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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Crítica - O discurso do rei

Encontrando a voz da nação


Os filmes ingleses são certeiros porque primam pela excelência e classe que muitas cinematografias buscam e não conseguem atingir. Calcado no refinamento dos atores e na exuberância do jeito britânico de fazer cinema, há um estilo de filme inglês que agrada particularmente: o de época. É isso que ajuda a entender o porque de O discurso do rei (The king´s speech INGL 2010) conseguir os louros internacionais que faltaram, por exemplo, a Trainspporting – sem limites (1996). O filme de Tom Hooper, indicado a 12 Oscars, é uma vitrine de tudo que dá certo no cinema inglês. Atores no conforto da excelência dramática, técnica pontual e vistosa e um academicismo que flerta constantemente com noções conservadoras de como produzir um filme. É, em miúdos, um clamor por prestígio junto a prêmios e crítica.
Isso posto, é preciso reconhecer que mesmo enveredando por tamanho rigor técnico, O discurso do rei é um filme cativante, otimista e com uma mensagem muita bonita. Ao flagrar a coroa britânica em um momento de fragilidade (outra obsessão do cinema da terra da rainha), a partir de um problema de ordem pessoal de um de seus integrantes, O discurso do rei propõe uma poderosa relação de causa e efeito com seu público.


Refinamento e sofisticação: O discurso do rei é como escola de samba que faz desfile técnico; não empolga, mas demonstra competência soberana


Os bastidores da política são meros detalhes no filme que foca a terapia vocal que o futuro Rei George VI (Colin Firth) faz com o ator frustrado Lionel Logue (Geoffrey Rush). Mas o filme não hesita em adornar a política, quando necessário, para potencializar seu efeito dramático. Uma solução hábil do ponto de vista catártico, mas que demonstra a inconstância do filme que não se resolve como crônica política ou como drama de tintas biográficas. Esse dado pouco afeta o filme. O discurso do rei pode ser lido como uma espécie de “feel good movie” de época. Não tem a relevância histórica de A rainha (2006) ou as pretensões biográficas de Elizabeth (1998), mas sim o interesse de fazer o público entender um pouco mais sobre a força sobrehumana demonstrada por um monarca que precisava a todo custo se libertar do complexo de inferioridade que o acometia. O mesmo vale para uma nação que agonizava as vésperas de uma guerra mundial e cuja liderança estava abalada.
Contribui e muito para o impacto positivo que O discurso do rei tem sobre seu espectador, as atuações de seu par de atores principais. Geoffrey Rush está magnânimo em cena. No limite da ironia e da descompostura plebéia, Rush cria um tipo cativante e profundamente atraente. Colin Firth, por sua vez, reveste sua caracterização do rei gago de ternura e candura. Além do fato de ser convincente em cena (driblando o risco da sátira), Firth provoca comoção da platéia com uma performance sutilmente alinhada ao espírito do filme. Quando Rush e Firth contracenam, O discurso do rei tem seus melhores momentos. Momentos esses que não fazem do filme o melhor do ano. Na verdade, em tão equilibrada disputa ele passa longe dessa marca. Mas é um inglês de qualidade indubitável. Para uns e outros, isso já é suficiente.

7 comentários:

  1. É um filme muito bem feito, sem dúvidas. E com interpretações para ficar para história. Mas, concordo que não é o melhor do ano.

    bjs

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  2. Uma história simpática, num filme tecnicamente feito sob medida para o Oscar. Curiosa a forma humanizada como a Família Real inglesa foi tratada, bem diferente do que vimos em “A Rainha”.

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  3. Amanda: Pois é... bjs

    Kamila: Pois eu acho que em A rainha a família real foi muito mais humanizada do que aqui... rsrs
    bjs

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  4. grande filme... totalmente merecedor do oscar de melhor filme (mais que 'a rede social')

    http://filme-do-dia.blogspot.com/

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  5. Kahlil: Discordo veemente de vc meu caro. Não só nãoa cho que O discurso do rei mereça o Oscar, como acho o filme de Fincher extremamente superior ao de Hooper. Mas aí são achismos né...
    Abs

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  6. O Discurso do Rei foi uma surpresa para mim, como para a sociedade do meio cinéfilo, mas também não acho que mereça e não vai ganhar o Oscar de melhor filme. Concordo até com a crítica da Isabela Boscov, vc viu o videocast dela Reinaldo? Ela diz que o filme tem seus méritos, mas é muito "quadradinho". Também achei isso.

    Acho que ele mereça no Oscar apenas atenções a Helena e Firth. Rush também está ótimo, como sempre.

    Um filme que poderia ir mais longe, é bom, emociona um pouco e me faz rir (as cenas de treinamento contra a gagueira). Nada mais. Hooper não ousa como em trabalhos anteriores, se limita. É evidente que o trabalho de Fincher, David O. Russell e Aronofsky são superiores.

    Sei lá, foi tanta expectativa que fiz quando assisti o trailer e li todo o material de imprensa, que quando fui assistir não achei grande coisa. Sem chance para melhor filme em um ano de Cisne Negro, A origem, O Vencedor, Toy Story 3 e sobretudo A Rede Social (que irá ganhar).

    Obviamente que o filme fez bonito em terra britânica, mas em Hollywood, não vamos exagerar.

    Abs.
    Rodrigo, e ótima crítica!

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  7. Rodrigo: It´s pretty much it my friend... em um ano com candidatos tão vistosos, O discurso do rei é de uma palidez assustadora. Ém um bom filme. Isso é inegável, mas não reúne os predicados que o legitimem como um Oscar winner. Principalmente quando mede forças com o primor que é A rede social.
    abs

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