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sexta-feira, 25 de março de 2011

Crítica - Cópia fiel

Cinema de questionamento

A primeira reação à Cópia fiel (Copie conforme, FRA/Itália/Irã 2010) é de estranheza. Confusão até. A matéria prima do novo trabalho do elogiado cineasta iraniano Abbas Kiarostami é a arte e uma das discussões mais longevas e interessantes que a gravita: acerca do valor de uma cópia, da autenticidade do original e do quão significante é o olhar na aferição de uma obra de arte. Mas o diretor iraniano é audacioso e faz do filme que discute a arte, a própria discussão. O fórum metalinguístico de Kiarostami começa explanativo e toma contornos herméticos, ainda que a narrativa seja leve e fluída. Uma conquista notável.
Em Cópia fiel, o escritor inglês James Miller (William Shimell) está na região da Toscana, na Itália, para palestrar sobre seu mais recente livro (que dá nome ao filme), em que promove um debate sobre arte e cópia. Miller parece convicto de que uma cópia bem feita tem tanto valor quanto a original. Ao mesmo tempo em que relativiza o valor da arte, a cópia o afirma, defende o inglês. Ele é desafiado, em um passeio aparentemente sem rumo, pela francesa dona de uma loja de antiguidades vivida por Juliette Binoche. Elle, a personagem da atriz, é flagrada dividida entre a adoração e o repúdio as ideias de Miller.
Em um primeiro momento, Kiarostami desenvolve seu filme como uma palestra propriamente dita. Ele lança suas ideias e a defende por meio de exemplos que os personagens tricotam em uma conversa cerceada por tensão e sobressaltos. De repente, após uma conversa travada entre Elle e a dona de uma cantina italiana, Cópia fiel se transforma em outro filme. Uma comédia romântica madura que guarda muitas semelhanças com o duo de Richard Linkaleter Antes do amanhecer/Antes do pôr do sol. Se essa condição é proposital ou não, provoca o diretor iraniano, cabe ao olhar do espectador.

Shimell e Binoche em cena de Cópia fiel: arte e amor têm esferas semelhantes e complementares na proposição de Abbas Kiarostami


O trânsito de ideias em Cópia fiel é tão vasto e complexo que ao seu final não se pode afirmar se o jogo de cena dos personagens se sucedeu por curiosidade intelectual, flerte incidental ou se o jogo de cena que existia (sem nos darmos conta) deu vazão a crua realidade, ainda que temperada pelo lirismo europeu que Kiarostami filma como o turista que é.
É inegável que Cópia fiel é um filme de ideias. Que se pretende erudito, ainda que desenvolvido na simplicidade dos diálogos. Contudo, o grande porém do filme, é que, em seu âmago, ele não convence. James Miller escreveu o livro para se convencer de suas próprias ideias, admite o próprio em determinado momento. Tudo leva a crer que Kiarostami rodou esse filme, seu primeiro no exílio na Europa, com o mesmo intuito. Mas Cópia fiel não cativa como cinema o tanto que cativa como ensaio. É uma pena. Apesar da boa química entre os atores, e Shimell em sua estréia é um achado, a fita se torna depositária do olhar do espectador. Essa volubilidade, até certo ponto pretendida, atesta a ideia do filme, mas o segmenta em apreciações genéricas como a força dos intérpretes, a beleza da Toscana ou a inteligência do roteiro de Kiarostami.

6 comentários:

  1. Adorei a fotografia, a química do casal e as partes em que o "relacionamento" deles era colocado em cena. Mas, no geral, acho que o filme perde tempo demais com discussões de arte. Meia hora de filme e eu já estava completamente entediado! Sorte que a partir da metade o filme melhora muito! Mas, no geral, achei apenas interessante.

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  2. Olá meu caro, eu acho que Cópia Fiel só comprova o talento de Binoche e do diretor Kiarostami. Para gerar mais debates, precisamos rever e rever esta fita.
    Abs.
    RODRIGO

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  3. Estou para arrumar um tempinho e ver este filme, mais por causa da Juliette Binoche.

    Beijos! ;)

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  4. Matheus: Vc vê como são as coisas.rsrs. Para mim, a meia hora inicial do filme é o que ele tem de mais genial e inusitado... Acho que o ritmo se perde, ainda que pouco, na transição submetida pelo cineasta. Enfim, como disse: é mais interessante como ensaio do que como cinema...
    Abs

    Rodrigo: É um filme que busca fomentar ideias. E isso é louvável mesmo Rodrigo. Obviamente, merece revisitas... abs

    Mayara: Espero que goste! Bjs

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  5. Esperava muito, mas muito mais deste filme.

    Na minha opinião não é tão profundo assim quanto parece. O que salva realmente, é a atuação dos atores...

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  6. Fabricio: Exatamente. É mais interessante enquanto tese do que como cinema... Não deixa de ser uma frustração.
    Abs

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