Páginas de Claquete

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Euro & Travelling - Viva le blue ( o cinema francês no coração da pauliceia)

O cinema francês é a coqueluche definitiva do cinéfilo paulistano. Nenhuma cinematografia é tão bem adornada por programadores das salas alternativas da cidade como os filmes que vem da terra de Napoleão Bonaparte, Luis XIV e Amelie Poulain. O cinema argentino bem que tenta, mas não consegue arranhar o domínio francês em terras brasileiras. Uma rápida pesquisa demonstra que em São Paulo, há menos lançamentos franceses apenas do que há de estreias brasileiras e americanas. Um feito e tanto para um cinema que começa a projetar por aqui produções mais comerciais como Os nomes do amor e Paris-Manhattan. Além dos lançamentos obrigatórios de gente como François Ozon, Audrey Tautou, Daniel Auteuil e Juliette Binoche. Não à toa, todos tiveram filmes lançados na cidade em 2013.
Cena de A espuma dos dias, de Michel Gondry, atualmente
em cartaz em São Paulo
Essa profusão francesa pode ser percebida sob dois aspectos distintos, mas complementares. O primeiro é de ordem política no fomento da produção cinematográfica. A chamada “exceção cultural” vigora na França há pouco mais de 20 anos e é uma política de reserva de mercado, não apenas para o cinema como para outros objetos da cultura como literatura, teatro e música. Existe uma cota de filmes franceses que devem ser exibidos nas salas de cinema do país e um repasse muito bem regulamentado e auditado de dinheiro público (oriundo de taxação sobre produtos culturais estrangeiros) para o fomento do cinema francês. Vive-se atualmente um momento de apreensão com um possível acordo econômico entre EUA e União Europeia (bloco econômico integrado pela França) que torne ineficaz a “exceção cultural”.  Muitos cineastas europeus, inclusive, já se pronunciaram contra esse possível acordo econômico que praticamente feriria de morte os mercados de cinema europeus em face do poderio da armada hollywoodiana.

Juliette Binoche, estrela da última edição desta coluna, no cartaz de Camille Caludel, 1915, filme que entra em cartaz na cidade na próxima semana: esse será o terceiro longa francês com a atriz no elenco lançado em 2013 nos cinemas paulistanos

Há muita gente que defende reserva de mercado, mas porque nem todos conseguem ser como a França? Porque além da efetividade dos repasses financeiros naquele país, há desprendimento da classe artística em expandir seus limites e criatividade no trato com eles. Há, também, um interesse genuíno em dilatar a percepção que se tem do cinema francês. Vieram da França os primeiros filmes a tratar abertamente da união homossexual sem conferir peso à polêmica. Vêm da França produções esteticamente questionadoras e narrativamente envolventes. O cinema francês tampouco se avexa em importar talentos. Cineastas iranianos, alemães, austríacos, espanhóis e de outras tantas nacionalidades se apropriam da dialética cinematográfica francesa para enriquecer tanto a própria filmografia como o cinema do país que abriga o mais prestigiado festival de cinema do mundo.
São detalhes que somados ensejam um panorama aparentemente simples, mas que exige vontade política, convicção cultural e apetite socioeconômico.
Como um efeito borboleta, medidas que começaram a ser desenhadas quando Collor acabou com a produção de cinema no Brasil refletem em uma competitividade parelha, em termos de interesse segmentado, entre os cinemas produzidos na França e no Brasil na maior metrópole brasileira. Um sintoma disso é que o festival Varilux de cinema francês chegou em 2013 a sua 12ª edição e foi ampliado para mais algumas capitais brasileiras. Esse tipo de ação promocional, patrocinado pelo ministério da cultura francês, demonstra que todo bom time precisa de uma boa gestão para dar certo.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Crítica - Wolverine: imortal

A saga de um Ronin

Wolverine: imortal (The Wolverine, EUA 2013) certamente ainda não é o filme que dá conta de toda a complexidade e carisma do personagem mais controvertido e destacado do universo mutante, mas seguramente se aproxima muito dessa condição. O filme de James Mangold é feliz não só ao situar a trama desse segundo filme solo estrelado pelo mutante canadense no Japão, como por fazer do país, e sua cultura milenar e vocação high tech, elementos essenciais ao desenvolvimento da narrativa. Mais do que isso, Wolverine: imortal é visualmente impactante e recupera em muito a linguagem das HQs, como nas cenas em que Wolvie luta com um capanga da Yakuza no topo de um trem em alta velocidade ou quando entra em um bar, logo no início do filme, em busca de uma justiça que apenas alguém como ele poderia buscar.
Wolverine: imortal se passa pouco tempo depois dos eventos de X-men: o confronto final (2006) e Logan está atormentado pela culpa por ter tido parte fundamental na morte de Jean Grey. Isolado do mundo e tendo pesadelos que se provam cada vez mais perigosos, Logan é localizado por uma emissária de Yashida (Hal Yamanouchi), um soldado japonês a quem Logan salvou na iminência dos bombardeios que selaram a segunda guerra mundial. Yukio (Rila Fukushima) chama Logan para ir a Tóquio para que esse homem, que hoje é um verdadeiro magnata e está às vésperas da morte, possa se despedir. Nada é o que parece ser e uma intriga familiar e o desejo de ascender a eternidade de Yashida colocam Logan no epicentro de uma trama cheia de ação e que nada fica a dever às melhores histórias do mutante nos quadrinhos.
Não obstante, Logan se apaixona por Mariko (Tao Okamoto), neta de Yashida, e se esforça para protegê-la, no que o colocará em face de um perigo ainda maior.

Reencontro: Wolverine: imortal propõe um reencontro de Logan com sua essência e seu propósito

Se Wolverine: imortal tem em seus dois primeiros atos, uma força narrativa sólida e, ainda que sem grande complexidade, bem fundamentada e cativante, seu último ato descamba para um clímax previsível e com cenas de ação banais. Nada que interfira no bom resultado final. Muito em parte porque o filme projeta o retorno do pária que é Wolverine a seus melhores dias. O ronin (um samurai sem honra, sem mestre) finalmente encontrou a paz e foi em um país estrangeiro e nos braços de uma mulher. É uma pegada romântica, em um filme selvagem, que traduz fielmente o espírito do personagem.
Fazer de Wolverine: imortal essa jornada íntima à raiz de sua culpa, e ainda assim um filme de ação apresentável, foi um acerto em muito possível pelo afinco com que Hugh Jackman vive o personagem. Essa sinergia entre realização e um ator tão à vontade na pele de um personagem tão multifacetado e com tanto ainda por ser explorado rendeu um filme que faz crer no futuro de Wolverine no cinema.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Em off

Nesta edição da seção Em off, algumas apostas para o próximo festival de Toronto; o veredicto de Ricardo Darín; um documentário que irá merecer sua atenção e os filmes americanos que prometem polarizar as atenções no ano.

Darín habla...
Em entrevista concedida à edição de julho da Playboy Brasil, o ator argentino Ricardo Darín refletiu sobre sua expressividade no cinema argentino; disse que os Oscars vencidos pelo país pouco repercutiram em matéria de mudanças significativas na produção cinematográfica portenha; avaliou que a Globo, ainda que indiretamente, é prejudicial ao desenvolvimento do cinema brasileiro; disse que Maradona é melhor que Pelé “por coração e sem hipocrisia” e se mostrou entusiasmado com os protestos que ganharam as ruas do Brasil em junho. “Não é preciso muita educação para saber quando se está sendo desrespeitado”, ponderou.

Darín acha que é cultuado no Brasil mais por conta de programadores cinéfilos que "dão vez ao cinema argentino" do que por seus próprios méritos

Ela merece um filme
Malala Yousafzai, a adolescente paquistanesa que sobreviveu a um atentado perpetrado pelo Taliban no Paquistão, será tema do novo documentário de David Guggenheim, vencedor do Oscar em 2007 por Uma verdade inconveniente.
Ela foi atacada por defender o direito de meninas frequentarem escolas. O Taliban havia vetado a presença de meninas nas escolas por entender que esse fato violava mandamentos islâmicos. Ela foi atingida com um tiro na cabeça em outubro de 2012. Na semana retrasada, foi aplaudida de pé em conferência das Nações Unidas em Nova Iorque ao dizer que não irá se silenciar e pedir engajamento da ONU pelo direito à educação.

Os filmes do ano?
Duas produções que há muito tempo já eram comentadas para a Oscar season 2013/2014 ganharam um baita de um impulso por circunstâncias do lado de cá das telas. O primeiro é Fruitvale station, já em cartaz nos EUA, que mostra o último dia da vida de um jovem negro assassinado por policiais em São Francisco no último dia de 2008. Os EUA hoje vivem momento de igual tensão depois que um segurança branco matou, em alegada legítima defesa, um jovem negro desarmado que tomou como elemento suspeito. O segurança foi inocentado em julgamento, mas a comoção nacional segue e o filme segue nas telas.
O outro é The fifth estate, a primeira cinebiografia de Julian Assange a chegar aos cinemas. O filme, marcado para outubro nos EUA, teve seu primeiro trailer revelado há poucos dias e beneficiou-se do zumzumzum que cerca o caso Edward Snowden, ex-agente da NSA que vazou informações de inteligência americana que comprometem o país à medida que lhe imputa acusações de espionagem disseminada. Assange, fundador do Wikileaks, é um dos grandes defensores de Snowden e, principalmente, desse tipo de atitude em relação às grandes potências.







Algumas baladas de Toronto em 2013 – parte I

Can a song save your life?

A estreia do vocalista da banda Maroon 5 no cinema? Um pouco mais do que isso. O novo filme escrito e dirigido por John Carney, cujo crédito anterior é o premiado Once, tem a produção de Judd Apatow e Mark Ruffalo e Keira Knightley como protagonistas. Além de Adam Lavine (o homem que mexe como Jagger), Catherine Keener, Hailee Steinfield e do soul man Cee Lo Green. A trama gira em torno de uma cantora em início de carreira com o coração partido (Knightley) e um produtor musical em descrédito (Ruffalo) que por artimanhas do destino se juntam para fazer boa música.

Dallas buyers club

O filme que fez Matthew McConaughey pesar menos do que Gisele Bündchen e Jared Leto desaparecer como travesti.  Trata-se do novo filme de Jean-Marc Vallée (C.R.A.Z.Y – loucos de amor) sobre os anos iniciais da Aids e a luta que se seguiu para que aqueles contaminados não fossem discriminados e tivessem amplo acesso a tratamentos de saúde.  O filme terá estreia de gala em Toronto.

Dom Hemingway

Jude Law faz um ex-presidiário, boca suja e ladrão de cofres que busca voltar à ativa. O filme de Richard Shepard, do divertidíssimo O matador (2005) com Pierce Brosnan, promete recuperar o viço de Law, ultimamente em baixa no cinema, como leading man.

The disappearance of Eleanor Rigby: him and her

James McAvoy e Jessica Chastain estrelam esse ambicioso projeto que marca a estreia na direção e roteiro de Ned Benson. Um filme dividido em dois tomos que conta uma história de amor a partir de duas perspectivas.

The invisible woman

O segundo filme de Ralph Fiennes na direção. A trama acompanha a longa e duradoura paixão do novelista Charles Dickens (o próprio Fiennes) com a jovem atriz Nelly Ternam (Felicity Jones) e como essa relação afetou o seu trabalho.

Life of crime

O prequel, ou prequela na versão abrasileirada, de Jackie Brown, o melhor filme menor de Quentin Tarantino. Elmore Leonard roteiriza e Daniel Schechter dirige. Mos Def faz um jovem Samuel L. Jackson e John Hawkes um jovem Robert De Niro. Os meliantes sequestram a mulher (Jennifer Aniston) de um executivo de alto escalão (Tim Robbins), mas não esperavam que ele se recusasse a pagar o resgate.

domingo, 28 de julho de 2013

Insight - Os escolhidos dos festivais de Veneza e Toronto em 2013


Foram divulgadas ao longo da semana as programações dos festivais de Toronto, que acontece entre 5 e 15 de setembro, e Veneza, cuja 70ª edição vai de 26 de agosto a 7 de setembro. Quem acompanha Claquete sabe que são dois festivais estratégicos do calendário cinematográfico e que balizam a temporada de premiações do cinema americano. Toronto é a mais concorrida plataforma de lançamento de filmes que almejam fazer bonito no outono do hemisfério norte e Veneza, com o charme e a imponência de ser o festival mais antigo do mundo, é um oásis por si só.
Se Toronto com seus mais de 70 filmes e sem mostra competitiva (há apenas um prêmio do público concedido no fim do evento) volta a impressionar com uma gama de lançamentos do mais alto calibre, Veneza decepciona. Principalmente por se tratar da simbólica marca da 70ª edição do festival, que terá o júri presidido pelo cineasta italiano Bernardo Bertolucci.
Não há grandes nomes em Veneza. Apenas dois vencedores prévios do Leão de Ouro voltam ao lido e um deles fora de competição. Não obstante, a seleção americana – que como dita o recente hábito vem forte com seis títulos – não apresenta candidatos de alto pedigree. O americano mais ansiado é o filme de abertura, Gravity, também fora de competição.

Stephen Frears, cuja última participação em Veneza foi com A rainha em 2006, está de volta com Philomena em ano com boa presença britânica no lido

O que vale é a festa
Veneza prepara uma série de comemorações por seu 70º aniversário e na ausência de uma mostra competitiva de incontestável categoria, promoveu à inédita marca de dois documentários integrarem a seleção oficial. O americano The unknown known: the life and times of Donald Rumsfeld, do premiado Errol Morris de Sob a névoa da Guerra (2003)  e Procedimento operacional padrão (2008),  e o italiano Sacro Gra, de Gianfranco Rosi. O filme de Morris é muito aguardado por se propor a investigar o ex-secretário da defesa dos EUA, Donald Rumsfeld que ocupava o cargo durante o início da guerra no Iraque em 2003.
A mostra competitiva promove ainda o primeiro filme de Xavier Dolan a não debutar em Cannes. Trata-se de Tom at the farm, primeiro roteiro não original de Dolan, sobre um homem que vai visitar a família de seu namorado que faleceu e entra em choque com figuras menos liberais do que ele imaginava. O último italiano a vencer o Leão de ouro volta a disputa com L´intrepido. Gianni Amelio venceu nos anos 90 e junto com Rossi compõe a esquadra italiana no festival.
O vencedor do ano passado, o sul-coreano Kin-ki Duk, volta fora de competição com Moebius, filme que aborda o incesto. Mas talvez seja James Franco o grande destaque de Veneza nesse momento de análise dos nomes e títulos que integram o festival. Depois de aparecer com filmes dirigidos e estrelados por ele em Sundance, Berlim e Cannes, Franco leva à disputa pelo Leão de Ouro Child of God, em que além de dirigir, roteirizar e produzir, atua ao lado de Tim Blake Nelson.  Não obstante, Franco está em Palo Alto, de Gia Coppola, filme adaptado de um conto de sua própria autoria. O filme, que ainda conta com Emma Roberts e Val Kilmer, será exibido na mostra horizontes.
Philippe Garrel, um favorito de longa data em Veneza, volta em 2013 com La jalousie, novamente estrelado por seu filho Louis Garrel e com foco no amor. Dessa vez, Garrel vive um homem que vive com uma mulher e com o filho que teve com outra mulher que ele abandonou.
Amos Gitai, com Ana Arabia, Terry Gilliam, com The zero theorem, e Stephen Frears, com Philomena, são outros diretores festejados no lido que retornam à competição. Seus filmes, no entanto, estão longe de figurar entre os maiores interesses que um festival como Veneza costuma suscitar.
Um filme que suscita alguma curiosidade é Kaze tachinu, do japonês Hayao Miyazaki, adaptação de um mangá.

Expectativa: cartaz do novo filme de Xavier Dolan, o primeiro lançado em um festival que não Cannes 


Franco, na foto ao lado de Gia Coppola, recorde absoluto de presença nos festivais de cinema do ano...


Foram anunciados apenas 19 filmes. Justamente por isso, é possível crer que outro título seja anunciado nos próximos dias para fechar a conta em 20, como é tradição. Selecionar um candidato da América Latina, que passa em branco nos festivais desse ano, seria uma boa notícia.
Pode ser que a seleção de Veneza surpreenda, mas a primeira impressão – principalmente pela proximidade com que a lista de Toronto foi revelada – deixa no ar um sabor amargo de que poderia ser melhor. Depois de dois anos causando impacto mais positivo do que Cannes na ocasião do anúncio de sua seleção oficial, Veneza volta a coadjuvar neste tópico.

Lista completa dos filmes na mostra competitiva
Es-Stouh, de Merzak Allouache (Argélia/FRA)
L'intrepido, de Gianni Amelio (ITA)
Miss Violence, de Alexandros Avranas (GRE)
Tracks, de John Curran (ING/AUS)
Via Castellana Bandiera, de Emma Dante (ITA/SUI/FRA)
Tom at the Farm, de Xavier Dolan (CAN/FRA)
Child of God, de  James Franco (EUA)
Philomena, de Stephen Frears (ING)
La Jalousie, de Philippe Garrel (FRA)
The Zero Theorem, de Terry Gilliam (ING/EUA)
Ana Arabia, de Amos Gitai (ISR/FRA)
Under the Skin, de Jonathan Glazer (ING/EUA)
Joe, de David Gordon Green (EUA)
Die Frau des Polizisten, de Philip Groning (ALE)
Kaze tachinu,  de Hayao Miyazaki (JAP)
The Unknown Known: the Life and Times of Donald Rumsfeld, de Errol Morris (EUA)
Night Moves, de Kelly Reichardt (EUA)
Sacro GRA, de Gianfranco Rosi (ITA)
Jiaoyou, Tsai Ming-liang (TAI/FRA)


Maior e melhor
Toronto é tão diversificado e dotado de lançamentos interessantes que esse Insight não daria conta de medir a temperatura do festival. Justamente por isso, as próximas seções Em off (a primeira já nesta segunda-feira) falarão de alguns destaques do festival que devem se firmar como pautas pelos próximos meses em Claquete, uma vez que vão a Toronto para se credenciar à disputa pelo Oscar 2014.
As sessões de gala, por exemplo, destacam alguns dos filmes-chave da temporada do Oscar como The fifth state, de Bill Condon, 12 years a slave, de Steven McQueen, Rush, de Ron Howard, Labor day, de Jason Reitman, Kill your darlings, de John Krokidas, Mandela: long walk to freedom, de Justin Chadwick, Dallas buyers club, de Jean-Marc Vallée e Life of crime, de Daniel Schechter.
Filmes já consagrados em outros festivais como Don Jon (Sundance) e Le passé e La vie d´Adèle (Cannes) também estão na programação, assim como outros lançamentos de alto gabarito como August: osage county, Cannibal, Devil´s knot, The disappearance of Eleanor Rigby: him and her, Gloria, Prisoners, além de muitos filmes que estarão em Veneza como Night Moves, Gravity, Joe, L'intrepido, Tracks e Philomena.

Cena de Joe, que marca o retorno de Nicolas Cage à Veneza três anos depois de Vício frenético, filme que é um dos que integram também a programação de Toronto


sábado, 27 de julho de 2013

Spotlight on - Música e cinema estreitam a relação em 2013


Que música e cinema sempre foram unha e carne já se sabe, mas esse ano de 2013, na comezinha, está sendo especialmente generoso para a eficácia e harmonia dessa relação tão benéfica a ambas instituições da arte.
Tudo começou com o Oscar de melhor documentário para a Searching for sugar man (EUA/ING 2012) que investiga as raízes de um cantor de folk dado como morto e cujas canções embalaram a luta contra o apartheid na África do sul. O doc é um triunfo em matéria de cinema e renovação da experiência da descoberta musical. Ainda na cena folk, os irmãos Coen rodaram Inside Llewyn Davis, filme que debutou em Cannes e deve chegar aos cinemas no fim do ano, sobre um cantor que não deu certo. A música folk é o norte do filme.
O cinema brasileiro envernizou esse 2013 musical com contribuições luxuosas. Renato Russo, um dos grandes expoentes do rock nacional, protagonizou capítulo central. Um filme sobre seus anos iniciais como cantor (Somos tão jovens) e outro baseado em uma de suas composições mais famosas (Faroeste caboclo) configuraram essa transfusão de criatividade e vitalidade da música para o cinema. Pensar cinema como música e vice-versa é algo de natureza complexa e poética e coube ao diretor Karim Aïnouz vocalizar cinematograficamente essa complexidade poética em O abismo prateado, filme inspirado na música “Olhos nos olhos”, de Chico Buarque.
Mick Jagger, Beatles, Bob Dylan, David Bowie, Beyoncé, Cher e muitos outros se arriscaram no cinema almejando uma extensão de seu repertório artístico ao longo desses anos. Scarlett Johansson, L.L Cool J, Will Smith e outras figuras de igual calibre também se bifurcam entre cinema e música com o intuito de aproveitar esse extraordinário apelo que é agregar esses dois universos.
Muitos filmes e gente de cinema também inspiraram canções ao longo dos anos. O que 2013 sugere a quem se predispuser a olhar atentamente, é que a relação entre cinema e música pode ser mais prolífica, nobre, profunda , entusiasmante e frutífera artística e comercialmente do que crê nossa vã filosofia.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Filme em destaque - Wolverine: imortal


A Fox queria mudar. X-men origens: Wolverine (2009) não chegou a ser um fracasso retumbante nas bilheterias – arrecadou cerca de U$ 373 milhões internacionalmente tendo custado pouco mais de U$ 120 milhões – mas não deixou boa impressão na crítica, na indústria e, principalmente, no público que esperava um filme menos banal sobre a origem de um dos personagens mais complexos do universo mutante.
Com a sequência garantida e o universo X em vias de expansão com X-men: primeira classe que seria lançado em 2011, o estúdio já sabia para onde queria ir: ao Japão. Algumas das melhores sagas com o personagem nas HQs se passam no Oriente e era a manobra certeira para revestir o filme de uma complexidade que inexistia no primeiro filme. Hugh Jackman, que além de ser o astro do longa é produtor associado, sugeriu Darren Aronofsky – com quem havia trabalhado em Fonte da vida (2006) e que estava em alta com a celebração em torno de Cisne negro (2010). Aronofsky aceitou o convite da Fox e a pré-produção foi iniciada em cima do argumento pincelado pelo roteirista Christopher McQuarrie de Os suspeitos e Jack Reacher – o último tiro. Aronofsky e Fox, no entanto, estavam em desacordo quanto aos rumos da trama e como a narrativa deveria se desenvolver. Oficialmente, a renúncia de Aronofsky à direção – que chegou a ser tema da seção Insight à época – se deveu à indisposição do diretor de passar um período dilatado de tempo no Japão, mas Aronofsky, então em um processo de separação de Rachel Weisz, insinuou vez ou outra que não embarcaria no projeto se não detivesse o corte final do filme.
A pressão do estúdio pesou e Hugh Jackman foi buscar em outro versátil diretor com quem já havia trabalhado o abrigo que o personagem precisava. James Mangold, que dirigiu Jackman no romance Kate & Leopold (2001), já comandou comédias de ação como Encontro explosivo (2010) e faroestes como Os indomáveis (2007). Era uma escolha plausível dentro da opção do estúdio de ter um diretor competente e habilidoso em termos narrativos, mas fiel aos tramites de uma superprodução de estúdio.
Mark Bomback e Scott Frank então reescreveram o roteiro aproveitando a espinha dorsal do texto de McQuarrie e Wolverine: imortal, que chega nesta sexta-feira (26) aos cinemas brasileiros, começou a se tornar uma realidade.
 
Ah, as mulheres: boas ou más, elas movem a trama do novo filme estrelado pelo mutante canadense
 
 
Complexidade emocional e inspiração em HQ consagrada
Levar a trama para o Japão fazia parte do projeto de destacar os conflitos emocionais de Logan, totalmente negligenciados no filme de 2009. A inspiração, ainda que não devidamente creditada, é a HQ “Eu, Wolverine”, escrita por Chris Claremont e desenhada por Frank Miller em 1982.
A trama também se resolve como ponte entre a trilogia X-men original e o próximo filme da saga mutante, X-men: days of future past. Nesse contexto, Logan vai ao Japão atormentado pela morte de Jean Grey e se sentindo amaldiçoado por sua imortalidade. Como uma fera acuada, ele é sabotado por uma pessoa que cria lhe querer bem e todos sabem como age Wolverine quando provocado. James Mangold foi buscar referência em uma HQ clássica do herói e esse expediente tem se provado frutífero no universo mutante no cinema. X2 (2003), para muitos o melhor filme da franquia X, também é baseado em uma HQ assinada por Cris Claremont (“O conflito de uma raça”) e o aguardado “encontro de gerações” em X-men: days of future past (2014), por sua vez, é inspirado na saga “Dias de um futuro esquecido”.
A recepção da crítica, de maneira geral, tem sido positiva. Hugh Jackman, em especial, recebe elogios efusivos por sua sexta encarnação do personagem. Sobram elogios para o ator até mesmo de quem não embarcou na onda do filme. O australiano, porém, sabe que carrega o filme nas costas e que esses elogios não vendem ingressos. A maratona promocional de Wolverine: imortal, justamente por isso, beirou a insanidade. Jackman em um espaço de uma semana esteve em países diversos como Coréia do Sul, Japão, Inglaterra, Espanha, e Estados Unidos.
A aposta da Fox no longa é tão alta que a distribuidora nacional apostou até em merchandising na novela das nove. Com os filmes estrelados por super-heróis rendendo seguramente mais de U$ 500 milhões nas bilheterias mundiais, reside em Wolverine imortal a responsabilidade de ser o primeiro filme com gene X a romper essa barreira.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Claquete 4 anos - Os favoritos do editor

Quatro atores

Bradley Cooper

Bradley Cooper era um ator que já tinha minha atenção desde seus primeiros trabalhos como coadjuvante de Jim Carrey e da dupla Owen Wilson e Vince Vaughn, mas ele explodiu junto com o surgimento de Claquete. O primeiro Se beber, não case! revelava um cara mais cool do que se supunha e com força suficiente para ser leading man. Nunca desconfiei de seu potencial e quis o destino que nesses quatro anos de blog, Cooper redesenhasse completamente seu status em Hollywood. A indicação ao Oscar por O lado bom da vida em 2013 é prova definitiva de que meus instintos estavam certos. 

Michael Fassbender

Ele despontou em 2008 com Hunger, mas foi em Bastardos inglórios – um dos melhores filmes do ano de nascença de Claquete – que Fassbender mostrou que além de talento reunia todos os elementos para ser um dos atores mais interessantes do cinema contemporâneo. Seus trabalhos subsequentes em X-men: primeira classe, Shame, Um método perigoso, Jane Eyre e Prometheus foram igualmente hipnóticos. O alemão de ascendência irlandesa é um dos achados do cinema nesses quatro anos de Claquete.

Ryan Gosling

Há um culto a Ryan Gosling por aí. Mas, verdade seja dita, o ator fez por merecer. Nesse espaço de tempo em que Claquete existe, nenhum outro ator foi tão intenso em cena e feliz na escolha de seus projetos. Gosling brilhou nos ótimos Tudo pelo poder, Drive, Namorados para sempre, O lugar onde tudo termina e Amor a toda prova, configurando-se como um dos pilares da cobertura do blog nos últimos anos.

George Clooney

Tudo bem que ele é um de meus atores preferidos, mas Clooney pediu licença a minha predileção e fez por merecer sua vaga aqui. Duas indicações ao Oscar e filmes tão diversos como Amor sem escalas, Os descendentes, Tudo pelo poder, Um homem misterioso e O fantástico Sr. Raposo. Além, é claro de produzir filmes interessantes como Argo. Foi um período prolífico para Clooney que cada vez mais ratifica seu nome como um dos maiores do cinema americano em todos os tempos. 

Quatro atrizes

Rooney Mara

Ela literalmente foi revelada com o blog no ar. Seu primeiro papel no cinema foi no remake de A hora do pesadelo, mas foi David Fincher quem lapidou essa joia do cinema americano. Primeiro em A rede social e depois na versão americana de Os homens que não amavam as mulheres. Agora, com trabalhos agendados com Terrence Malick e Stephen Daldry, e com uma indicação ao Oscar na bagagem, Mara é uma realidade.

Jennifer Lawrence

Esse tesouro Claquete viu crescer. Desde a impressionante atuação em Inverno da alma, que valeu a primeira indicação ao Oscar, Lawrence tem sido alvo constante do blog. E não é para menos. Poucas jovens atrizes combinam um dedo tão bom para escolher projetos com um talento visceral e tão bem encorpado. O Oscar que ganhou esse ano é apenas o começo de sua história.

Carey Mulligan

Outro caso de atriz revelada nos primórdios do blog. Mulligan, no entanto, já soa veterana em 2013. Depois de trabalhar com newcomers originais (Steve McQueen em Shame e Nicolas Winding Refn em Drive), com diretores pop (Baz Luhrmann em O grande Gatsby e Oliver Stone em Wall Street – o dinheiro nunca dorme), a atriz parece mais do que uma aposta certeira do blog.

Meryl Streep

Outro caso de preferência pessoal minha que fez valer sua menção nessa postagem especial. Nesses quatro anos em que existe Claquete, Meryl Streep foi indicada ao Oscar duas vezes, ganhou sua terceira estatueta, e impôs recorde sobre recorde de bilheteria em sua carreira. Além de estrelar nada mais, nada menos do que cinco filmes neste espaço de tempo.


Quatro blockbusters

Sherlock Holmes
Típico filme de férias, o filme de Guy Ritchie não é a oitava maravilha do mundo, mas cumpre a proposta de reinventar o personagem preservando suas principais características.   

X-men: primeira classe
Nenhum blockbuster foi tão longe durante os quatro anos do blog. É de longe o filme mais político e bem fundamentado do cinemão americano recente e uma aventura de encher os olhos.

Os vingadores
É sonho de menino realizado. Pena que o filme não sobrevive à idealização, mas ainda assim é um entretenimento de respeito.

Guerra mundial Z
O filme estrelado por Brad Pitt é de longe o blockbuster mais cativante de 2013, ano em que Claquete completa quatro anos.

Quatro perfis feitos pelo blog
Essa é uma de minhas seções preferidas, embora eu as faça muito pouco. Até para não banalizar a grandeza que é perfilar um nome do cinema. É lógico que precisam ser feitas as ressalvas de um perfil feito à distância, mas sempre procuro afinar o olhar no escopo que faço dos perfilados em Claquete.

Publicado em 20/10/2011
Publicado em 13/04/2011
Publicado em 27/10/2010
Publicado em 27/01/2010

Quatro Tira-teimas
Um olhar sobre as duas grandes turmas da comédia da primeira década dos anos 00.
Publicado em 28/08/2011

O desempenho das duas editoras de HQ nos cinemas
Publicado em 24/04/2011

Dois dos maiores mestres do cinema em um embate crepuscular em Claquete
Publicado em 31/12/2010

As duas beldades que marcam uma das maiores rivalidades não declaradas do mundo das celebridades duelam no blog.
Publicada em 29/05/2010

Quatro Davids

David Fincher
Com dois filmes nesse espaço de quatro anos (A rede social e Os homens que não amavam as mulheres), Fincher continuou cativando com seu cinema cerebral e de perfeição técnica e narrativa.
David Fincher segue como um dos principais realizadores contemporâneos
David Cronenberg
Um método perigoso e Cosmópolis são dois dos melhores filmes que há sobre psicologia e capitalismo respectivamente. Claquete deu a devida ênfase a esses brilhantes trabalhos nesse intervalo de quatro anos de um dos maiores autores do cinema moderno.

David O.Russell
Se houve um diretor que se cacifou no cinema americano nesses quatro anos, esse diretor é David O.Russell. Hoje, um cineasta do mais alto pedigree, o diretor dos excelentes O vencedor e O lado bom da vida – filmes devidamente dimensionados pelo blog – deixou para trás os tempos de diretor estrelinha.

David S.Goyer
Nenhum roteirista teve seu passe mais valorizado que Goyer, responsável por toda a trilogia do cavaleiro das trevas e do novo O homem de aço. Ele também se experimentou na TV e na direção, mas é como o homem forte das superproduções (a Warner já anunciou que se um filme da Liga da justiça for escrito será por ele) que Goyer se resolveu.
Quatro filmes surpreendentes
Aqui eu destaco filmes que não suscitavam as melhores das expectativas em mim ou que até despertavam alguma expectativa, mas que as subverteram completamente se mostrando filmes muitos melhores e bem adensados do que eu supunha.

Guerreiro
Outro filme que eu estava interessado em assistir, mais por se passar no universo do MMA (modalidade esportiva da qual sou fã) do que por qualquer outra razão. Mas o filme é de uma força dramática ímpar com personagens muito bem delineados.
Pôster de Guerreiro, um dos surpreendentes filmes resenhados no blog nesses quatro anos
Os miseráveis
Estava desconfiado com Tom Hooper. O discurso do rei é quadradão e o trailer do filme não me empolgou, mas fui arrebatado no cinema. O filme é de uma profundidade maravilhosa e o elenco está em estado de graça. A direção de Hooper, para queimar mais minha língua, torna Os miseráveis um filme muito melhor.

Arrasta-me para o inferno
Eu já esperava me divertir à beça com esse filme, mas essa volta de Sam Raimi ao terrir é muito melhor do que se poderia imaginar. Não à toa, o filme acabou figurando na minha lista de melhores de 2009.
O Grande Gatsby
Era um dos que desconfiava severamente dessa versão de Baz Luhrmann para o clássico de Fitzgerald. No fundo, queria gostar do filme porque gosto do cinema de exuberâncias do australiano. Mas nem precisei fazer concessões. O grande Gatsby é um filme poderoso e cativante, de maneira muito particular, mas que se impõe como experiência cinematográfica envolvente.

Quatro Insights
Uma análise da linguagem e dos interesses do cineasta iraniano Abbas Kiarostami
Publicada em 25/11/2012

Um olhar sobre filmes que colocam o sexo, e nossa relação com ele, na ordem do dia
Publicada em 25/03/2012

Claquete, dois anos atrás
Publicada em 12/07/2011

Uma análise sobre quem deve postular, de fato, a autoria de uma produção cinematográfica
Publicada em 09/01/2011


Quatro postagens em Claquete que merecem ser descobertas

Uma seção Insight que pretende dar dimensão ao tema
Publicado em 06/06/2010

A extinta seção Ponto crítico ouviu o crítico de cinema Heitor Augusto discorrer sobre a filmografia de Almodóvar por força da estreia de Abraços Partidos em 2009
Publicado em 23/11/2009

Almodóvar: sempre presente em Claquete


Outra seção extinta em um grande momento. Uma ressonância da pobreza da crítica de cinema vigente especialmente na internet
Publicado em 21/06/2011

Os 25 melhores filmes da década: apêndice partes I e II
Duas postagens especiais e complementares que dão um fecho a um dos especiais mais ousados, completos e satisfatórios já feitos pelo blog
Publicado em 22/05/2010

terça-feira, 23 de julho de 2013

Batman e Superman juntos no cinema - os bastidores desse anúncio bombástico

O logo usado pela Warner para fazer o anúncio que marcou a edição 2013 da Comic-Con

Todo mundo foi pego de surpresa quando Zack Snyder e a Diane Nelson (presidente da DC Entertainment, divisão de filmes da DC Comics abrigada na Warner Brothers) anunciaram que O homem de aço 2, que diferentemente do que muitos criam ainda não estava oficialmente confirmado, terá o acréscimo do Batman. O filme será dirigido pelo mesmo Zack Snyder e roteirizado por David S. Goyer, que escreveu junto com Christopher Nolan o roteiro do primeiro filme. Nolan ficará com a produção executiva, cargo mais distante do que o que ocupou em O homem de aço, no qual foi produtor – além de roteirista.
O anúncio bombástico foi acompanhado da confirmação da ascensão do universo DC no cinema. O filme do Flash foi confirmado para 2016 e o da Liga da Justiça para 2017. A confirmação e alocação de O homem de aço 2 em 2015 visa objetivamente rivalizar com a sequência de Os vingadores, já intitulada The avengers: age of ultron, que estreia neste mesmo ano.
Fazer um filme de transição contando com os dois principais personagens da editora é uma boa ideia, mas é também o plano B da Warner/DC. Os executivos do estúdio, e a própria indústria, esperavam que O homem de aço rompesse a barreira do U$ 1 bilhão. Algo conquistado pelos dois últimos filmes estrelados pelo homem morcego e que a Marvel faz crer ser fácil de obter com seus filmes. Aproximando-se do fim de sua carreira nos cinemas, o filme sofre para atingir a marca dos U$ 700 milhões. Seria uma bilheteria estratosférica, não tive custado – sem computar gastos com divulgação – U$ 225 milhões. Outro problema é que a marca de U$ 1 bilhão era estratégica para a consolidação do universo DC no cinema. Mas ela não veio. O que fazer?
Snyder em momento "I´m the fucking man" durante o
anúncio na Comic-Con: Será?
A Warner então pretende fazer um filme tão megalomaníaco como Os vingadores, e anunciá-lo na Comic-Con em San Diego é o tiro certeiro nessa direção, para cacifar o universo DC cujas pavimentações depois de Lanterna verde e O homem de aço estão bem comprometidas. De quebra, é a oportunidade perfeita de reimaginar o Batman depois da épica e sombria conclusão da trilogia de Nolan. Fazê-lo com o objetivo de desenhar o universo DC nos cinemas é algo que importa da Marvel. Os filmes de Nolan tinham lógica e universo próprios.
Assegura-se, portanto, o interesse genuíno na expansão do universo DC, no encontro desses titãs no cinema (e a anunciada inspiração no clássico das HQs “O cavaleiro das trevas” de Frank Miller não é mero acaso) e na propulsão de dois personagens icônicos em momento de reinvenção.
Do ponto de vista do marketing, é uma alternativa justificada e cheia de potencial. Para observadores da indústria, porém, não esconde o sufrágio dos planos iniciais da Warner e da DC. A opção por Zack Snyder para tocar o filme é outro ponto de discussão, que será tema de futura análise no blog, que reforça a desconfiança de que a DC possa se equivaler à Marvel no cinema.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Crítica - O cavaleiro solitário

Tudo errado!

Diferentemente de Guerra mundial Z, eis aqui um projeto cercado por tumultos e desencontros orçamentários que deu errado. É muito fácil, porém, apontar o que conduziu O cavaleiro solitário (The lone ranger, EUA 2013) ao retumbante fracasso que obriga à Disney a engolir o maior prejuízo do verão americano de 2013. O estúdio, a bem da verdade, nunca acreditou no filme. Se Jerry Bruckheimer era um valente defensor da visão do diretor Gore Verbinski, e citava o acerto que foi Piratas do Caribe dez anos atrás como baliza, a Disney não via lá grande potencial na produção que adapta uma série radiofônica dos anos 30 de relativo sucesso e que posteriormente foi parar na tv dos anos 50. Entre idas e vindas, a produção acabou consumindo cerca de U$ 250 milhões e ancorada no carisma em queda de Johnny Depp. Não era o melhor dos inícios.
Filme pronto, O cavaleiro solitário é um produto recheado de excessos e com muita pouca graça. Não funciona nem como matinê, em parte por reproduzir cacoetes da outra série capitaneada pelo trio Bruckheimer/Verbinski/Depp, Piratas do Caribe. Em parte porque a trama, bem rasa, não rende a metragem esticada de 150 minutos. As cenas de ação não são cativantes e o indío Tonto de Johnny Depp parece um rascunho mal ajambrado de Jack Sparrow.
Esses são equívocos que tornam O cavaleiro solitário um engodo difícil de agradar os (poucos) fãs do material original, os fãs de western ou mesmo os fãs dessas matinês típicas de férias.

Pero no mucho: Depp e Hammer não emplacaram a melhor das químicas em um filme de muitos equívocos

John Reid (Armie Hammer) volta da cidade grande formado em direito na expectativa de ajudar a instaurar a lei e a ordem no oeste americano que vivencia momento de grande ebulição com a construção de imperiosas vias ferroviárias. No entanto, seu irmão, um xerife, é morto em uma emboscada que sugere uma grande conspiração pelo poder na região, na qual é estratégico jogar os índios comanche contra os homens brancos. Com a ajuda de Tonto, ele irá perseguir a justiça configurando-se em um fora da lei.
A trama avança em passos lentos, a química entre Hammer e Depp não é tão boa como se poderia supor e Verbinski parece pensar estar fazendo um clássico do western na forma como monta seus quadros, o que aborrece se considerarmos que o tom da narrativa não acompanha essa linguagem visual mais sofisticada.
Enfim, não é o pior filme da temporada – esse título segue firme e forte com Depois da terra de M. Night Shyamalan – mas é um retrato perfeito do que deve ser evitado em uma superprodução de férias. 

domingo, 21 de julho de 2013

Insight - O crepúsculo de Depp



Fazem exatos dez anos que Piratas do Caribe: a maldição do Perola negra aconteceu no cinema contra todos os prognósticos e elevou Johnny Depp de um ator cult e badalado em círculos cinéfilos a um astro do primeiríssimo time de Hollywood.
Depp chegou a ganhar inacreditáveis U$ 50 milhões por sua participação no quarto filme da saga pirata em que assumiu toda a responsabilidade pelo sucesso do filme, sendo o único dos protagonistas do original a retornar. Piratas do Caribe: navegando em águas misteriosas (2011) não decepcionou e ultrapassou a imponente barreira de U$ 1 bilhão em faturamento. Foi o segundo filme da franquia a fazê-lo. O primeiro foi O baú da morte (2006). O ator tem, ainda, outro filme no clube do bilhão. Trata-se de Alice no país das maravilhas (2010), uma de suas numerosas colaborações com Tim Burton.
A posição privilegiada no clube do bilhão, com três filmes, é um dos últimos diamantes que Depp ostenta em sua enferrujada coroa. Precisamente desde Alice, o ator vem sendo cada vez mais questionado por suas escolhas e há quem discuta até mesmo seu talento. Tudo isso porque Depp, para uma horda de críticos cada vez maior, não tem feito outra coisa senão se repetir.
A patrulha com Depp é feroz, mas não lhe falta razão. Depp entrou no piloto automático que grandes intérpretes americanos costumam adotar como assinatura. Marlon Brando e Al Pacino, que trabalharam com Depp antes dele vingar como astro, são casos célebres.
O último filme em que Depp talvez tenha realmente feito um esforço de atuação foi Inimigos públicos (2009). Foram sete filmes desde então. As críticas foram ficando menos simpáticas, ainda que as bilheterias tenham mantido um ritmo próprio. Isso até O cavaleiro solitário. O filme de Gore Verbinski, que além dos três primeiros Piratas do Caribe, rodou Rango (2011) com o ator, é uma tentativa de resgatar o espírito de Piratas do Caribe. Nem tanto por Depp, embora sua caracterização do índio Tonto carregue um qzinho de Jack Sparrow, mas por parte da realização.

Depp na capa da Esquire americana em 1996, "arrasando corações"... 

 ... como Jack Sparrow, seu mais célebre personagem...
... e como o índio Tonto em O cavaleiro solitário, maior fracasso da temporada. O capital de Depp desvalorizou em dez anos

A aposta arriscada, no entanto, pesa mais na conta do ator – o grande nome do cartaz e quem, afinal, escancarou até aos leigos que não consegue se desvencilhar assim tão fácil de seu personagem mais icônico. Al Pacino é Al Pacino em todos os filmes, mas Johnny Depp será Jack Sparrow? A inquietação já gera impaciência. Dos quatro projetos em que o ator está relacionado, dois são sequências. De Piratas e Alice. A ficção científica Trasncendence, que marca a estreia na direção do diretor de fotografia de Chris Nolan, Wally Pfister, é o que pode reconduzir Depp aos bons tempos.
O ator, que mantém o estilo pacato e reservado, parece desinteressado do preocupante rumo que sua carreira tomou. Para alguém que se desafiava tanto até dez anos atrás, Depp parece desestimulado. Acomodado com sua persona midiática. Que é, para o bem e para o mal, Jack Sparrow. A glória de ontem pode ser o infortúnio de amanhã.