Enquanto se avizinha a próxima temporada do Oscar, já se
deflagra uma expectativa nos bastidores para quem acompanha com intimidade,
profissionalismo, paixão e reflexão o cinema como um todo.
Os principais pleiteantes ao Oscar nessa fase pré-corrida, em
comum, têm uma característica de lidar e abordar, de alguma maneira,
circunstâncias de crise. Seja ela existencial, como nos casos de Gravidade – em
que uma mulher abalada com a morte da filha precisa lutar para sobreviver na
imensidão do espaço, 12 years a slave – em que um homem livre é sequestrado e
vendido como escravo, Blue Jasmine – em que uma ex-rica precisa se adaptar à
vida de pobre, Álbum de família – sobre dificuldades familiares embaladas por
uma doença fatal; ou crises de fundo mais sociológico como em O lobo de Wall
Street, em que
Martin Scorsese investiga os porões dos anos 90 em busca dos
frangalhos da geração yuppie.
Cate Blanchett como uma mulher que precisa se reinventar em Blue Jasmine: cinema de crise é cinema cheio de oportunidades |
Esse cinema de crise saiu fortalecido da última edição do
festival de Veneza. Como já discutido anteriormente em Claquete, o documentário
Sacro GRA é um filme que fala implicitamente da crise econômica que afeta com
requintes de crueldade o país e, sua consagração em Veneza, sinaliza para a
crise da qual o cinema de arte precisa se deslocar. Mas não é só o cinema de
arte que está encapsulado nessa crise. O cinemão, como demonstrou a última
temporada do verão americano, também está em crise. Executivos
estão encomendando estudos e análises para saber que diabos os (poucos, mas
expressivos) sucessos e (muitos) fracassos da temporada significam.
Como se vê, há crise por todos os cantos. De Woody Allen a
Martin Scorsese, passando pelo novo de Spike Jonze (Her)em que um homem se apaixona
pela voz de seu computador – uma versão mais robusta do Siri. “É sobre a nossa
necessidade de se conectar. É sobre solidão, também”, disse Spike Jonze para
uma atenta plateia no último festival de Toronto.
Para um filme ser dramaticamente eficiente é necessário que
haja um conflito, mas a convergência de filmes que abordam crise e que são,
eles mesmos, representações dessa crise (como o vencedor de Veneza) extrapola
os limites da coincidência. Esse recorte ainda deverá ser mais explorado, até
porque não há garantias formais de que a corrida pelo Oscar tomará as formas
que neste momento se imagina. A tendência de se falar de crise não é
essencialmente nova. Já teve seus ciclos ao longo da história do cinema. Mas
como em toda crise há oportunidades, muita coisa boa pode estar a caminho.
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