Na última sexta-feira, 18 de setembro, foi divulgado o filme escolhido pelo ministério da cultura para representar o Brasil na luta por um indicação ao Oscar 2010. Salve geral, de Sérgio Rezende, reproduz o ambiente de terror e caos provocado por uma série de atentados terroristas orquestrados pela facção criminal paulista denominada PCC. Em 2006 eles pararam São Paulo, para que tivessem suas reivindicações atendidas.
Rezende, a partir desse momento de consternação social, mostra o drama de uma mãe (Andréa Beltrão) para libertar seu filho. Ela acaba, por razões que só uma mãe pode entender ( é o argumento do filme), colaborando para que a invasiva do PCC tome forma.
A escolha de Salve geral reforça a sensação de descompasso da produção cinematográfica brasileira e da percepção que temos dela. O júri designado pela ministério da cultural para nomear o representante brasileiro era plural e bastante diverso, do ponto de vista do olhar dispensado ao cinema. Tinha critico de cinema, tinha cineasta, tinha distribuidor, tinha exibidor, enfim era um júri heterogêneo e capaz. Um júri diferente do que escolheu Ônibus 174, de temática muito similar, como o pleiteante brasileiro à maior cerimônia do cinema no ano passado.
cena de ônibus 174: Um filme que recupera vícios da dramaturgia brasileira
Como eles chegaram a esse consenso? Não se desmerece aqui as qualidades de Salve geral. Deve, de fato, ser um filme bom. Contudo, talvez não fosse a melhor escolha. Que o Oscar é um prêmio de indústria é notório, que devemos ajustar nossas expectativas as do mercado, pacífico; contudo, parece cada vez mais robusta, a certeza de que esse comitê responsável pela escolha do candidato brasileiro (todo ano um grupo diferente) tenta realizar um exercício de adivinhação. Considerando fatores tão improváveis como relevância social e o sucesso internacional de fitas similares. Foi por isso que após esnobarem o magnífico Cidade de deus, algo corrigido pela própria acadêmia que contemplou o filme de Meirelles em outras quatro categorias, empurraram Carandiru no ano seguinte.
O Brasil, como qualquer país emergente (econômica e cinematograficamente falando) , tende a cristalizar em sua produção a realidade. O que já gerou muitos debates e criticas construtivas ou meramente virulentas, é um reflexo contumaz de uma produção ainda atrelada a um sistema truculento e superado. A burocracia e o enorme dispêndio de energia desestimulam qualquer inovação nesse campo. Contudo, há artistas se mobilizando contra isso, e isso já pode ser conferido na produção nacional mais recente. Porém, há ainda um ranço demagógico e maniqueísta.
O sucesso de Tropa de Elite, um dos melhores filmes da década de qualquer angulo que se observe, gerou bons frutos e maus frutos. Um aspecto negativo, foi essa nova onda, deflagrada pelo mitificado capitão Nascimento, de permitir à classe média uma catarse generalizada no cinema. Outro, foi capitalizar a violência como um desses "elementos da realidade" que o Brasil tem de redimir nas telas de cinema.
Salve geral integra esse rol. Sem o hype de Tropa de Elite, esse filme não veria a luz do dia. É um filme com uma (falsa) agenda política e social que, a despeito da forma como foi realizado, reúne tudo o que se deve evitar em uma cinematografia viva, pensante e original. Difícil acreditar que a acadêmia de Hollywood irá dar voz a tamanha pequenez.
Outro aspecto que corrobora essa percepção, foi a dificuldade encontrada por José Padilha e Marcos Prado para arranjar financiamento para Tropa de elite 2. Mesmo com a garantia de sucesso, os investidores fugiram. Por que? Ao invés da violência dos morros cariocas, o capitão Nascimento estaria agora as voltas com a corrupção nos altos escalões do poder. Algo que ainda não estamos prontos para expiar nos multiplexes.
capitão Nasimento em ação: Herói e vilão do cinema brasileiro
Fotos: Divulgação
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