O homem que entende as mulheres
O cineasta Pedro Almodóvar, que inaugurou a seção perfil deste blog, é um homem de profundo talento. Dono de uma obra extraordinária, e vida de igual compasso, o diretor poderia muito bem receber um segundo perfil em Claquete. No entanto, a multifacetada persona de Almodóvar permite que façamos um recorte sobre sua obra e, assim, preservemos o ineditismo do retrato. Uma das características mais marcantes no cinema de Almodóvar são as mulheres. Tanto a atenção e carinho que ele nutre para com elas, em seus filmes, como com as atrizes com que trabalha. Almodóvar estabelece verdadeiras relações monogâmicas com suas musas. Vez ou outra volta a uma antiga colaboradora, como quem retorna aos braços de uma ex-namorada. Já foram musas de Almodóvar Victoria Abril, Carmen Maura, Julieta Serrano, Cecilia Roth e Penélope Cruz. Esta última é quem atualmente goza do fascínio do cineasta. Almodóvar se encanta com Penélope. Derrete-se em elogios a sua musa. “É bela, hipnótica e maravilhosa atriz. Além de tudo é humilde, não tem noção do talento que tem, tamanha a naturalidade com que atua”, disse no último festival de Cannes, onde Abraços partidos concorreu na competição oficial. O cineasta, que embora tenha tido educação católica, se diz ateu, estabeleceu desde o começo de seu trabalho uma forte conexão com as mulheres. Seus filmes que misturavam elementos de religiosidade e sexualidade sempre assumiam um ponto de vista feminino. Muitos atribuíam isso a homossexualidade do cineasta. Uma bobagem, já que por ser gay, você não deixa de ser homem e não há comprovação científica que isso o aproxime mais das mulheres do que homens que se interessem (sexualmente) por elas. Almodóvar tem é curiosidade aguçada, imaginação e ouvidos. Sem dúvida, essas qualidades foram preponderantes para que mulheres do mundo inteiro elegessem Almodóvar como o melhor cineasta do universo feminino. Apenas agora uma mulher aparece para rivalizar com o diretor. A americana Sophia Coppola, no entanto, ainda tem poucos filmes para fazer frente ao cineasta.
A diretora Nancy Meyers uma vez realizou uma grande brincadeira em Hollywood. Seu filme, Do que as mulheres gostam, trazia Mel Gibson com a habilidade de ouvir os pensamentos femininos, recurso esse, que ele logo descobriu valiosíssimo. Para os homens do lado de cá das telas, com dificuldade de entender os anseios e devaneios do universo feminino, o recomendável é uma intensa maratona Almodóvariana.
Veja também :
O perfil do cineasta
O Almodóvar realmente entende muito bem a alma feminina. Suas personagens são muito bem construídas e são todas mulheres fortes, interessantes, cheias de coisas para oferecer. Suas obras são sempre bem esperadas por mim.
ResponderExcluirNão vi todos os filmes dele. Mas amei todos os que vi. Principalmente "Volver". Tem algo bem junguiano nesse filme: o que não ficou resolvido, acaba voltando.
ResponderExcluirBeijos,
Kamila: Tb adoro Almodóvar. Um cineasta cheio de camadas e que faz uso de toda a sua sensibilidade. Seu cinema é sempre riquíssimo. Tb fico super ansioso por seus novos trabalhos.
ResponderExcluirBjs Ka.
Lella: Oi, Lella, tudo bem? Tb acho que Volver é bem junguiano. Aliás, é clara a intenção terapêutica desse filme, assim como foi seu anterior A má educação. Em ambos almodóvar volta ao seu passado. E fecho com sua brilhante síntese: O que não ficou resolvido, acaba voltando. Almodóvar tentou extirpar suas angústias e traumas no cinema. Será que conseguiu?
Bjs