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domingo, 5 de fevereiro de 2012

Insight

Finais geniais em cartaz

Em época de Oscar, dizer que há bons filmes em cartaz chega a ser pleonasmo. Mas o que mais enobrece esse início de ano nos cinemas brasileiros não é a já habitual safra caprichada de longas-metragens; mas sim o impressionante número de filmes com bons finais. Valem ser citados pelo menos quatro: Os descendentes, Os homens que não amavam as mulheres, A separação e Sherlock Holmes: o jogo de sombras. Todos com críticas já publicadas em Claquete.
São finais com “pegadas” diferentes, mas que incrementam a experiência cinematográfica.
Em Os descendentes, por exemplo, a cena final é de uma simplicidade que beira a banalidade. No entanto, se mostra vigorosa, abrasadora e profundamente emocional. Não se corre o risco de entregar nenhum spoiler, em mencionar que Alexander Payne torna seu filme muito mais carismático ao colocar os personagens de George Clooney, Shailene Woodley e Amara Miller tomando sorvete enquanto assistem o documentário A marcha dos pinguins e os créditos sobem. A cena, reconhecidamente simples, agrega um valor emocional danado à história que ela arremata.
Algo diferente ocorre, por exemplo, em Sherlock Holmes: o jogo de sombras. Filme para lá de mediano que se resolve com um final bem acima da média. O coelho que o cineasta Guy Ritchie tira da cartola é dos mais vistosos. Após conduzir um filme com muitos problemas e algum ranço de tédio, ele apresenta um daqueles finais que conjugam muito bem humor, senso de oportunidade e engenhosidade narrativa. Sem falar que o final remete perfeitamente à iconografia do personagem Sherlock Holmes. O desfecho do filme deixa com o espectador a impressão de ter visto algo muito positivo, mesmo não sendo esse o caso. Um artifício, ou uma trucagem se preferir, além de engenhoso, eficientíssimo.
Truques, no entanto, passam longe de A separação. Vigoroso exemplar do cinema iraniano em exibição nas principais cidades brasileiras. A fita trabalha com a dubiedade durante toda a sua extensão, convidando a platéia a exercer função vital na construção do sentido do filme no foro íntimo. O diretor Ashghar Farhadi sabiamente potencializa essa opção com um final paradoxalmente tão aberto quanto enclausurado em si. Mais do que margens para interpretações, o que ele oferta à platéia é a possibilidade de decidir, afinal, se a filha optou por ficar com o pai ou com a mãe, após os eventos que se sucederam no curso do filme.
Contudo, o que David Fincher faz em Os homens que não amavam as mulheres é algo quase sobrenatural. No sentido de fora de série mesmo. Fincher, como todos sabem, não adapta apenas o primeiro livro da trilogia Millennium de Stieg Larsson, ele ainda tinha o filme sueco como elemento, no mínimo, desestabilizador em qualquer ângulo de comparação. O diretor, confiante, deu seu tom à história e não só a melhorou em relação ao original, como fez o filme sueco parecer um rascunho. A genialidade do trabalho de Fincher pode ser bem analisada no final, sutilmente diferente da versão sueca. O diretor espicha o epílogo do filme e, se não justifica a personagem Lisbeth Salander, a humaniza consideravelmente na cena doída, triste e profundamente cativante que fecha o filme.

3 comentários:

  1. Eu não achei "Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres" esse filme brilhante. É uma obra consistente, mas que falta alguma coisa. Eu concordo que a humanização da Lisbeth foi fundamental para essa obra, especialmente pra mostrar que ela não é a bitch que aparentava. Eu gostei muito, no geral, da forma como a personagem foi composta. Lisbeth não abaixa a guarda dela, talvez, por medo de se machucar. E, quando ela faz isso e vê que pode se decepcionar, ela já corta o mal pela raiz de vez.

    O meu final favorito até agora foi o de "Os Descendentes". Uma cena simples, mas que me comoveu profundamente, a ponto de eu chorar bastante. Porque, você vê que, ali, naquela calmaria, naquela cena tão comum de um cotidiano que aquela família, que, antes, estava em frangalhos, vai ficar bem. :)

    Beijos!

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  2. Interessante observação, realmente os finais são preciosos, principalmente de A Separação, que agonia.

    bjs

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  3. Kamila: É... eu sei dessa sua posição quanto ao filme Ka. E reitero que discordamos completamente.rsrs. Acho que Fincher se prova um autor de verdade com as opções que faz em Os homens que não amavam as mulheres. É da comparação com o material original e com a versão sueca que se vislumbra a qualidade magistral do cineasta.
    O final de "Os descendentes" é mesmo emocionante.
    Bjs

    Amanda:Obrigado Amanda.
    Bjs

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