O plano geral
Lincoln, com sete indicações, confirma no Globo de Ouro o
favoritismo que já havia deixado transparecer no curso da vigente temporada de
premiações. Django livre e Argo, com cinco nomeações cada,
compõem o triunvirato de preferências dramáticas da HFPA para 2012. O
entusiasmo com o novo longa de Tarantino talvez seja circunstancial e não
chegue ao Oscar. De maneira geral, a associação de jornalistas estrangeiros apostou
na corrente dos filmes que já geravam algum burburinho e evitou a ousadia. Essa
opção pôde se verificar inclusive no segmento de TV, onde geralmente há mais
experimentação por parte da HFPA. Há poucas novidades e a maioria, vejam só, já
testadas pelo Emmy, caso de Girls. A grande surpresa ficou pela esnobada
completamente injustificada em Mad men em seu quinto e melhor ano.
A cota do 3D
Nos últimos quatro anos, o 3D brilhou entre os premiados no
Globo de ouro. Ok, apenas Avatar faturou o prêmio de melhor filme, mas desde
então apenas David Fincher (A rede social) ganhou o troféu de direção por um
filme não rodado em 3D. Ano passado, Martin Scorsese ganhou seu terceiro Globo
de ouro por A invenção de Hugo Cabret, rodado em 3D. Neste ano, Ang Lee por As
aventuras de Pi, carrega a tocha do 3D entre os diretores indicados. Mais do
que a academia, que ainda não outorgou seu Oscar a nenhum diretor por um
trabalho em 3D, a HFPA parece entusiasmada com essa ideia de grandes diretores
a frente do 3D.
Uma categoria em crise
Já não é de hoje que a categoria de melhor filme em comédia
e musical suscita apreensão. É nela que surgem as famigeradas bombas de
constrangimento que a HFPA lança vez ou outra. Se não houve nenhuma bomba em
2012, houve um consciente (?) movimento para reduzir a importância da
categoria. Isso porque dois dos filmes mais festejados da temporada, incluídos
na disputa, não renderam indicações para seus diretores (Tom Hooper por Os
miseráveis e David O. Russell por O lado bom da vida), Moonrise kingdom, outro
filme bastante comentado, recebeu indicação solitária na categoria com aquela
pecha de “para completar a lista”, e dois filmes francamente inadequados a uma
seleção de melhores do ano tiveram vez: Amor impossível e O exótico Hotel
Marigold. Os filmes, inclusive, receberam outras indicações, o que só aumenta a
hesitação a respeito dos critérios que orientam a categoria. Muitas boas
comédias, como o campeão de bilheteria Ted, se viram de fora da premiação.
Aliás...
Não custa conjecturar se a exclusão absolutamente
injustificável da comédia mais brilhante e inteligente do ano do Globo de Ouro
não seria uma forma de não dar palco para o anfitrião do Oscar, Seth
MacFarlane, diretor e roteirista de Ted?
Outras comédias rasgadas como Se beber, não case (2009) chegaram
a vencer o Globo de Ouro. Fica a dúvida...
Para a HFPA, o hilário Ted não é uma das melhores comédias do ano...
Vingança é um prato que se come frio
E já que o assunto são as entrelinhas, e Robert De Niro,
hein? Louvado por sua atuação em O lado bom da vida e com indicações para o
Critic´s Choice Awards e SAG se viu completamente excluído do Globo de Ouro.
Quem é bom de memória vai lembrar que há dois anos De Niro recebeu o prêmio
Cecil B. DeMille, que a HFPA entrega anualmente a figuras expressivas da sétima
arte e foi um azedume só. Em seu discurso de agradecimento, o ator disse
lamentar que muitos membros da HFPA não pudessem estar ali por terem sido
deportados, entre outras brincadeiras de gosto duvidoso. Dois anos depois, os
membros deportados não o convidaram para a festa.
Yes, they were talking to you...
Hooper down
E o que quer dizer a exclusão de Tom Hooper entre os
indicados a melhor diretor? Que Os miseráveis não é essa Coca cola toda? Ou que
é de Hooper e seu classicismo todo que a HFPA não morre de amores? Talvez sejam
as duas coisas juntas...
Streep up
Já Meryl Streep pode espirrar que entra na lista da HFPA.
Por Um divã para dois, a maior atriz de todos os tempos conquistou sua 27ª
indicação ao Globo de Ouro. A décima em dez anos. Ela vem de vitória, na
categoria dramática, por A dama de ferro. É muito amor!
Política dá o tom
Não tem jeito, se há profusão de filmes políticos na corrida
pelo Oscar, é natural que eles sejam protagonistas. Lincoln, Argo e A hora mais
escura assim o fazem. Juntos somam 16 indicações e dividem nas bolsas de
apostas o favoritismo pelos três prêmios mais cobiçados da noite: filme em
drama, direção e roteiro.
Até onde vai Lincoln?
É a grande força da temporada. Além de ser o filme “sério”
de Steven Spielberg a registrar a maior bilheteria de sua carreira, é o que
angariou mais indicações em uma edição do Globo de Ouro entre todas as fitas de
Spielberg já indicadas. A lista de Schindler (1993) e O resgate do soldado Ryan
(1998), pelos quais Spielberg levou os prêmios de direção e filme em drama,
ficam atrás com seis e cinco indicações respectivamente.
Lincoln também quebrou o recorde histórico de indicações do
Critic´s Choice Awards estabelecido por Cisne negro em 2011 com 12 indicações.
O filme de Spielberg foi nomeado a 13 prêmios lá. Será que tem força para
quebrar, ou ao menos igualar, o recorde de indicações no Oscar defendido por
Titanic (1997) e A malvada (1950) de 14 indicações?
O Lincoln de Daniel Day Lewis ainda pode fazer muita história...
Cooper feelings
Apesar de ter uma das atuações mais festejadas da temporada,
Bradley Cooper recebeu com incredulidade sua indicação como melhor ator em
comédia por O lado bom da vida. Ao New York Times disse estar felicíssimo pelo
reconhecimento a um trabalho com potencial de “mudar sua perspectiva como ator”
e contente pelo timing das coisas. Afinal poderá dividir o salão com seus
ídolos Bill Murray e Daniel Day Lewis, também indicados. O ator confessou
também que vira e mexe pratica um dos famosos monólogos de Day Lewis em Sangue
negro (I´ll drink your milk-shake) e finaliza: ele é o melhor!
Vive la
France !
Dois filmes franceses entre os indicados a melhor fita em
língua estrangeira. Outro coproduzido com a Áustria e uma atriz francesa entre
as selecionadas na categoria de atriz dramática. Depois da consagração de O
artista no último ano, parece que o cinema francês tomou gosto por invadir uma
festa até então tida como americana.
Os reincidentes
Kathryn Bigelow, David O. Russell, Quentin Tarantino, Meryl
Streep, Alexandre Desplat, Jessica Chastain, John Williams, Leonardo DiCaprio, Julianne Moore, Ed
Harris, Nicole Kidman, Woody Harrelson… e a lista continua. Em comum, esse
pessoal tem o fato de terem sido indicados no último ano ou no ano anterior.
Nessa conta, obviamente, estão excluídos os atores que integram o elenco de
séries e seriados que favorecem essa repetição. Estamos falando de gente do
cinema que anda polarizando as atenções dos membros votantes da HFPA. Williams
e Desplat tem a seu favor o prestígio adquirido como compositores e a
multiplicidade de trabalhos avaliados, mas DiCaprio, Kidman e Streep superam
rivais à altura simplesmente por adoração mesmo.
Leonardo DiCaprio é um eterno favorito da HFPA que o insere, mais uma vez, na briga por uma vaga no Oscar
Os globos o adoram
16. Isso mesmo. São 16 indicações para a The Weinstein
Company, do mega produtor e marqueteiro Harvey Weinstein. Nenhum estúdio
conseguiu chegar perto desse número. Disney e DreamWorks, que dividem os
créditos por Lincoln, são os que chegam mais perto. Dessa maneira, pelo
terceiro ano consecutivo, Weinstein atinge a marca dos dois dígitos no Globo de
Ouro em indicações e reina absoluto. Em 2012, os filmes que lhe renderam esse prazer foram
Django livre, O lado bom da vida, O mestre, O impossível, Ferrugem e osso e
Intocáveis.
A indicação desnecessária para "O Exótico Hotel Marigold" em Melhor Filme - Com/Mus já era esperado, mas "Amor Impossível"? Oi? Essa pegou todo mundo de surpresa e vem de uma vez por toda confirmar que nem toda surpresa é positiva... o filme não ofende, mas é tão esquecível...
ResponderExcluirO GG não cometeu mesmo nenhuma atrocidade esse ano. Bom pra eles, já que "Burlesque" e "O turista" naqueles anos foram de lascar.
E vc levantou uma ótima suspeita, Reinaldo: a omissão de "Ted". Serááá? Cara... é uma bobagem se isso tiver passado pela cabeça dos votantes e eu não coloco minha mão no fogo...
"Já Meryl Streep pode espirrar que entra na lista da HFPA". HAHAHAHAHA! Ri com essa! A mulher é uma diva! Só não entendi a esnobada a Tommy Lee Jones, sendo que todo mundo achou ele mais legal do que ela em "Um Divã para Dois". Eu, inclusive, embora não goste nada do filme.
Não sei ainda quem pode levar essa, mas pode ser que dê "Lincoln" mesmo. No campo das comédias, acho que pode dar "O Lado Bom da Vida", mas esses votantes são meio lokos, então é recomendável arriscar quando estiver mais perto da premiação...
E "The Master"? =(
Abs, R.
Elton Telles: Pois é... "Amor impossível" veio do nada! Para mim, não há razão para "Ted" ter ficado de fora...
ResponderExcluirQuanto a Tommy Lee Jones, como ele já foi lembrado pelo mais sofisticado "Lincoln" e como não é um ator que está acontecendo (como Ryan Gosling no último ano), a HFPA optou por "confiná-lo" apenas a uma nomeação no ano. Mas seria justa sua lembrança na ctegoria de ator em comédia. Acho que dá O lado bom da vida com folga entre as comédias também. E The master, bem, a academia vai resgatar o filme. Vc vai ver!
Abs
Também estou meio sem entender essa incursão de "Amor Impossível", mas, enfim... Os indicados, no geral, são bacanas. E, pocha, eu estava jurando que "Os Miseráveis" teria mais "espaço" que " Lincoln, rs
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