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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Cenas de cinema especial - Globo de ouro 2010

Money rules!
Ficou provado, mais do que nunca, que a voz do povo é a voz dos prêmios. Pelo menos no que concerne ao que se viu ontem no Bevely Hilton hotel em Los Angeles.
Avatar como melhor filme dramático, Se beber não case como melhor comédia, Robert Downey Jr como melhor ator em comédia e Sandra Bullock como melhor atriz dramática foram escolhas que reforçaram algo que já se desconfiava. Se em 2009 os estúdios e o cinema americano arrecadaram fábulas em um ano tão prolífero nas bilheterias, por que não endossar isso em uma noite de celebração?

Será o 3D?
Dizer que Avatar é o melhor filme de 2009 chega a ser cômico. A expectativa pelo sucesso do filme nas premiações é tamanha que o locutor da NBC (canal que transmitiu a cerimônia nos EUA) lançava a pergunta em todo break comercial: “Será que Avatar vai ganhar como melhor filme?”, na despudorada tentativa de manter a audiência sintonizada (um canal concorrente exibia uma importante partida da NFL). Ganhou. E não convenceu. Tarantino sorriu amarelo, Jason Reitman ajeitou os ombros em seu desconforto e Kathryn Bigelow ainda se recuperava da derrota na categoria de direção. Já o bom cinema, espera por 2011.

O Rei dos globos!
E James Cameron, fazendo-se de surpreso, disparou no discurso de agradecimento pelo globo de ouro de direção: “Eu não estava preparado. Pensava que Kathryn ia ganhar esse.”
A declaração, com gosto de politicamente correto, ficou como cortesia a ex-mulher que tinha, notadamente, um trabalho superior e, até aqui mais premiado, do que o rei do mundo.
A HFPA optou por ser conservadora (premiou o candidato mais previsível) e popular (consagrou o diretor que está na boca do povo mesmo).


James Cameron não provocou risos com sua piada do banheiro


Surpresa, surpresa...
Só na TV. Michael C. Hall, que há muito merecia um prêmio por Dexter, levou como melhor ator em drama. A categoria dos coadjuvantes e de atuações para minisséries ou filmes para TV também trouxeram surpresas e oxigenaram uma premiação esquisita e um tantinho desorientada.

Por falar em desorientação...

Diga quando um filme com apenas uma indicação ao prêmio, sagra-se o vencedor de melhor filme? Foi o que aconteceu com Se beber não case. O ótimo filme de Todd Philips prevaleceu na única categoria a qual fora indicado (melhor filme de comédia/musical). O prêmio, que surpreendeu não só ao diretor e elenco como a todos os presentes, reforçou a percepção de que a HFPA resolveu brindar as escolhas do público.

Por falar em desorientação... 2
O Globo de ouro brinca com sua reputação para firmar seu caráter de premiação imprevisível. Críticos de toda parte tinham a indicação de Se beber não case como item de complemento à lista dos 5 concorrentes e uma homenagem àquela que foi a comédia de maior sucesso do ano. Há de se explicar como um filme com 5 indicações (Nine) não consegue superar uma candidatura tão frágil como a de Se beber não case? Se Nine não fazia por merecer esse prêmio, por que teve 5 indicações? E por que Se beber não case não foi lembrado em outras categorias?

Um host que não pegou
Era grande a expectativa pela performance de Rick Gervais. O comediante inglês é bem verdade, foi fiel a seu estilo ácido de fazer humor, mas algo estava deslocado. Embora não houvesse censura, suas piadas não foram muito bem aceitas. Ele não teve espaço suficiente na premiação e acabou diminuído ante pequenas graças de apresentadores e vencedores, como Arnold Schwarzenegger e Robert Downey Jr.


Rick Gervais deve estar pensando: ' Pressure is a bitch'


Um host que não pegou 2
Gervais optou pela virulência. Atacou o alcoolismo de Mel Gibson, pouco antes desse entregar o prêmio de direção para James Cameron, fez graça da intriga de que o Globo de ouro é um prêmio comprado e brincou com o status de promoção marketeira que no fundo toda cerimônia de premiação é. No entanto, suas gags não repercutiram muito bem. E possivelmente no próximo ano o Globo de ouro volta a não ter host.

Piada por piada
O governator Schwarzenegger mandou a melhor. Bobinha, mas totalmente na onda do momento. O ex-ator disse que tinha um acordo com a FOX que metade da bilheteria de Avatar iria para o orçamento da Califórnia. Bobinha, mas provocou mais risos do que todo o repertório de Gervais. Será que é por que ele agora é político?

Com pompa de astro
A segunda melhor piada da noite foi de Robert Downey Jr que disse que não queria agradecer ninguém (por que sem ele ninguém seria nada ali), a não ser sua esposa e produtora, Susan Downey, que disse que ele não precisava se preocupar em preparar um discurso porque Matt Damon iria ganhar. Robert Downey Jr, com seu bom humor característico e uma ironia no ponto certo, soube assim ser surpreendente, sem deixar de ser astro.


Downey Jr empunha seu globo: Genuinamente surpreso ele deu um show de carisma


Estou perdido aqui
Christoph Waltz faturou como melhor coadjuvante por Bastardos inglórios e não escondeu sua felicidade no discurso de agradecimento. O ator também não escondeu seu deslocamento. Acuado em meio há tantos astros e estrelas, refugiou-se em Tarantino: “Você botou o meu planeta em órbita”.

Chuva e Haiti
Tirando o amor da HFPA por Avatar, foram esses temas que pautaram o pré- show e o pós show do Globo de ouro. George Clooney que arregimenta astros, músicos e emissoras de tv para o teleton que organizará na sexta-feira para arrecadar fundos para as vítimas do terremoto no país do Caribe (o canal E talvez transmita para o Brasil), percorria mesa por mesa para conquistar o apoio das celebridades.


Conflito de gerações
Vera Farmiga, quando perguntada por uma repórter no tapete vermelho se demorou em elaborar a química que apresentou com George Clooney em Amor sem escalas, disse: “Não há como não ter química com George”. A mesma repórter perguntaria algo semelhante para Anna Kendrick, a outra atriz que divide a cena com Clooney em Amor sem escalas, ao passo que recebeu a seguinte resposta: “Ele é uma pessoa maravilhosa, mas não consigo pensar nele desse jeito.”



Vera e Anna: O efeito George é diferente para elas


Momento cinéfilo
Linda a homenagem feita a Martin Scorsese. Ele merece. Robert De Niro e Leonardo Di Caprio, os dois atores preferidos de Scorsese, lhe entregaram o prêmio Cecil B. De Mille. De Niro mandou duas frases matadoras: a primeira, “Não gostaria de estar em nenhum lugar que não fosse aqui te homenageando hoje Marty”, e a segunda, “Posso garantir que Cecil B. De Mille ficaria honrado de ganhar o prêmio Martin Scorsese”. Ao passo que DiCaprio emendou: “A parceria que tenho com você, meu mentor, é um dos maiores orgulhos de minha carreira”. Scorsese se emocionou. Aplaudido de pé, aproveitou seu discurso para exaltar sua cinefilia. Está aí, um cineasta que antes de tudo o mais, é cinéfilo.


Underdog
Jeff Bridges não chegou a ser uma surpresa, mas também não era fava contada como nas outras categorias de atuação. Quando levantou para receber seu prêmio pelo cantor decadente de Coração louco, e foi aplaudido veementemente de pé, mandou a bem humorada frase: “Vocês estão acabando com o meu status de desvalorizado”. No agradecimento, Bridges foi generoso com quem o ajudou a chegar naquele palco naquele momento. Cult e querido, o ator assume a dianteira na corrida pelo Oscar. Mais pela carreira do que por seu trabalho propriamente dito. Na fila agora está Julianne Moore, novamente esnobada.

Jeff Bridges que deu uma fungada em Kate Winslet quando foi receber seu globo de ouro posa no pós-show ao lado da atriz


O feel good movie do ano
Samuel L. Jackson falou que Bastardos inglórios foi o feel good movie do ano (forma como filmes família com finais edificantes são conhecidos e denominados nos EUA). A brincadeira pode ter sido uma pista de que o páreo ainda não está decidido a favor de Avatar. Mais tarde Mel Gibson também fez alusão ao filme. “Vamos agora a esses Bastardos inglórios, que são os diretores”. O filme de Tarantino cada vez mais cai no gosto do pessoal certo.

Por que filme eu vou agradecer?
Meryl Streep, duplamente indicada, não sabia exatamente como agradecer seu Globo de ouro. Ela, que venceu por Julie & Julia, meio que se perdeu no agradecimento. A veterana e recordista absoluta de indicações ao Globo de ouro, impressiona público e colegas pela genuína emoção que demonstra toda vez que se levanta para pegar um prêmio. E olha que não são poucas. Em seu discurso teve a humildade de dizer: "Interpretei tantas mulheres extraordinárias que fico com medo de vocês me confundirem com uma". Não há confusão nesse departamento Meryl.


Meryl Streep no palco: Felicidade tem nome
Fotos:Ew e Empire

5 comentários:

  1. Muito bom querido. Também achei Christophe Waltz deslocado no discurso. Logo ele que era o new man da oratória para mim. Confesso que me surpreendi, embora tenha achado lindo o que ele falou para o Tarantino.

    Como você já soube, adorei a homenagem a Scorsese. Fique com muita vontade de assistir Taxi Driver de novo e a última tentação de Cristo... nossa, quanto tempo!

    Beijo

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  2. Neste domingo acabei não vendo a cerimônia. No dia seguinte, ao ler a relação dos vencedores, tomei um susto. Sem coerência nenhuma!

    Como vc definiu mto bem, "o Globo de ouro brinca com sua reputação para firmar seu caráter de premiação imprevisível".

    Não dá mais pra levar esse prêmio a sério.

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  3. Pode discordar, mas Avatar foi merecido! e tenho dito, abração sumido!

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  4. Achei Robert Downey Jr. mais engraçado do que Ricky Gervais naquela ocasião. O segundo é um ótimo comediante, mas ele decepcionou desta vez. Destaques também ficam por conta dos discursos de Meryl Streep, Mo'nique e Martin Scorsese. E ver Michael Giacchino ganhar.

    Beijos! ;)

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  5. Madame: Não me surpreendi com o deslocamento de Waltz.Afinal de contas, tudo aquilo é novo para ele. e ver estrelas de cinema aum palmo donariz deve mesmo ser atordoante. Mesmo para um ator tão distinto. E quanto a Scorsese. Pois é, que momento!

    Diego: Prazer em vê-lo aqui novamente Diego.Fico muito feliz com tua presença! Pois é, essa esquizôfrenia prejudica a premiação e muito. Foi um resultado lástimavel, pq havia bons filmes concorrendo e eles foram pouco lembrados ou não foram lembrados.

    Cris: Sumido nada, to no teu blog direto. Pois é, acho que a premiação de Avatar foi uma das coisas mais injustas, incoerentes e contraditórias dos últimos anos. Mas a vida é essa.Cheia de contradições. Por que o cinema fugiria a regra? ABS

    Mayara: Assino embaixo de todos os seus destaques. Gostei tb do discurso do Jeff Bridges.Por isso destaquei aqui.
    Bjs Ma

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