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terça-feira, 8 de abril de 2014

Insight - De oitenta a oito, a derrocada de Russell Crowe


Russell Crowe já estava em terras hollywoodianas em 1995, quando foi uma das agradáveis surpresas de Rápida e mortal, filme de Sam Raimi que é cheio delas. Mas o momentum em torno dele só começou dois anos mais tarde, quando foi um tira embrutecido e incorruptível no noir definitivo daquela década, o vencedor de dois Oscars, Los Angeles, cidade proibida.
Russell Crowe seria o astro da virada do milênio. Em O informante (1999), que lhe valeu sua primeira indicação ao Oscar, mostrava que era ator de verdade e não um mimo que Hollywood trouxera da Austrália, ainda que Crowe seja neozelandês de nascença naturalizou-se australiano ainda cedo. No ano seguinte, ascendeu à realeza hollywoodiana com Gladiador, que lhe valeu o Oscar já na segunda indicação. Russell Crowe era bonito, indomável e incrivelmente talentoso. No ano seguinte, emplacou a terceira indicação ao Oscar de melhor ator – feito raríssimo e desde então jamais replicado – por Uma mente brilhante que ganharia, a exemplo de Gladiador, o Oscar de melhor filme.
No início do milênio não era possível desviar o olhar de Russell Crowe.  A excelência era tamanha que mesmo em filmes de ação apenas eficientes, como Prova de vida (em que ele foi o pivô do fim do longevo casamento de Meg Ryan e Dennis Quaid), Crowe trazia muito mais ao papel. Os papéis seguintes ao frisson do Oscar estavam à altura de seu talento. Filmes como A luta pela esperança (2005), Mestre dos mares – o lado mais distante do mundo (2003), Um bom ano (2006) e Os indomáveis (2007) tinham como objetivo provar a versatilidade do então já consolidado astro de primeira grandeza em Hollywood.

 "O próximo Brando", destaca a GQ americana no início da década passada...

 A prestigiada revista Time colocou Russell Crowe na capa da edição que objetivava desvendar como o astro foi de bad boy à principal estrela da meca do cinema

Na capa da Vanity Fair em 2003, "se você quer um filme de sucesso, este é o seu homem"

Mas grandes poderes trazem grandes responsabilidades e Crowe tinha um fantasma bem grande em seu encalço. O sucesso de Gladiador que iria possuí-lo de vez em sua quinta colaboração com o diretor do filme que revitalizou os épicos. Antes de Robin Hood (2011) marcar o início da derrocada de Crowe, ele estrelou bons filmes adultos como O gangster (2007) e Rede de mentiras (2008), ambos de Ridley Scott, e Intrigas de Estado (2009). Ali, Crowe estava confortável no papel de astro, mas a excelência de sete anos antes já desanuviava em tiques de atuação.
Crowe ao lado de Jennifer Connelly na premiere
de Noé:
movimentos estratégicos para revitalizar
uma carreira em decadência
Desde de Robin Hood, para todos os efeitos um "sub-Gladiador", Crowe, é verdade, tem tentado diversificar e já fez cinema independente e até musical. Suas participações em O homem com punhos de ferro (2012), O homem de aço (2013) e Um conto do destino (2014), no entanto, deflagram um abismo tremendo entre os filmes que estrela atualmente e aqueles que estrelava há dez, doze anos. Crowe está mais velho, menos bonito e muito menos disposto a deixar de ser Russell Crowe em seus filmes. Diferentemente de Pacino, De Niro e Nicholson que são sempre eles mesmos nos filmes, o australiano não consegue capitalizar. Os filmes em questão são desinteressantes com ele e não apesar dele. Isso quer dizer que Crowe sendo Crowe não consegue desvencilhar-se da ruindade de seus filmes. Noé, outro épico em que ressuscita a aura de Gladiador, Crowe recebeu mais uma penca de críticas negativas. Trata-se de um projeto calculado para devolvê-lo aos bons dias (o fato de dividir a cena com Jennifer Connelly – sua parceira de Uma mente brilhante não é mera coincidência). Ao invés disso, o filme dirigido por Darren Aronofsky pode significar o fundo do poço para o ator. A boa bilheteria, se confirmadas as expectativas, pode diminuir o peso da ancora que Crowe tem amarrada em seu pescoço. Enquanto não mudar sua postura nos filmes e selecionar projetos “com menos perfil de Russell Crowe”, o ator estará flertando perigosamente com a irrelevância. Maior dos pesadelos para quem há não muito tempo era o rei da cocada preta em Hollywood.

2 comentários:

  1. Acho difícil falar em derrocada de Russell Crowe. Acho que foi uma opção dele diminuir o ritmo da carreira, especialmente depois que ele se casou e teve filhos. Agora, depois da separação, dos filhos mais crescidos, ele está retomando, aos poucos, a sua carreira. E nunca deixou de trabalhar com diretores relevantes.

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  2. Ka, não é uma questão de ritmo, mas sim da qualidade das atuações de Crowe e dos filmes que ele estrela. Em dez anos, é uma queda de nível assustadora. De qualquer forma, essa derrocada ainda está confinada às interpretações, não está objetivamente consumada.
    Beijos

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