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terça-feira, 23 de abril de 2013

Crítica - Oblivion


Ficção científica cascuda

Não é de hoje que Tom Cruise gosta de patrocinar cineastas jovens e promissores, mas corre o risco de a História imputar ao astro a descoberta de Joseph Kosinski. Para todos os efeitos, o diretor de Tron – o legado (2010) estreia, de fato, com essa ficção científica que concilia referências que vão de 2001: uma odisseia no espaço a Blade Runner – o caçador de androides, dois ícones do gênero, passando por substanciais franquias como Mad Max, Matrix, entre outros.
Oblivion (EUA 2012) é, por força de definição, uma ficção científica cascuda. Daquelas que não deve agradar espectadores ocasionais. É preciso ter “formação” no gênero para apreciar a contento o filme que alia visual arrebatador a uma trama francamente engenhosa na fusão de referências com que trabalha. Kosinski, diferentemente do que se esperaria de um diretor que sobeja tanto na linguagem visual, arquiteta a narrativa de Oblivion com o ritmo necessário que um filme tão ambicioso e reverente pede. É um acerto que o torna, a despeito da presença de Tom Cruise, um filme de gueto.
Cruise, aliás, demonstra desenvoltura na ficção científica nessa sua primeira incursão sem a tutela do amigo Steven Spielberg, com quem rodou Minority Report – a nova lei (2002) e Guerra dos mundos (2005).

Clean até certo ponto: Oblivion fala de um mundo distópico em que tecnologia e passado se contrapõem e a história de amor que surge no filme desempenha papel fundamental nesse confronto...

O desenvolvimento do roteiro recebe a mesma atenção que recebe o visual arrojado da Terra deserta do pós-guerra em que uma espécie alienígena, ainda que derrotada, obrigou os humanos a viverem fora da órbita terrestre. É essa a explicação inicial que o personagem de Cruise, Jack, responsável pela manutenção de drones que patrulham o planeta, oferta em suas divagações existenciais de quem se ressente de abandonar o planeta. Essa missão, que divide ao lado de sua namorada (Andrea Riseborough), está para acabar e eles irão, finalmente, se juntar aos outros humanos.
Mas as coisas não são exatamente o que parecem ser. E o que aparentemente é um acidente envolvendo uma cápsula espacial se torna o grande ponto de partida para uma tomada de consciência pelo personagem de Cruise.
Se Oblivion não tem a força narrativa ou a pujança reflexiva de alguns dos filmes no qual busca abrigo, é bem sucedido em propor um novo conceito, passível de muitas reverberações, no cinema. Adaptado de uma graphic novel de autoria do próprio Kosinski, Oblivion se subscreve como mais uma prova do campo prolífero que é a ficção científica para a investigação da essência humana. É, também, o testemunho de que Tom Cruise, além de se manter em dia como astro de apelo, continua matador como produtor. Kosinski tem um futuro danado pela frente.

7 comentários:

  1. Gostei de sua análise Reinaldo. Interessante este híbrido, os filmes que você cita e que influenciaram Oblivion me deixa ainda mais curioso para conferir. Deixei passar devido a outros filmes até mais imperdíveis.

    Acho o trabalho do Kosinski interessante em Tron: O Legado. Tudo bem que a premissa não é inteligente como clama o gênero, mas por outro lado faz uso original do visual. Fotografia, efeito 3D, tudo é de encher os olhos e o efeito ainda funciona (sem contar a trilha sonora).

    Tom Cruise é um produtor astuto até mesmo quando faz filmes que não chegam a ser sucessos absolutos de crítica e público. Já me habituei com ele em filmes de ação, ao menos fugiu muito bem da fatal consequência de ser astro de filmes românticos por ser bonito, aliás, ele sempre evitou isso. Graças ao Spielberg ele deu muito certo na ficção-científica. Sou fã de Minority Report!

    É para se ver primeiro no cinema pelo visto.

    Abs.

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  2. Joseph Kosinski é um diretor que tem jeito para a ficção científica. Visualmente, "Oblivion" é uma maravilha de filme. Uma obra muito bem concebida do ponto de vista artístico. Porém, infelizmente, o roteiro confuso do longa acaba prejudicando-o um pouco.

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  3. Tom Cruise é mesmo um cara a ser admirado, ele consegue se reinventar e se manter no topo da indústria, não é fácil, ainda mais com as críticas que sofreu no início de carreira.

    Quanto a Oblivion é isso que você fala, um emaranhado de referências bem costuradas. O que poderia ser uma falta de identidade, acaba trazendo um prazer extra. Ah, e eu destacaria Wall-E nas suas citações, tem muito dele, hehehe.

    bjs

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  4. Rodrigo Mendes: Adoro "Minority report", para mim legítimo representante do top 5 de Spielberg. Mas vejo muitos problemas em "Guerra dos mundos", embora seja bacanão. "Oblivion" é uma boa surpresa Rodrigo. Vai por mim!
    Abs

    Kamila: Não vejo confusão no roteiro Ka. Talvez o excesso de referências convulsione um pouco alguém não tão familiarizado com o universo da ficção científica, mas concordo com sua avaliação a respeito de Kosinski.
    bjs

    Amanda:Não sei se "Wall-E" é uma referência do filme ou nossa Amanda. De qualquer forma, o diálogo entre os filmes é inegável.
    Bjs

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  5. Eu gostei de "Oblivion", mas permita-me discordar um pouco de você, Reinaldo.
    Eu já acho que os que têm maior "formação" no cinema do gênero, vão identificar a falta de personalidade do filme, que copia (ou toma como inspiração efusivamente) outros grandes exemplares da ficção científica. Alguém não tão "informado" pode curtir muito mais o filme, eu acredito.
    Agora, Tom Cruise segura o filme mesmo. Tá muito bem, mas Riseborough é quem rouba as cenas! =)

    Abs!

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  6. Elton: Claro que pode discordar. Vc tem autoridade em cinema para isso! rsrs. Mas realmente há um ponto forte de discordância aqui. Diferentemente dos filmes em que se referencia, "Oblivion" não pretende propor uma "revolução" no gênero. Creio ser uma ficção cascuda como nomei no título. Não acho que com essas referências todas, e um ritmo mais lento do que Tron - por exemplo - seja o tipo de filme que agradará um público médio e não iniciado em ficção científica. Mas é apenas uma percepção.
    Abs

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  7. Também acho "Guerra Dos Mundos" irregular Reinaldo.
    Abraço!

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