...e os deuses eram mortais!
A Fórmula 1 já não é a mesma e você não precisaria assistir Rush
- no limite da emoção (Rush, EUA 2013) para tomar ciência disso, mas a certeza
surge irretratável findada a sessão do novo e eletrizante filme de Ron
Howard, vencedor do Oscar por Uma mente brilhante. Na segunda colaboração com o
roteirista Peter Morgan (a primeira foi no não menos primoroso Frost/Nixon), o
diretor adentra o circo da Fórmula 1 para mostrar os bastidores de uma das
rivalidades mais cativantes e lendárias do esporte entre o inglês James Hunt
(Chris Hemsworth) e o austríaco Niki Lauda (Daniel Brühl).
Rodado com extrema perícia técnica e ritmo narrativo, Rush –
no limite da emoção recupera o glamour da Fórmula 1 enquanto esporte a
mobilizar paixões e, em paralelo, enseja elaborado estudo de personagens
diametralmente opostos no tocante à postura e personalidade, mas irmanados nos
objetivos e ideais.
Howard é hábil em deixar o bom texto de Morgan dosar o
desenvolvimento da narrativa, que cobre praticamente uma década, e é ainda mais
perspicaz ao aferir às cenas de corrida a logística das transmissões
televisivas, expediente semelhante ao adotado por David O. Russell em O
vencedor (2010). Rush é um filme muito bem fotografado naquilo que tem de
particular, ressaltando o excelente trabalho de direção de arte.
No comando de tudo isso, Howard parece interessado em
negritar o antagonismo crescente entre essas duas figuras que só enxergavam a
grandeza em seus destinos.
Prontos para triunfar ou morrer: os códigos do western servem ao propósito de Howard de sublinhar os alcances de uma "simples" rivalidade entre pilotos
Chris Hemsworth tem a oportunidade de mostrar viço dramático
na pele do inconsequente Hunt. O ator não precisa de muito para esbanjar
carisma, mas quando exigido dramaticamente entrega o que a cena pede. E Rush
exige muito de Hemsworth que precisa revelar um personagem cheio de vaidades,
defeitos e ainda assim atraente ao olhar da audiência. É preciso um ator seguro
para dar conta de um personagem tão complexo e que, a rigor, não detém o
protagonismo da fita. Daniel Brühl, por sua vez, demora a achar o compasso
certo de seu Lauda. O sotaque soa forçado no início e o tom caricatural
demonstra todo o desconforto que tanto caracterizou Lauda em seu início na
Fórmula 1. Mas é justamente trabalhando nessa ideia de desconforto que Brühl
vai em um crescente até atingir seus melhores momentos no filme, no grande
clímax da fita e deu seu personagem, por força do acidente no grande prêmio da
Alemanha na temporada de 1976, que seria vencida por Hunt.
Se não toma partidos, Rush oferta a lógica do western no
ambiente da Fórmula 1. Ideia que fica clara quando Hunt nocauteia um repórter
depois dele ter feito uma pergunta desrespeitosa a seu arqui-rival em uma
entrevista coletiva. O que move Rush em
termos de dramaturgia não é necessariamente a ideia de desmistificar seus
biografados, ainda que resvale na mortalidade dos mitos, mas de observar que a
ideia de antagonismo não torna apenas o esportista melhor, mas também o homem.
Quiçá o mito. Ao apresentar esses dois homens como aventureiros destemidos que
desenvolveram profundo respeito e admiração entre si, Howard trabalha com
códigos típicos do gênero do western para revigorar o mitológico universo da
Fórmula 1. Este que já não é o mesmo, mas que Rush oferece um vislumbre de seu
glorioso passado.
Verdade, Reinaldo, é um filme empolgante que não nos devolve apenas o verdadeiro espírito esportivo, como a própria paixão pela Fórmula 1 que se tornou mais e mais burocrática e previsível. Um dos filmes mais empolgantes dos últimos tempos.
ResponderExcluirbjs
Um baita filme, muito emocionante!
ResponderExcluirNão estava com tanta vontade de assistir Rush, mas depois de sua crítica me bateu uma vontade agora. Howard fez envelhecer O Código Da Vinci, mas voltou com força no Frost/Nixon. Parece que aqui, também. Verei.
ResponderExcluir*ah, parecer ser beeeeem diferente daquela fita com Stallone, "Alta velocidade"! rs
Abs.
Deve ser muito bom... verei...
ResponderExcluirAmanda: E disse tudo!
ResponderExcluirbjs
Anônimo: Baita filme msm!
Rodrigo Mendes: rsrs, é bem diferente de qualquer coisa com Stallone, rsrs. Vale apena Rô. Vc vai gostar!
Abs
Danilo: Veja. Vale a pena. É cinema de grande qualidade!
Abs