Alan J. Pakula é daqueles cineastas que tergiversam com
habilidade ímpar por variados gêneros. São dele filmes tão pungentes e
significativos como Todos os homens do presidente, A escolha de Sofia, Inimigo
íntimo e O dossiê pelicano. Jogos de adultos (Consenting adults, EUA 1992) não
ostenta o mesmo status desses filmes, mas é um suspense de primeira linha sobre o
choque entre desejo e amoralidade.
Kevin Kline é Richard Parker, um compositor frustrado que
escreve jingles para propaganda. Casado com Priscilla (Mary Elizabeth
Mastrantonio) é um típico figurante da classe média e morador dos arborizados
subúrbios americanos. Com a chegada dos novos vizinhos Eddy e Kay Ottis (Kevin
Spacey e Rebecca Miller), uma aproximação algo desajeitada se ensaia. Eddy, que
se anuncia como consultor financeiro, transborda carisma e parece ser aquele sujeito
experimentado que não costuma se retrair perante algo que lhe desperta
curiosidade. Richard e Priscilla atiçam essa curiosidade. Rico, divertido e
atencioso, Eddy é o sonho que Richard não conseguiu viver e Kay, que passa a
ser cobiçada por Richard em escala que extrapola a discrição, parte indesviável
desse sonho. Eddy, que parece se regozijar dessa situação, enseja então uma
troca de casais. Como era de se esperar pela descrição dos personagens, Richard
refuga a princípio, mas invariavelmente cede.
Jogos de adultos, então, se transforma em um intrincado
policial em que o público se posiciona conhecedor de mais peças do tabuleiro do
que o protagonista, mas não o suficiente para antecipar o desfecho do jogo.
Pakula articula muitíssimo bem a transição de drama com
reminiscências existenciais para um suspense policial fortuito sobre alpinismo
social e idiossincrasias conjugais.
O roteiro de Matthew Chapman é ligeiro e se alimenta bem de
elipses para manter o espectador atento à sucessão de pistas e ao
desenvolvimento da ação. O filme começa como uma investigação algo caprichosa e
parcimoniosa de dois casais bastante diferentes entre si, mas atraídos
justamente pelo olhar refletido nos olhos do outro e se resolve como um
suspense, que mesmo 20 anos depois, consegue ser surpreendente.
Kevin Spacey, aqui ainda um ator dando os seus primeiros
passos em Hollywood, apresenta toda aquela virulência de ironia que caracteriza
seus tipos mais perversos e sedutores. Kevin Kline convence como o homem
diminuído por sua condição financeira e que constantemente impõe barreiras a
seus desejos.
Parece interessante, principalmente porque gosto bastante do trabalho de Kevin Spacey.
ResponderExcluirbjs
O filme é bom Amanda. Mas o olhar experimentado no gênero pode diminuir a satisfação.
ResponderExcluirbjs