Rimando tensão e conflito emocional
Hugh Jackman no início do ano, em plena campanha pelo Oscar
(ao qual concorreu pelo filme Os miseráveis) disse que estava muito orgulhoso
de produzir um filme que seria lançado no próximo outono do hemisfério norte. O
filme em questão era Os suspeitos (Prisoners, EUA 2013), dirigido pelo
canadense Denis Villeneuve. Trata-se de um drama familiar poderoso com fortes
cargas de suspense e uma trama de mistério a tonificá-lo. Por qualquer ângulo
que se observe, Os suspeitos (mais uma tradução infeliz da distribuição
nacional para o muito mais elusivo e subliminar “prisioneiros” do original) é
bom cinema. Ostenta narrativa de fôlego invejável, técnica bem urdida e um
elenco afiadíssimo. Mas o filme tem outros trunfos. Enseja um debate que não se
esgota com o fim da sessão.
Um almoço de Ação de Graças entre vizinhos dá início a uma
corrida ao inferno quando as filhas pequenas dos casais vividos por Hugh
Jackman e Maria Bello e Terrence Howard e Viola Davis são sequestradas, à luz
do dia, e na rua de suas residências. A partir desse elemento detonador,
Villeneuve acompanha tanto a investigação policial que tenta descobrir o
paradeiro das meninas como a desintegração psicológica, emocional e moral do
personagem de Jackman – um pai desesperado para achar sua filha.
Gyllenhaal e Jackman: atuações acima da média |
Há, logo de partida, um suspeito. Paul Dano, ator de grandes
predicados, faz um sujeito estranho que depois se descobre ter o QI de uma
criança de dez anos, que estava estacionado com um trailer próximo ao local em
que as meninas desapareceram. A suspeita parece infundada à medida que a
investigação avança, mas o personagem de Jackman segue impassível na sua crença
de que aquele homem sabe mais do que diz.
O material promocional do filme já mostra que limites serão cruzados e Jackman e
Villeneuve, como dois artesãos do imponderável, constroem tensão única à medida
que a irrigam com um conflito emocional multifacetado. Quando o certo se
divorcia do justo? Quais os limites morais que um pai de família deve
respeitar? A discussão tão propalada em torno de A hora mais escura (para citar
outro filme concorrente ao Oscar 2013) surge muito mais inteira, vigorosa e
aprofundada em Os suspeitos. Em parte porque tenciona o espectador a produzir
um juízo de valor a respeito do que vê e lhe incomoda com a constatação de que
aquele drama lhe é factível; enquanto que torturar afegãos em uma prisão
secreta no Oriente Médio não.
A maneira como Villeneuve envolve sua plateia, tanto no
drama do personagem de Jackman, como nos bastidores da investigação policial
representada na figura de Jake Gyllenhaal, é vistosa. Mas não esconde alguns
problemas da fita. Apesar de a investigação ter suas curvas, o saldo final dela
é relativamente previsível. A trama policial, portanto, se revela elemento
fragilizador de Os suspeitos enquanto cinema da mais alta qualidade. É um
defeito potencializado pelo clímax com algumas reviravoltas mal desenvolvidas
textualmente. Ainda que o final, a essa altura mais pragmático do que qualquer
coisa, seja brilhante em sua irresolução e evite a sensação de decepção que se
avizinhava.
Pois é, como você já ponderou concordamos no todo. O filme nos envolve de uma maneira bastante competente, mas falha nas explicações do terceiro ato. Ainda assim, não mancha o impacto final e todas as reflexões a que nos leva. Interessante sua comparação com A Hora Mais Escura.
ResponderExcluirbjs
Obrigado Amanda.
ResponderExcluirBjs