É interessante observar a relação de cineastas consagrados
em gêneros diversos – majoritariamente no drama – com o cinema de horror. A
incursão tende a ser benéfica ao gênero, mas ruidosa nos bastidores. Walter
Salles falou poucas e boas de sua experiência ao dirigir Água negra, um filme
de horror que busca amparo na comparação com a fase sessentista de Roman
Polanski. Acontece mais ou menos a mesma coisa com Jim Sheridan, de filmes como
Meu pé esquerdo e Em nome do pai, e sua estreia no gênero com A casa dos sonhos
(Dream house, EUA 2011). Ficou famosa no metiê cinematográfico a briga entre o
diretor e o estúdio em virtude da insatisfação do primeiro com o final do
filme. Como Sheridan, por contrato, não detinha o corte final ele exigiu que
seu nome fosse retirado dos créditos. O que não aconteceu.
Desentendimentos à parte, A casa dos sonhos é um filme muito
melhor que essa contenda de bastidores faz crer. E ter Sheridan, um diretor
habilidoso no desenho dos personagens, torna A casa dos sonhos um estranho no
ninho do filmes de terror modernos.
Estamos na seara do horror psicológico, muito mais
instigante e propício ao exercício do medo e apreensão. Will Atenton (Daniel
Craig) é um editor que se demite para passar mais tempo com a família na nova
casa que adquiriram em um bairro aparentemente tranquilo e, também, escrever um
livro para o qual já assegurou contrato.
A relação com a mulher (Rachel Weisz) e as filhas não
poderia estar melhor. A harmonia familiar sofre um baque quando eles descobrem
que a casa para a qual se mudaram foi palco de um múltiplo assassinato em que
morreram mãe e filhas e o pai, que enlouqueceu, é o principal suspeito. A
partir daí, A casa dos sonhos sofre um giro de 180º em seu plot e o que parece
desarranjado a princípio logo passa a fazer muito sentido. Sheridan deixa as
pistas para a montagem do quebra-cabeça nos lugares certos.
O desfecho, no entanto, realmente parece descolado da
construção ornamentada até então por Sheridan a partir do texto de David
Loucka. É como se as peças fornecidas por Sheridan e Loucka levassem a um final
mais ambíguo, menos concreto. É perceptível a imposição do estúdio quanto ao
desfecho do filme. O estúdio quis montar o quebra-cabeça, enquanto que Sheridan
preferia que o público o fizesse. Com a liberdade de suas interpretações.
Essa intervenção francamente prejudicial, no entanto, não
fere de morte o filme – ainda que o apequene sem dúvida alguma.
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