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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Um olhar sobre a escolha da Cahiers du Cinema dos dez melhores filmes de 2012




A prestigiada revista de cinema francesa divulgou sua lista dos melhores lançamentos do ano na última semana. Uma lista, como era de se esperar, com forte predominância da veia autoral e com a presença de alguns nomes festejados pela publicação, como o caso de Abel Ferrara (com dois longas incluídos), David Cronenberg, Francis Ford Coppola e Alexandre Sokourov. Outra percepção bastante forte é a renovada força dos americanos junto à Cahiers du Cinema. Desmistificando aquela máxima antiamericana de que nos EUA só se produz, ou se produz melhor, blockbusters massificados. Seis dos dez melhores lançamentos do ano de acordo com a revista foram produzidos ou coproduzidos nos EUA. É uma maioria que não pode ser tomada como pontual ou acidental.
Mas o que a lista em si tem a dizer? A admiração dos críticos franceses pelos autores americanos é de longa data. Está por trás, como se sabe, da formulação da Nouvelle Vague. Quentin Tarantino e seu Django livre ocupam a capa da mais recente edição da revista e a presença de O abrigo, de Jeff Nichols, na sexta posição denota que o interesse por novos cineastas que emergem do panteão independente americano não se afrouxou. Abel Ferrara, o mais estridente dos surgidos nessa seara, ocupa a quarta posição com 4:44 last day on Earth, apocalíptico filme estrelado por Willem Dafoe, e  a sétima com Go Go Tales, filme de 2007 só lançado comercialmente na França em 2012. Ferrara há muito vive de sua fama transgressora eriçada nos idos dos anos 80 e 90 e a Cahiers du Cinema não parece disposta a minimizá-la.
As duas primeiras posições, filmes lançados no último festival de Cannes, carregam idiossincrasias semelhantes. Tanto Cosmópolis, de David Cronenberg, como Holy motors, de Leos Carax são elucubrações sobre os desmandos do consumismo em elaborações diversas. Os filmes comungam de algumas opções estéticas, mas diferem na esquematização dos discursos. São, em última análise, duas manifestações distintas da veia autoral que a revista valoriza. Talvez por ser francês, Carax apareça na primeira posição.

Eva Mendes e Denis Levant em cena de Holy motors, o melhor filme de 2012 para a Cahiers du Cinema


A lista completa com os trailers dos filmes escolhidos pode ser conferida aqui.


Como unidade, a lista da Cahiers du Cinema reflete o obscurantismo do fim do mundo. Filmes pessimistas destacados, alguns versando efetivamente sobre o fim do mundo ou sobre o pressentimento que se tem dele, realçam o pensamento artístico sobre formulações humanas contraditórias. O fim do mundo pode ser uma experiência pessoal, como o fim de uma relação amorosa em Keep the lights on, ou paranoica, como em O abrigo. De certo, a tragédia humana fomenta, na avaliação da Cahiers du Cinema, expressão cinematográfica de grande qualidade.

4 comentários:

  1. São filmes bem densos, esses da lista da Cahiers du Cinema. Obras bem particulares, como você bem disse: sobre o obscurantismo do fim do mundo. Parabéns pela análise! Beijos!

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  2. Como você disse, a revista mantém sua veia autoral. Uma ótima análise mesmo. E gosto de ver Holy Motors em primeiro lugar na lista. :)

    bjs

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  3. E notou que são somente filmes independentes? Não tem sequer uma produção com orçamento "considerável". Antes, era um louvor ao cinema de autor, hoje a Cahiers prestigia o cinema underground? NÃo sei dizer... mas a lista é mesmo curiosa. Estou muito curioso pelo Carax. Gosto do seu cinema transgressor e em "Holy Motors" parece repetir essa veia criativa. No aguardo.

    Abs.

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  4. Kamila: Obrigado Ka. De maneira geral, achei uma lista bem interessante e que constroi um discurso em si.
    bjs

    Amanda: Obrigado Amanda. Concordamos pela milionésia vez. rsrs.
    bjs

    Elton Telles: É o cinema independente de esquerda. Já que hoje muitos estúdios produzem cinema independente, nada mais justificável do que a Cahiers du Cinema, franecsa como só ela, se aprofundar no underground. Mas Cronenberg, Carax, Ferrara, Coppola já são de outros carnavais...
    Abs

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