Acostumou-se falar mal da Hollywood Foreign Press
Association (HFPA), que distribui anualmente os prêmios Globo de Ouro, mas
algumas das deturpações que caracterizam o prêmio são fruto de artimanhas
marqueteiras de produtores. Esse tipo de situação, que de certa forma conta com
a leniência da HFPA, gerou uma situação muito peculiar na disputa pelo globo de
ouro de melhor filme em comédia e musical. Todos são “comédias dramáticas”,
essa variação moderna em que a comédia é, antes de qualquer outra coisa, um
drama nem tão disfarçado assim. Ela e Nebraska flertam com o agridoce, enquanto
que O lobo de Wall Street e Inside Llweyn Davis – balada de um homem comum,
investem no humor negro como reforço ao drama do universo que retratam; as
loucuras de Wall Street nos anos 90 e o fracasso de um cantor na emergente cena
folk americana. Álbum de família tem sarcasmo, mas entrou na categoria porque o
produtor Harvey Weinstein achou que dava mais jogo.
Essas coincidências tornam a disputa entre as comédias muito
mais interessante do que a que ocorre entre os dramas. Trapaça, novo de David
O. Russell, ainda fecha o quinteto. O filme de Russell, favorito no segmento
das comédias, lidera a corrida pelo Globo de Ouro ao lado de 12 anos de
escravidão, com sete nomeações.
O novo filme do diretor de Shame, que antes dos primeiros
prêmios da crítica era apontado como virtual vencedor do Oscar, é o favorito
entre os dramas, mas Gravidade e Capitão Phillips, com indicações consistentes,
não podem ser desprezados. A inclusão de Philomena, pequeno filme inglês de
Stephen Frears, surpreendeu conseguindo uma vaga entre os indicados a melhor
drama. A presença de Rush- no limite da emoção surpreendeu alguns, mas não é
surpreendente de forma alguma. O filme de Ron Howard é, de fato, um dos
melhores do ano, mas não tem força para ir além dessa distinção. Deve ser
incluso entre os indicados ao Oscar e fazer o mesmo tipo de figuração que fará
no Globo de ouro.
Entre as surpresas, a total exclusão de O mordomo da Casa
Branca, filme que vinha com um bom hype nessa fase pré-corrida, chama a
atenção, assim como o pouco espaço concedido a O lobo de Wall Street. Nem
o roteiro, nem Scorsese foram indicados, mas isso não quer dizer muita coisa em
termos de Oscar.
Apesar da presença de Leonardo DiCaprio entre os atores de
comédia, a briga por melhor ator deve ficar entre Bruce Dern (Nebraska) e
Joaquim Phoenix (Ela). Com um recentemente premiado Christian Bale (Trapaça)-
por O vencedor em 2011- correndo por fora.
Amy Adams, parceria de elenco de Bale, surge como favorita
entre as atrizes, mas é uma categoria relativamente imprevisível. Em parte
porque tem Meryl Streep e em parte porque as demais concorrentes não defendem
filmes bem contemplados pela HFPA.
Do lado dramático, parece ser o ano de Matthew McConaughey
(Dallas buyers club). O veterano Robert Redford (All is lost), porém, é uma
ameaça real. Na briga entre os coadjuvantes, Jared Leto, companheiro de cena de
McConaughey, surge como o nome a ser batido, mas Bradley Cooper (Trapaça) e o
surpreendente Barkhad Abi (Capitão Phillips) não podem ser descartados.
David O. Russell deve ganhar o prêmio de roteiro ou de
direção, com maiores chances de faturar o primeiro, abrindo caminho para que a
HFPA premie Alexander Payne (Nebraska), um favorito do coração, ou Alfonso
Cuarón (Gravidade), que elevou o patamar do ofício de dirigir em 2013.
A disputa por filme estrangeiro deve se concentrar entre o
dinamarquês a A caça, um dos filmes mais completos e pungentes dos últimos
anos, e o hypado Azul é a cor mais quente, com leve favoritismo para o segundo.
Difícil pensar que a combinação Mandela e U2 não renderá o Globo de ouro para o
filme Mandela: long walk to freedom, pela canção "Ordinary love".
Nenhum comentário:
Postar um comentário