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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Oscar Watch 2014 - Cenas de Cinema (as indicações ao Oscar 2014)

No caminho certo
É contumaz falar das omissões e das injustiças do Oscar, mas a cada ano a academia vem se esforçando para menorar essa impressão que – por sua alta carga subjetiva – jamais poderá ser afastada de todo. Em 2014, ao se deparar com a lista dos indicados ao Oscar, a primeira sensação é de que ela é a mais completa, honesta e justa possível. Leonardo DiCaprio, ator contestado nas hostes da academia, recebeu merecidamente sua quarta indicação ao Oscar. Ainda que para tanto, Robert Redford tenha perdido a chance de conquistar sua primeira como ator.
Os filmes que mais chamaram a atenção nesta agitada, e cheia de qualidade, temporada de premiações foram lembrados. Bom senso, bom timing e, acima de tudo, bom julgamento parecem nortear a academia nesta fase da corrida pelo Oscar.



A prova dos nove
Desde que foi implementada essa janela de cinco a dez filmes na categoria de melhor filme em 2010, a categoria foi apresentada com nove filmes. De lá para cá, com quatro edições do Oscar como amostragem, dá para dizer que este é o ano em que há maior número de filmes de melhor nível na disputa. Mesmo assim, o número final de indicados é o mesmo. Esse gosto pelo nove pode ser reflexo direto do método para se aferir os indicados a melhor filme. Para ser indicado, um filme precisa reunir 5% da preferência dos votantes. O gosto da Academia, como se vê, é bem plural, mas não chega à casa dos dígitos.

Pelo segundo ano consecutivo, David O. Russell (à direita) emplacou o darling da corrida pelo Oscar. Trapaça divide a liderança da corrida com Gravidade, ambos com 10 indicações

Sem corridas das oscarizadas
Logo no início do especial Oscar Watch 2014, Claquete atentou para um fato incomum. Esta temporada do Oscar se anunciava como uma corrida de oscarizadas na categoria de melhor atriz. Ainda que tenha ficado com essa cara até os 45 do segundo tempo, não se resolveu dessa maneira e Amy Adams, por Trapaça, infiltrou-se e já começa a fungar no cangote da favorita inconteste Cate Blanchett (Blue Jasmine).

Amy Adams, sob as ordens de Russell, trazendo sexy back para a corrida das atrizes pelo Oscar...

Actors reloaded
Claquete acertou onde 99% de quem se dedica a analisar e antecipar os rumos da corrida pelo Oscar errou. Christian Bale e Leonardo DiCaprio, atores que encontram certa resistência entre muitos membros da academia e que defendem personagens de moral contestável, conseguiram indicações pelos filmes Trapaça e O lobo de Wall Street respectivamente. Mas a categoria deste ano não é redenção apenas para eles. Bruce Dern (Nebraska), Chiwetel Ejiofor (12 anos de escravidão) e Matthew McConaughey (Clube de Compras Dallas), todos em momentos distintos da carreira, são figuras historicamente descompatibilizadas da premiação.
Dern, aos 77 anos, volta a ser indicado ao prêmio. Concorreu uma única vez como coadjuvante em 1979. Bale é único a já ter vencido. Foi em 2011 como coadjuvante por O vencedor.

Outside
Os irmãos Coen, costumeiramente lembrados pela Academia que rapidamente os acolheu como favoritos da casa, acabaram de fora da disputa de 2014. Inside Lyewyn Davis – balada de um homem comum já vinha perdendo força na corrida, mas o fator Coen e o prêmio em Cannes mantinham acesas as esperanças de melhor sorte no Oscar. A tendência de queda se confirmou com apenas duas nomeações, para fotografia e som. Em um ano de fato concorridíssimo, não havia espaço para favoritos da casa.

O cara
O nome é Russell. David O. Russell. Quem é John Ford perto dessa cara? Parece heresia, mas não é. O que David O.Russell vem conquistando na história recente do Oscar não tem precedentes. Pelo segundo ano consecutivo ele emplaca indicações nas quatro categorias de atuação para quatro atores. Antes do ano passado, quando ele conseguiu isso por O lado bom da vida, foram mais de 30 anos sem que isso acontecesse. Não obstante, Russell conseguiu sua terceira indicação ao Oscar em quatro anos. Coisa que só Ford conseguiu e em uma época em o western, gênero em que Ford reinava, imperava no gosto dos acadêmicos. David O. Russell rapidamente se agiganta para se tornar um dos grandes do cinema e do Oscar.

O cara que zoa o outro cara
49 indicações ao Oscar. John Williams ri na cara de David O. Russell assim como ri na cara de qualquer um. O prêmio chama-se Oscar, mas qualquer dia vai ter gente chamando de John Williams. Ah, a indicação foi pela trilha sonora de A menina que roubava livros.

Até onde vai Meryl Streep?
Tinha quem duvidasse, mas Meryl Streep é maior do que Oprah e as indicações ao Oscar desta quinta-feira demonstraram isso. Streep, que muitos duvidavam que conseguisse nomeação em virtude do crescimento de Amy Adams, entrou e Oprah Winfrey, dada como certa entre as coadjuvantes, ficou de fora. É a 18ª indicação de Meryl Streep, recorde absoluto entre intérpretes e adornado ainda por outra marca suprema: indicações em cinco décadas diferentes.

Julia Roberts e Meryl Streep em cena de Álbum de família: ambas indicadas ao Oscar. Julia persegue modestamente a marca de Streep e angaria sua quarta indicação à estatueta e na terceira década distinta.

Até onde vai Jennifer Lawrence?
Talvez ainda seja cedo para chamá-la de próxima Meryl Streep, mas fato é que nem mesmo a original ostenta o recorde que J.Law acaba de constituir. Ninguém jamais foi indicado a três Oscars, e muito menos tendo ganhado um, com 23 anos de idade. Mais: Jennifer Lawrence conseguiu essas três indicações em quatro anos. Quem segura o ímpeto dessa mulher?

Recordar é viver
Tom Hanks foi indicado ao Oscar por um papel de naufrago em 2001 no filme Naufrago. Robert Redford ficou de fora da disputa deste ano defendendo o papel de um naufrago em Até o fim. Já Matthew McConaughey conseguiu sua primeira indicação ao prêmio pelo papel de um aidético que luta contra o sistema em Clube de compras Dallas, papel semelhante ao que deu o primeiro Oscar a Hanks em 1994 por Filadélfia. Hanks que ficou de fora da disputa deste ano por Capitão Phillips, filme no qual faz um capitão que teve seu navio sequestrado. Papel semelhante ao que deu a primeira indicação ao Oscar a Johnny Depp em Piratas do caribe: a maldição do Perola negra...

Tom Hanks em cena de Capitão Phillips: e quem paga o pato sou eu?

Mais Oscar nos próximos dias em Claquete

Quem gosta de acompanhar a temporada de premiações pelo blog não terá do que reclamar nos próximos dias. Além de uma análise preliminar sobre as indicações, serão publicados #oscarfacts – sobre curiosidades da premiação e dos indicados deste ano e outras regalias para o leitor cinéfilo que bate cartão por aqui.

4 comentários:

  1. Concordo com as suas análises. Fiquei mesmo surpreso com a não indicação de Tom Hanks e de Rush, que foi completamente esquecido do Oscar. Gostei da indicação de Vovô sem Vergonha ao Oscar de Maquiagem, e quem diria, Jonah Hill mais uma vez citado. Parabéns pelo espaço. Estou voltando a escrever no meu blog e vou adicionar o seu entre os favoritos. Grande abs.

    www.cinemaniac2008.blogspot.com

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  2. Eu digo que acho assustador essa coleção de Jennifer Lawrence tão nova. Gosto da atriz e acho que ela vai por um ótimo caminho, escolhendo personagens diversos, fugindo do papel fácil da "namoradinha" da América ou algo parecido. Mas, tanta indicação e prêmio no início de carreira podem lhe fazer mal. Tomara que não.

    Fiquei feliz com a indicação de Leonardo DiCaprio que há muito merecia retornar à festa.

    No mais, ótimas análises. Vamos acompanhando.

    bjs

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  3. Realmente você mandou muito bem com a previsão das indicações do Leonardo DiCaprio e do Christian Bale. Não imaginava que isso fosse acontecer. Esnobaram DiCaprio nos últimos sete anos ("Foi Apenas um Sonho", "J. Edgar", "Django") e agora reconheceram justamente seu trabalho no filme mais polêmico. Seria até meio injusto indicarem todo o elenco de "Trapaça" e deixarem Bale de fora. Desconfiava que Tom Hanks seria excluído, só não apostei nisso por causa da ligação dele com a Academia. Parece que agora eles estão votando à sério, levando em consideração as performances, não as amizades.

    Amy Adams ficou com a vaga de Emma Thompson. Emma foi igual Helen Mirren no ano passado, indicada a todos os prêmios pré-Oscar, mas ficou de fora no final das contas.

    A exclusão de Oprah foi justa na minha opinião, ela seria indicada pelo nome e não pela performance, já que o personagem não tem nada demais. Acho que categoria de atriz coadjuvante está perfeita. Compensaram Sally Hawkins pela exclusão em 2009 por "Simplesmente Feliz".

    Fiquei chateado por não terem reconhecido o trabalho do Daniel Brühl em "Rush". Talvez tenha pesado o fato dele não ser coadjuvante e sim co-protagonista.

    Ótima sua análise. Acabou que eu fiz a minha também. hehehe. Espero seus próximos especiais sobre o Oscar. Abraço.

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  4. ThiCarvalho:Tb gostei muito da indicação de Jonah Hill que está sensacional em O lobo de Wall Street. Previa que Rush teria participação pequena, mas como pode ver pelas minhas apostas, pensava que seria convidado para a festa. Não foi
    Abs

    Amanda: Pois é, essa festa toda pode sim ser prejudicial. Vamos acompanhar aqui na nossa distância segura. rsrs. E vamos acompanhar a corrida tb, nessa distância ingrata. rsrs
    bjs

    Anônimo: Primeiro de tudo, muito obrigado pelo seu comentário. Me deixou muito feliz. Adoro quando os leitores se sentem entusiasmados a participar do debate. Tb gostei da Oprah não ter sido indicada. Ela não merecia. Foi uma bo notícia e testemunho de que a Academia, como colegiado, está menos suscetível a fatores "extra campo" por assim dizer. Mas não muito. Afinal de contas, Meryl Streep não merecia tanto assim essa 18ª indicação.
    Fico feliz que esteja empolgado com especial sobre o Oscar aqui no blog. Mas fico feliz mesmo. Isso aqui dá um trabalho danado! rsrs
    Abs

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