Jogo de espelhos na cultura de celebridades
Novo filme de Sofia Coppola, baseado em eventos reais, expande o interesse de seu cinema pela fama e suas reminiscências encorporando glamour, crítica e o lado B da geração Y
“Eu acho que Los Angeles é o centro da cultura americana
atualmente por causa de todos esses reality shows, como o “Kardashians”, que
são filmados em Hollywood e Los Angeles. E a cultura do tapete vermelho se
tornou muito influente em todo o país”, diz Sofia Coppola sobre a influência e
ambiente de seu novo filme, Bling ring – a gangue de Hollywood que estreia
nesta sexta-feira nos cinemas brasileiros. “Essa história só poderia se dar
aqui”.
Após ler a reportagem de Nancy Jo Sales (“Os suspeitos
vestiam Louboutins”) na revista Vanity Fair, Sofia Coppola encontrou o filme
que sucederia o êxito parcial de crítica e vencedor no Festival de Cinema de
Veneza Um lugar qualquer.
A reportagem dava conta de mostrar os jovens que invadiram e
furtaram as mansões de celebridades como Orlando Bloom, Paris Hilton, Rachel
Bilson, Lindsay Lohan entre outras. “Quando comecei nisso (no roteiro), Nancy me deu suas
transcrições das entrevistas com os jovens reais. Eu não podia acreditar em
algumas coisas que eles haviam dito, aquilo revelava muito sobre eles, seus
objetivos e nossa cultura. Eu meio que deixei minha imaginação ir a partir
dali”, disse no material divulgado à imprensa pela distribuidora brasileira.
Sofia conta que colocou no filme muito do “que lembra do que
é ter essa idade” em referência ao fato dos protagonistas serem adolescentes
deslumbrados com a fama.
“Estou sempre falando de pessoas que lidam com a fama como
um fardo”, pontua em entrevista ao jornal O Globo. “No caso de Bling ring, falo
disso, mas quis avançar na forma de tratar o tema a partir do discurso corrente
dos personagens que se movimentam e pensam via internet. Minha narrativa parece
uma sucessão de spams com vários fatos corriqueiros saltando”.
Trash chic: deslumbramento pela fama, juventude, ociosidade e glamour se confundem no novo filme da diretora de Encontros e desencontros
Osmose
A escalação do elenco era ponto nevrálgico para as
pretensões de Coppola em relação ao filme. “Era muito importante achar pessoas
autênticas realmente dessa idade, porque sempre me incomoda ver atores de 25
anos vivendo adolescentes”, explica a filha de Francis Ford Coppola.
Emma Watson, o nome mais conhecido do elenco, vive Nicki,
uma piriguete. “Eu tive que fazer coisas que como eu mesma, Emma, jamais faria.
É divertido explorar um lado diferente de si mesma por meio de um personagem”,
expõe a atriz que aos poucos vai deixando a bruxinha Hermione da franquia Harry
Potter para trás.
O que chama a atenção é que Coppola, mesmo que
inadvertidamente, acabou por escalar para viver esses jovens obcecados pela
fama um punhado de intérpretes que já tem alguma ideia desse universo. Taissa
Farmiga, que vive Sam, a irmã adotiva de Nicki, é irmã da atriz Vera Farmiga e
já atuou, por exemplo, na série de tv American Horror Story. Claire
Julien, que vive Chloe, é filha do diretor de fotografia Wally Pfister. Ela
conta que não houve dificuldade em entrar na personagem. “Muitas pessoas me dizem
que eu fui uma boa escolha para fazer a personagem e eu concordo até certo
ponto. Eu não faria coisas que Chloe fez, nem faria as mesmas escolhas que ela,
mas eu posso ver semelhanças. Temos senso de humor parecido, o mesmo gosto
musical e usamos o mesmo tipo de linguagem”.
O principal personagem da trama, no entanto, é Mark – vivido
pelo ator estreante Israel Broussard. “Creio que Sofia queria que Mark fosse o
coração da história. Há algo que inspira compaixão nele”, diz o ator que vive o
único menino da trupe e que, novo na escola, vive às voltas com a indefinição
de sua sexualidade.
A busca por veracidade no registro é tanta que Paris Hilton,
uma das celebridades lesadas pelo The bling ring, surge como ela mesma no filme
e abre as portas de sua mansão para que o filme de Coppola possa se confundir
uma vez mais com o real.
Emma e Sofia na premiere em Cannes |
“Meu amigo Stephen Dorff (protagonista de Um lugar qualquer)
me chamou e disse que Sofia queria falar sobre algo comigo”, relembra Paris.
“Ela me falou sobre esse projeto. E é claro que eu sei muito sobre a história
verdadeira porque eu estava envolvida na vida real, então eu estava muito
excitada em atender ao chamado dela e fazer parte disso. Eu realmente estava
nas boates com essas garotas que estavam usando vestidos que roubaram do meu armário
na minha frente e eu não tinha ideia.”
Como parte da preparação para o longa, os atores tiveram que
assistir horas de realities como “Pretty wild”, The simple life” e programas
como “The hills”.
Lançado na mostra Um certo olhar do último festival de
Cannes, Bling ring – a gangue de Hollywood foi recebido de maneira positiva
pela grande maioria da crítica e saudado como uma bem- vinda mudança de tom de Sofia
Coppola, ainda que seus interesses característicos estejam todos lá. “Eu acho
que há uma mistura de glamour e crítica no filme; mas no fim isso vai dar ao
público algo sobre o que pensar”, finaliza Coppola sobre sua mais recente
empreitada cinematográfica.
Ótimo artigo, Reinaldo. E a "piriguete" da Emma Watson está muito bem, rs.
ResponderExcluirbjs
Amanda: Obrigado Amanda. Emma é boa atriz. Se quiser, vai muito longe!
ResponderExcluirbjs
Estou muito a fim de ver esse filme. Vi poucos da Sophia Coppola mas sempre admiro o feeling que ela tem para escolher boas histórias.
ResponderExcluirExcelente matéria. ótimo poder ler um trecho do depoimento de Paris. rs rs ela tem tanta roupa que realmente não sacou que as ladras estavam com uma delas na festa que frequentou. Hilário.
ResponderExcluirAliás, achei o filme ótimo. Sofia acerta mais uma vez.
Abs.
Aline: E o filme é muito bom Aline. Acho que vc vai gostar.
ResponderExcluirBjs
Rodrigo Mendes: rsrs. Pois é! Paris Hilton tem espírito esportivo, quem diria?! Tb gostei do filme. Detectei avanço significativo no cinema de Sofia, coisa que não necessariamente vinha acontecendo antes. Obrigado pelo elogio!
Abs