O título chama a atenção e, embora não pareça, atrai atenção
para um filme que tem a ambição do tamanho do título que o enuncia. Matheus
Souza é um cineasta jovem que abismou plateias com Apenas o fim, sua estreia
cheia de referências, rodada no campus da faculdade e com coração e esmero
narrativo em compatibilidade insuspeita para alguém que, a bem da verdade,
estava mais se experimentando do que fazendo qualquer outra coisa. Eu não faço
a menor ideia do que tô fazendo com a minha vida (Brasil, 2013) é seu segundo
filme e segundo o próprio é fruto também de uma crise existencial. Em
entrevista à Folha de São Paulo disse que resolveu fazer o filme porque viu que
não havia resolvido o que ia fazer. Se seguiria com o cinema ou ia fazer
nutrição. Souza reparou que essa angústia não era exclusividade sua. Mas
geracional. Daí surgiu a ideia central desse seu segundo longa-metragem.
Esse espírito de desorientação move o filme protagonizado
por Clarice Falcão. Sua personagem, Clara, entra no curso de medicina, mas não
frequenta as aulas. Não sabe se é médica que quer ser. Em uma de suas aventuras
pelo shopping que abriga a faculdade, ela conhece Guilherme (Rodrigo Pandolfo),
que lhe propõe o seguinte desafio: tentar fazer o que supõe que seja o eixo
central de certas profissões e, assim, descobrir sua vocação. Então Clara tenta
construir uma casa na árvore para testar a arquitetura e a engenharia, mentir
(?) para aferir suas habilidades como advogada e por aí vai. Como pode se
observar, a perspectiva mais do que ser jovial é adolescente. Souza não quer
soar pedagógico, ainda que resvale vez ou outra nessa superfície. A narrativa
assume o ponto de vista da personagem, o que é interessante a princípio soa
ingênuo conforme o filme se aproxima de seu desfecho. Não que a opção de Souza
perca fôlego, apenas se demonstra óbvia e a obviedade em um filme com a
proposta de Eu não faço a menor ideia do que tô fazendo com a minha vida é tudo
o que não poderia acontecer; afinal, trata-se de um filme a mimetizar uma
angústia geracional. O desfecho, ainda que soe condescendente com uma geração
que suscita muitas dúvidas e preocupações, preserva certo romantismo na medida
em que demonstra que amadurecer não exatamente é ter a mais concreta e correta
das percepções sobre si e o mundo em que se está inserido. É justamente
desenvolver habilidades para conviver com as imperfeições. As nossas e as dos
outros. Para chegar nesse raciocínio Souza é pouco sutil na construção dos
personagens e de seus conflitos, mas compensa com mais um belo manancial de
referências à cultura pop e ao cinema em geral.
Em termos de filmografia, se Eu não faço a menor ideia do
que tô fazendo com a minha vida é menos satisfatório do que Apenas o fim, é,
também, contextualmente mais poroso e complexo. Portanto, se não provou ser o
cineasta que pensa ser, ou mesmo quer ser, provou que nutrição não é uma
alternativa que deva perseguir por hora. Se o cinema faz bem a Matheus Souza,
ele ainda pode fazer muito bem cinema e bem ao cinema.
É, confesso que fugi desse e você só confirma minhas suspeitas, mas quem sabe um dia eu ainda confira...
ResponderExcluirbjs
Pois é Amanda. Não é o pior dos mundos, mas...
ResponderExcluirbjs