John Hillcoat é um cineasta que gosta de um cenário apocalíptico. No entanto, Hillcoat não é afeito a dirigir ficções científicas. Sua zona de conforto são os faroestes. É bem verdade que em A estrada (2009) ele agregou elementos de ficção ao fundar (?) o faroeste apocalíptico, mas em A proposta, embora o interesse seja intercambiável com seu filme mais recente, tudo surge mais cru. É como se Hillcoat ainda estivesse se aquecendo. Contudo, fica claro que aprecia elipses narrativas para compor seu cinema. A proposta, destaque da seção Cantinho do DVD desta semana, não é tão vigoroso quanto A estrada, mas talvez seja mais surpreendente. A crítica a seguir.
Crítica
Vem da Austrália um dos faroestes mais condizentes dos últimos anos. A proposta (The proposition Aust 2005) é um filme um tanto incauto. Parado, quase monótono, centra-se na divagação de seus personagens e na constante espera pelo que se aproxima. O sol cortante é um companheiro desleal de homens sujos e intolerantes. A civilização ainda é um conceito distante, embora o capitão da polícia do vilarejo local tente impor preceitos civilizatórios em meio ao caos. Ray Winstone vive o capitão Stanley com um tom desconcertado de desespero e sofreguidão em uma atuação correta. Ele instiga Charlie Burns (Guy Pierce) a encontrar seu irmão mais velho, um perigoso assassino, e matá-lo para que possa reaver a guarda do irmão mais novo. Os três formam um bando criminoso que poucos dias antes estuprou e matou uma mulher na cidade. Não é preciso dizer que as tentativas do capitão Stanley de apurar um desfecho civilizado para o imbróglio irão esbarrar na resistência à civilização impregnada em uma Austrália escravagista e segmentada.
A proposta é um filme duro de John Hillcoat, cineasta que enxerga na crueza, a limpidez humana. Seu filme tem homens a beira da falência moral e física e tem também rompantes de violência. É dessa combinação, assustadoramente orgânica, que Hillcoat extrai beleza de seu filme. A proposta não é um faroeste de ação. Tão pouco um filme que destaca um justiceiro implacável. É um retrato um tanto cru do choque civilizatório que ainda se dá em alguns cantos do mundo.
otimo texto! Fiquei até com vontade de assistir, mesmo achando q possa ser meio chatinho, mas deve valer uma chance mesmo.
ResponderExcluirCelo: rsrs. Obrigado. O filme é um tanto monótono sim, mas eu não diria chatinho.
ResponderExcluirAbs