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domingo, 23 de junho de 2013

James Gandolfini - Sutileza e grandiloquência em um só registro



Morreu, de um súbito ataque cardíaco na última quarta-feira (19), aos 51 anos, o ator americano James Gandolfini. Mais conhecido pelo icônico personagem Tony Soprano, o patriarca mafioso da série "The Sopranos" da HBO, Gandolfini construiu uma bela carreira no cinema. Sempre à sombra de sua encarnação mais famosa, o ator viveu célebres foras da lei, mas também deu vida a figuras que emanavam poder como o chefe da CIA no recente A hora mais escura.
O primeiro papel de destaque no cinema foi há exatos 20 anos como um gangster em Amor à queima roupa de Tony Scott. O último papel de Gandolfini no cinema que lhe proveu certo momentum foi em O homem da máfia (2012), em que dividiu a cena pela segunda vez com Brad Pitt - a outra havia sido como um impagável matador de aluguel gay e sensível em A mexicana (2000). Há, ainda, três filmes estrelados por Gandolfini a serem lançados no Brasil: Violet & Daisy, estilizada estreia de Geoffrey Fletcher (roteirista de Preciosa), The incredible Burt Wonderstone, comédia estrelada por Jim Carrey e Steve Carell, e Not fade away, drama que marca a estreia na direção de cinema do criador de "The sopranos", David Chase.
Gandolfini ensaiava um retorno à HBO e estava em meio ao desenvolvimento de duas séries à época de sua morte.
Esses projetos dizem muito sobre a condução de sua carreira. Atenção especial ao cinema independente, gosto por personagens sombrios e total ausência de medo em assumir papéis coadjuvantes em produções bem gabaritadas. Em sua última entrevista ao The New York Times, em 2010, lamentou o fato de não ser convidado para fazer comédias – já havia revelado ótimo timing cômico tanto em "The sopranos" como em filmes como A mexicana e Sobrevivendo ao natal (2004) – o que talvez justifique sua presença no elenco do filme que reúne Carrey e Carrell depois de Todo poderoso (2003).


De cima para baixo no sentido horário: como o receoso chefe da CIA em A hora mais escura; como um matador "do bem" ao lado de Julia Roberts em A mexicana; ao lado da famiglia em "The Sopranos"; com Kristen Stewart no independente Corações perdidos e reeditando a parceria com Brad Pitt em O homem da máfia 

Força transgressora em cena
Não há como falar da representatividade de Tony Soprano na cena cultural americana, e de sua importância para a deflagração de personagens ambíguos e complexos tanta na tv como no cinema americano contemporâneo, sem destacar a forte, minuciosa e multifacetada interpretação de Gandolfini ao longo das seis temporadas do programa. O ator aliava sutileza à grandiloquência em um termostato de atuação que apenas os grandes são capazes de atingir. Tony Soprano era um tubarão em seu meio, mas Gandolfini sabia destacar a todo momento sua fragilidade emocional. Um acerto que aferiu longevidade ao programa e ao personagem.
Gandolfini era corpulento, não exatamente bonito, mas bastante viril. A ascendência italiana e essas características lhe impunham certos papéis, mas ele ia buscar oxigênio no teatro. Estrelou ao lado de Jeff Daniels uma festejada versão de "Deus da carnificina" na Broadway. Também marcou presença em outras peças menos celebradas.
Não rejeitava exatamente a sombra que Tony Soprano projetou em sua carreira, mas sabia desvencilhar-se dela com a mesma força transgressora que revestia seu personagem mais famoso.
Uma perda repentina, com a devida cota do imponderável, para o cinema, no eixo geral, e para a cultura americana, em particular.

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