito longe do
fim.
A diretora Kathryn Bigelow no set do filme: relevância que pode pesar a favor ou contra |
A relevância pode ser um valioso cabo eleitoral para A hora
mais escura, mas a profundidade de seus questionamentos pode lhe ser
prejudicial no momento em que se define quem deve prevalecer na corrida. Nesse
sentido, reverenciar um filme como Lincoln – biografia de uma das poucas
figuras que é unanimidade entre democratas e republicanos – pode ser uma
solução artística para um edema político.
Bigelow e Boal não estão conduzindo bem a situação. É certo
que reiterem que o filme fale por si, mas não podem se abster de participarem
do debate que fomentam com sua obra e se escorarem em um pretenso registro
jornalístico. Ao se equilibrarem em fatores imponderáveis como sorte e ânimos
políticos, eles arriscam os rumos do filme no Oscar. Nessa altura do
campeonato, a única coisa capaz de selar uma vitória consagradora de A
hora mais escura no Oscar seria um atentado terrorista em solo americano.
Seria um desfecho agridoce para a carreira de um filme taxado de republicano
por democratas e de democrata por republicanos.
É, fica mesmo imprevisível o jogo de marketing das premiações, mas tendo a achar que toda polêmica acaba sendo boa para o filme, gera curiosidade e ele fica, digamos, na boca do povo. hehe. Vamos acompanhar.
ResponderExcluirbjs
Amanda: Eu concordo plenamente com vc. O que pontuo aqui é que se a polêmica deve valer muita visibilidade ao filme de Bigelow e, inclusive, lhe assegurar boas posições no Oscar, ela deve lhe custar o Oscar de melhor filme. Pelo menos se preservadas as circunstâncias de momento. É uma projeção que fiz ao longo do texto considerando muitas variantes.
ResponderExcluirBjs
Eu não vejo A Hora Mais Escura como um filme político. Kathryn Bigelow apenas faz uma homenagem as pessoas que dedicaram a suas vidas na caçada por Osama Bin Laden e de uma maneira, critica o uso de tortura nos prisioneiros através da personagem principal.
ResponderExcluirLeia a crítica completa do filme aqui: http://www.peliculacriativa.blogspot.com.br/2013/01/critica-hora-mais-escura-zero-dark.html