Com um cinema fortemente marcado pela produção independente, o inglês Michael Winterbottom andou deslizando em seus últimos trabalhos. O mais recente, O assassino em mim, destaque da seção Cantinho do DVD desta semana, nem sequer chegou a ser lançado nos cinemas americanos e brasileiros. Tudo porque, embora com um elenco afinado e com cenas de nudez de Jessica Alba e Kate Hudson, o filme não diz a que veio. A crítica, o leitor confere abaixo:
Crítica
Adaptado do romance homônimo de Jim Thompson, O assassino em mim (The killer inside me, EUA 2010) não consegue aspirar no cinema o mesmo oxigênio que a literatura oferece aos romances imaginativos. Dirigido pelo competente Michael Winterbottom e com um elenco talentoso capitaneado pelo ótimo Casey Affleck, o filme não consegue atingir seus objetivos.
Com atmosfera de filme noir, O assassino em mim propõe um estudo minucioso de personagem. No caso, Lou Ford (Casey Affleck), o assistente do xerife de Central City, cidadezinha do interior de Oklahoma.
Lou tem o corpo franzino de seu intérprete e o olhar perdido de alguém sem muita ambição.
Nos primeiros cinco minutos de O assassino em mim percebemos que Lou, no entanto, detém um impulso violento adormecido dentro dele. Um pouco mais adiante veremos Lou dar vazão a esse instinto e maquiar mal e porcamente a cena do crime que comete. O que se vê daí em diante é um homem sucumbindo tanto a seus desejos e medos, como a deformidade de seus atos. O assassino em mim, então, assume a perspectiva de Lou e torna-se uma narrativa um tanto capenga no desenho que faz desse personagem. Os flashbacks que sugerem uma infância de abusos e inversões nos conceitos de amor e carinho não são suficientemente satisfatórios para agregar àquele personagem algum relevo trágico. Tão pouco imbuem o espectador da certeza de que aquele é, afinal, um psicopata descontrolado.
O que leva a audiência a intuir isso são os personagens de Elias Koteas, um representante sindical que tenta o juízo de Lou, e Simon Baker, como um investigador com a mira sempre em cima do protagonista.
Winterbottom falha ao ritmar sua história e prestar-lhe um objetivo mais encorpado do que a mera observação do desfalecer de uma criança abusada.
Ainda que conte com um elenco afinado, e Casey Affleck assusta e espanta com sua caracterização de um demônio em convulsão silenciosa, O assassino em mim acaba por se resolver um filme um tanto opaco, em que a violência exprime, mais do que o tédio do protagonista, o tédio de quem o observa.
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