Páginas de Claquete

terça-feira, 28 de junho de 2011

Crítica - Namorados para sempre

A desconstrução da relação amorosa!


Namorados para sempre (Blue valentine, EUA 2010) é um filme doído. É duro com aquele que deseja manter-se aquecido na esperança. A fita é fruto de uma desilusão amorosa de Derek Cianfrance, diretor e roteirista, mas não o coração de Namorados para sempre. Quem bombeia as emoções nesse filme são os dois excelentes protagonistas: Ryan Gosling e Michelle Williams.
É nesse período de luto interno que a sensibilidade aflora em níveis de exumação artística – aquele patamar em que só se supera um amor ao devassá-lo de maneira criativa. De certa maneira é isso que Cianfrance faz aqui. Por isso, o ponto de vista adotado em Namorados para sempre é o de Dean (Gosling). O sujeito impulsivo que ama demais e se entrega de peito aberto a seus sentimentos porque entende residir nesse gesto o êxtase de sua existência. Já Cindy (Williams) é a garota fragilizada e cheia de sonhos que se ressente de uma relação paralisada nas lembranças e projetos.
O filme se constrói em duas frentes e produz sentido do choque que provoca na percepção do espectador. Cianfrance contrapõe o momento em que Dean e Cindy estão à beira do colapso dentro da relação amorosa e o momento em que cedem à tentadora paixão. É um retrato agridoce. Além da incrível beleza e poesia, há uma verdade inescapável ali. A vida tem dessas descomposturas com aqueles que a vivem. Em um dado momento Cindy se questiona como confiar em seus sentimentos se eles podem desaparecer. A complexidade da resposta não surge em Namorados para sempre, mas de sua digestão.

Paixão sem futuro: os motivos para o flagelo da relação de Dean e Cindy são muitos e a dor que eles sentem abrange todos eles


Cianfrance realiza uma crônica sobre o ocaso da paixão vitimada pela brutalidade da vida, seus anseios e incorreções. Essa crônica ganha densidade nas atuações crepusculares de Ryan Gosling e Michelle Williams. Ambos se entregam às angústias de seus personagens sem receios e imposições. Um trabalho tão vistoso e sem julgamentos que chega a impressionar. Gosling faz o tipo expansivo e Williams reage a ele com sutileza e minimalismo, em uma metalinguagem com as posturas de seus personagens que enriquece a experiência cinematográfica.
Namorados para sempre é um filme doído porque escancara nossas imperfeições. Os que amam demais o fazem por uma razão, nunca justificável o suficiente, e os que amam de menos também falham em se justificar perante os que amam demais. No final das contas, o que Cianfrance coloca, ainda que involuntariamente, é que o amor chega muito generoso e se despede muito egoísta. É um argumento triste, mas verdadeiro para muitos casais.

9 comentários:

  1. Acho que tive uma indigestão com esse filme. Pena quem quis assistí-lo no dia dos namorados...

    ResponderExcluir
  2. Esse titulo é digno de processar a produtora... Mas o filme é mesmo magnífico, muito bem interpretado.

    http://cinelupinha.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  3. Doído mesmo, mas tão verdadeiro. Um filme sensível quase destruído por um título absurdo.

    bjs

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Apesar de ser um filme doído e triste, tô com muita vontade de conferir este filme, especialmente por causa dos atores envolvidos, que são sempre excelente no que fazem.

    ResponderExcluir
  6. Está em exibição nos cinemas de minha cidade, mas e o tempo pra assistir? Tá difícil! rs

    ResponderExcluir
  7. Não adiciono mais nada à discussão. Assino embaixo do que disse e sublinho a esperteza do diretor em fazer um retrato tão cru, sem artifícios para situar a época "boa" e a "ruim" e as atuações triunfal dos protagonistas. Gosling e Williams são 2 dos melhores atores de sua geração, that´s for sure =)


    abs, R.!

    ResponderExcluir
  8. Este filme parece um documentário real sobre a vida de um casal. Nada é para sempre e é tão sincero quanto a própria morte, uma história que não tem encontro com um happy end (o filme inteiro não é happy né mesmo?). Já vi 3 vezes e gosto mesmo é do trabalho deste diretor novato. Agora tenho esta certeza.
    O título é cruel mesmo como todos dizem.Como é possível um nome em português para um filme como esse?
    Ótima crítica Reinaldo e gostei de sua opinião quanto ao trabalho de Cianfrance. É uma crônica mesmo.
    Abs.
    Rodrigo

    ResponderExcluir
  9. Raphael Martins:É... foi golpe baixo da distribuidora...
    abs

    Rafael W.:O título é bem equivocado mesmo, mas ñ sei se cabe processo... rsrs.
    Abração

    Amanda: Tb ñ acho que o título seja tão usurpador assim...
    bjs

    Pat: Que jeito sofisticado de dizer que não gostou hein? rsrs
    Bjs

    Kamila: E eles estão ótimos aqui.
    Bjs

    Alan: I know what you mean!
    Abs

    Elton: Hell yes that´s for sure! Valeu meu brother!
    Abs

    Rodrigo Mendes: Valeu Rodrigão.Tb gostei do filme. Honrou minhas altas expectativas com louvor.
    Abs

    ResponderExcluir