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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Claquete repercute - Sexo, mentiras e videotape



O filme começa em uma terapia. É pontual que um filme cujo mote seja o sexo, comece com um de seus personagens principais no divã. Sexo, mentiras e videotape, no entanto, objetiva tirar o sexo das conversas de bastidores. Sacá-lo das entrelinhas e lançá-lo no centro do debate. Ann Bishop Mullany (Andie McDowell) é uma dona de casa aparentemente confortável em seu conservadorismo. Casada, sem filhos, com um diálogo um tanto quanto fissurado com a irmã mais liberal (Laura San Giacomo), ela argumenta com seu analista que entende ser o sexo algo superestimado socialmente. O filme não irá terminar antes que Ann reveja esta assunção. É importante salientar que o sexo e suas reminiscências serão os catalisadores das transformações pelas quais os quatro personagens do filme passarão. John Mullany (Peter Gallagher), marido de Ann, é um advogado que sustenta o clichê do homem moderno bem sucedido. Aquele que apesar do casamento bem resolvido mantém uma amante por esporte. Ocorre que a amante de John é Cyntia (Laura San Giacomo), irmã de Ann. Essa potencial tragédia nunca se impõe em relação aos reais interesses de Soderbergh para com seu quarteto de personagens. O outro elemento dessa equação é Grahan Dalton (James Spader), antigo colega de faculdade de John, que está de passagem pela cidade e traz consigo o incauto hábito de gravar depoimentos de mulheres em fitas de vídeo (falando sobre suas experiências sexuais) para atingir um orgasmo que é incapaz de ostentar de qualquer outra maneira que não assistindo tais fitas.
Não é preciso dizer que Dalton e seu incomum e bastante instigante impulso sexual irão se entrincheirar na vida sexual dos outros três protagonistas. O interessante em Sexo, mentiras e videotape é que as razões desse entrincheiramento são diversas, mas culminam para um mesmo fim. Todos serão transformados pela experiência em níveis não necessariamente associáveis ao sexo, mas pelos quais estão intrinsecamente ligados.
O que Soderbergh produz aqui é uma convincente radiografia de uma sociedade que se divide em dois pólos em termos de sexo: os muito conservadores e os muito liberais. Não deixa de ser salutar, nesse sentido, o resultado obtido pelo cineasta ao confrontar essas duas realidades em seu filme. James Spader, muito premiado por seu desempenho, cria um sujeito assustadoramente franco em meio a um punhado de dissimulados. Ele ser o tipo (a primazia) mais pervertido da fita é um comentário sutil do cineasta sobre o conceito de perversão. Quem é mais pervertido? Aquele que traí a mulher com a irmã dela ou o cara que só consegue um orgasmo ao desfrutar do máximo de intimidade com uma desconhecida?
Sexo, mentiras e videotape é, ainda, um prazeroso exercício de voyeurismo em uma sociedade que cada vez mais parece se alimentar desse fenômeno (vide os reallity shows). Soderbergh não objetivava, certamente, que seu filme duas décadas depois ainda fosse tão eloquente (talvez até mais do que à época de seu lançamento), mas é na ausência desse objetivo que se verifica a premência do registro.

3 comentários:

  1. Você escreveu bem, o filme foi produzido muito antes de virar fato normal as pessoas contarem suas experiências sexuais na tv, em revistas e sites.

    Soderbergh acertou em cheio no tema.

    Abraço

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  2. Reinaldo, preciso ver este filme. Lendo este texto seu, fiquei mais curioso!
    Deve ser muito bom.
    Excelente texto =)

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  3. Hugo: Acertou em cheio mesmo Hugo. Valeu pelo comentário. Grande abraço!

    Alan: Obrigado Alan. Acho que vc vai gostar do filme. Abs

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