A prestigiada revista de cinema francesa divulgou sua lista
dos melhores lançamentos do ano na última semana. Uma lista, como era de se
esperar, com forte predominância da veia autoral e com a presença de alguns
nomes festejados pela publicação, como o caso de Abel Ferrara (com dois longas
incluídos), David Cronenberg, Francis Ford Coppola e Alexandre Sokourov. Outra
percepção bastante forte é a renovada força dos americanos junto à Cahiers du
Cinema. Desmistificando aquela máxima antiamericana de que nos EUA só se
produz, ou se produz melhor, blockbusters massificados. Seis dos dez melhores
lançamentos do ano de acordo com a revista foram produzidos ou coproduzidos nos
EUA. É uma maioria que não pode ser tomada como pontual ou acidental.
Mas o que a lista em si tem a dizer? A admiração dos
críticos franceses pelos autores americanos é de longa data. Está por trás,
como se sabe, da formulação da Nouvelle Vague. Quentin Tarantino e seu Django
livre ocupam a capa da mais recente edição da revista e a presença de O abrigo,
de Jeff Nichols, na sexta posição denota que o interesse por novos cineastas que
emergem do panteão independente americano não se afrouxou. Abel Ferrara, o mais
estridente dos surgidos nessa seara, ocupa a quarta posição com 4:44 last day
on Earth, apocalíptico filme estrelado por Willem Dafoe, e a sétima
com Go Go Tales, filme de 2007 só lançado comercialmente na França em 2012.
Ferrara há muito vive de sua fama transgressora eriçada nos idos dos anos 80 e
90 e a Cahiers du Cinema não parece disposta a minimizá-la.
As duas primeiras posições, filmes lançados no último
festival de Cannes, carregam idiossincrasias semelhantes. Tanto Cosmópolis, de
David Cronenberg, como Holy motors, de Leos Carax são elucubrações sobre os
desmandos do consumismo em elaborações diversas. Os filmes comungam de algumas
opções estéticas, mas diferem na esquematização dos discursos. São, em última
análise, duas manifestações distintas da veia autoral que a revista valoriza.
Talvez por ser francês, Carax apareça na primeira posição.
Eva Mendes e Denis Levant em cena de Holy motors, o melhor filme de 2012 para a Cahiers du Cinema
A lista completa com os trailers dos filmes escolhidos pode
ser conferida aqui.
Como unidade, a lista da Cahiers du Cinema reflete o
obscurantismo do fim do mundo. Filmes pessimistas destacados, alguns versando
efetivamente sobre o fim do mundo ou sobre o pressentimento que se tem dele,
realçam o pensamento artístico sobre formulações humanas contraditórias. O fim
do mundo pode ser uma experiência pessoal, como o fim de uma relação amorosa em
Keep the lights on, ou paranoica, como em O abrigo. De certo, a tragédia humana
fomenta, na avaliação da Cahiers du Cinema, expressão cinematográfica de grande
qualidade.
São filmes bem densos, esses da lista da Cahiers du Cinema. Obras bem particulares, como você bem disse: sobre o obscurantismo do fim do mundo. Parabéns pela análise! Beijos!
ResponderExcluirComo você disse, a revista mantém sua veia autoral. Uma ótima análise mesmo. E gosto de ver Holy Motors em primeiro lugar na lista. :)
ResponderExcluirbjs
E notou que são somente filmes independentes? Não tem sequer uma produção com orçamento "considerável". Antes, era um louvor ao cinema de autor, hoje a Cahiers prestigia o cinema underground? NÃo sei dizer... mas a lista é mesmo curiosa. Estou muito curioso pelo Carax. Gosto do seu cinema transgressor e em "Holy Motors" parece repetir essa veia criativa. No aguardo.
ResponderExcluirAbs.
Kamila: Obrigado Ka. De maneira geral, achei uma lista bem interessante e que constroi um discurso em si.
ResponderExcluirbjs
Amanda: Obrigado Amanda. Concordamos pela milionésia vez. rsrs.
bjs
Elton Telles: É o cinema independente de esquerda. Já que hoje muitos estúdios produzem cinema independente, nada mais justificável do que a Cahiers du Cinema, franecsa como só ela, se aprofundar no underground. Mas Cronenberg, Carax, Ferrara, Coppola já são de outros carnavais...
Abs