“On the line”
Uma das maiores queixas que vitima Os estagiários (The
internship, EUA 2013) é o fato do filme ser uma “propaganda do Google”. Não há
a menor intenção de se disfarçar esse fato, mas se incomodar com isso é não ter
espírito esportivo. Os estagiários não é, afinal, o primeiro filme a fazer
propaganda de algo, especialmente em Hollywood. Além do mais, o Google é objeto de
interesse e curiosidade em todo o mundo e a produção que tem Shawn Levy (A
pantera cor de rosa e Uma noite no museu) na direção não pretende exatamente
ser o “próximo A rede social”.
É mais pertinente se incomodar com o esquematismo do
roteiro, assinado por Vince Vaughn e Jared Stern, do que com o intuito da obra
ser um veículo promocional do Google que, a bem da verdade, não precisa deste
tipo de promoção.
Vince Vaughn e Owen Wilson voltam a se reunir depois do
acachapante sucesso de Penetras bons de bico e a sombra da produção de 2005
pode ser percebida na produção. Seja no interesse romântico de Owen, no fato
dos protagonistas serem “corpos estranhos” em um dado ambiente, ou mesmo na
lógica de amadurecimento dos personagens – algo dispensável no conflito motriz
do filme.
Além de buscar emular, por vezes conscientemente e tantas
outras de maneira inconsciente, Penetras bons de bico, Os estagiários padece da
falta de “googleness”, fator decisivo para que os estagiários conquistem uma
vaga efetiva no google na dinâmica a qual os protagonistas meio que de
paraquedas são inseridos. Não há um público específico para o filme. Há pouca
graça para adolescentes que já cansaram de ver pais, tios e avós penarem com a
falta de intimidade com as novas tecnologias e tendências e o anacronismo em si, pelo menos
no tangente aos novos tempos digitais, já não suscita tanta graça. Uma
alternativa para aferir alguma dignidade narrativa a Os estagiários é vê-lo
como mais um expoente da crise, tanta econômica como dos novos tempos, do qual
gigantes da tecnologia como o Google fazem parte. Nesse sentido, o filme é um
achado. Tanto por mostrar que o analógico jamais desaparecerá por completo das
experiências intra-profissionais como por mostrar que a selva capitalista está
mais selvagem do que nunca.
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