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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Euro & Travelling

Itália efervescente


A Itália atravessa crise política ímpar em sua história. A esquizofrenia do país que parece incapaz de assumir uma proposta de futuro e se encontra às voltas com o retorno do contestado Silvio Berlusconi ao poder, no entanto, fomenta um reencontro do cinema italiano com seu vigor. Em 2013, por exemplo, alguns dos melhores lançamentos nos cinemas brasileiros são produções italianas. Em fevereiro foi lançado o vencedor do Urso de ouro César deve morrer, de Paolo Taviani e Vittorio Taviani, uma poderosa crônica shakespeariana sobre poder e corrupção que estreita os limites da representação ao acompanhar a montagem da peça Júlio César por um grupo de presidiários. O filme aposta em uma linguagem nova, arejada e nebula os limites entre ficção, documentário e arte – em um recorte mais profundo.
Neste fim de semana, estreou nas salas de cinema do país Reality- a grande ilusão, mais recente filme de Matteo Garrone, que já havia impressionado com o tenso Gomorra de 2008. Reality, que debutou e foi premado no festival de Cannes 2012, mostra um homem que se transforma completamente a partir do momento em que se candidata a participar de um reality show. Como nota curiosa, vale constatar que o protagonista desse misto de comédia e drama assinado por Garrone também é um assassino condenado (o agora ator Aniello Arena), o que estabelece uma nova dinâmica para a apropriação da arte.
Mais do que qualquer outra coisa, Reality mostra que diretores dessa nova geração italiana não estão presos a um gênero ou a uma mesma proposta estética. Mas ainda são os cineastas de maior rodagem que representam o pico do cinema italiano no momento. Nanni Moretti, ainda é a maior expressão de um cineasta de primeira grandeza do país desde Federico Fellini. Há dois anos, lançou Habemus papam, filme sob muitos aspectos insidioso de uma crise no seio da igreja católica que muitos, mesmo depois da renúncia de Bento XVI, ainda ignoram. Antes disso, em 2006, havia brindado o público com uma sátira política à figura de Berlusconi com O crocodilo, filme que a atual conjuntura política italiana traz à atualidade.
Outro cineasta que dispensa apresentações é Marco Bellocchio. O cineasta de 74 anos, terá os seus dois últimos filmes em exibição em São Paulo neste próximo mês de maio. O principal deles, A bela que dorme, é também um olhar sobre essa Itália em crise de identidade ao acompanhar múltiplos personagens e suas posições a respeito da eutanásia. Irmãs jamais (2010), já em cartaz, é outra bifurcação entre documentário e ficção, dessa vez com o doce tempero do recorte biográfico, já que além do elenco conta com membros da família do cineasta e o filme é resultado de workshops que Bellocchio conduziu por anos em sua cidade natal. A família (italiana?) é o foco da narrativa fragmentada.

O cineasta Marco Bellocchio no set de A bela que dorme: vitalidade e inquietação artística que iluminam o cinema italiano contemporâneo

Outro cineasta com lançamento programado para as telas brasileiras ainda no primeiro semestre é Gabriele Muccino, diretor que fez boa transição para o cinema americano com fitas como À procura da felicidade estrelado por Will Smith. Beije-me outra vez é mais existencial e menos político, marca de seu cinema. Mas é também demonstração dessa efervescência do cinema italiano que não está tão adormecido como se pensava. 

2 comentários:

  1. O cinema italiano é muito efervescente, além de ser uma referência para outras cinematografias, incluindo a norte-americana. Incrível como eles sempre se renovam, sempre revelam bons diretores e atores. Sempre fico de olho nas obras italianas que estão sendo lançadas. Parabéns pelo texto.

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  2. Obrigado pelo elogio Ka. O cinema italiano, que constantemente é apontado com um dos mais frágeis da Europa, mostra nesses últimos dois anos que está bem forte...
    bjs

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