O tipo de filme que o Brasil precisa...
Uma história de amor e fúria (Brasil 2013) é um filme
corajoso na proposta, estética e narrativa, e também na maneira como aborda o
Brasil, sendo figura de uma cinematografia que por anos se tornou refém da
necessidade de explicar, ou traduzir, o país. A estreia na direção de Luiz
Bolognesi é imaginativa, educativa, criativa e mimetiza, na forma e no
conteúdo, aquilo que o cinema brasileiro tem potencial de alcançar, mas esbarra
em vícios de mercado.
Bolognesi realiza uma animação que lhe provê a liberdade de
apresentar um filme histórico que se bifurca em ficção científica emendada em
um drama político de cores fortes. É um feito e tanto para um filme
surpreendentemente curto, com cerca de 75 minutos.
Se há um porém em Uma história de amor e fúria é a percepção
de que o roteiro poderia ser mais bem explorado. O filme poderia render mais.
Pensar mais. Mas é preciso ter em mente que tirar um projeto como esse do papel
em uma realidade como a do audiovisual brasileiro não é fácil. Portanto, é
preciso alguma condescendência nesse aspecto. Justamente por
isso, o trabalho de Bolognesi é notável. Ele “explica” o Brasil sem ser
professoral. Realiza um filme tão divertido quanto educativo e adentra com
propriedade ímpar a cena da ficção científica, tão esquecida pelo cinema brasileiro.
Ainda que haja um lastro esquerdista no filme, que está mais lá para aferir
sentido ao pathos do personagem principal (voz de Selton Mello) do que como um
ponto de vista fechado da realização, Uma história de amor e fúria concatena
memória e imaginação de uma maneira inédita no cinema nacional.
O Rio como elite econômica mundial: o episódio futurista de Uma história de amor e fúria é um deleite
O sistema, figura tão demonizada em produções como Tropa de
elite, aqui ganha uma roupagem mais cristalina e existencial na figura de
Anhangá (o mal na crença dos índios tupinambá). A primeira encarnação do herói
defendido por Mello se dá como um índio dessa tribo em meio à colonização
portuguesa no Brasil. Cabe a ele, ao longo de seiscentos anos, investir contra
Anhangá, que seria responsável pelas injustiças do mundo, e zelar por seu amor,
Janaína (voz de Camila Pitanga). A figura de Janaína é, também, um lembrete de
que lado se deve ficar. O lado do amor é sempre o lado pródigo, ainda que não
seja o lado mais forte. É dessa mistura tão bem amaciada entre inquietação
política, espiritismo, fé, resistência e brasilidade que Uma história de amor e
fúria se articula.
Nas outras passagens do filme, testemunhamos a revolução
conhecida como balaiada nos idos do século XIX, a guerrilha contra a ditadura
militar no século XX e um futuro pós-apocalíptico no século XXI em que a água é
escassa.
Não é um filme perfeito. Nem mesmo flerta com a excelência.
Contudo, é suficientemente oxigenado para arejar a produção cinematográfica
nacional à medida que aponta um caminho a ser seguido.
Concordo com você que filmes como "Uma História de Amor e Fúria" é justamente o que o cinema brasileiro precisa, justamente por se tratar de uma proposta diferente do que costumamos fazer. Só assim para nosso cinema evoluir e tentar chegar no nível de um cinema argentino, por exemplo. Espero ter a chance de assistir a este filme, que ainda não estreou em minha cidade.
ResponderExcluirÉ isso mesmo, Reinaldo, um filme corajoso que merece ser aplaudido por isso, tem mesmo seus problemas, parece que perde o fôlego no decorrer da jornada, poderia ser melhor explorado, poderia ser mais longo até. Mas, não deixa de chamar a atenção uma iniciativa assim;
ResponderExcluirbjs
Kamila: Espero que vc possa ver o filme logo.
ResponderExcluirBjs
Amanda:É vero!
Bjs
Fiquei com mais vontade de assistir. É curioso e diferente, com relação as produções nacionais, desde o início. Deixei passar na estreia.
ResponderExcluirBelíssimo texto. Sem mais.
Abs.
Rodrigo Mendes: Poxa, obrigado pelo prestígio. Fico sempre muito feliz quando vc, o Cássio, a Amanda ou a Kamila aferem esse peso às críticas que escrevo. Valeu mesmo!
ResponderExcluirAbs
Assisti e é verdadeiramente bom!
ResponderExcluirEu não esperava muito do filme por ser brasileiro que na maioria das vezes segue a mesma temática, mas esse me surpreendeu! Nunca vi um filme nacional que aborda um tema desses.
A Capa e o nome do filme não despertaram minha curiosidade de assistir, só quis vê-lo depois de saber que era uma animação. Valeu à pena!
O filme denota muito a profundidade dos mangas em termos estórico, e com a estética dos cartoons "desenhos norte americanos", mas acho que a falta de frame prejudica um pouco a qualidade do filme e o roteiro não é lá essas coisas, no mais este filme esta no caminho certo, ficou muito feliz por um filme genuinamente brasileiro.
ResponderExcluir