Atrizes em evolução
Algumas atrizes que já estão há algum tempo ativas no cinema
carregam consigo a máxima de não serem boas atrizes. Na vertente majoritária,
são boas estrelas ou atrizes bonitas. Para pelo menos algumas delas, o panorama
está mudando. Keira Knightley é um bom exemplo. Revelada na franquia Piratas do
Caribe, a inglesa estrelou longas como Rei Arthur (2004) e Domino-a caçadora de
recompensas (2006) sem causar grandes inquietações. Mesmo a indicação ao Oscar
em 2005 por Orgulho e preconceito não foi levada a sério. Mas de uns tempos
para cá, Keira tem demonstrado evolução dramática. Além de ter selecionado
melhor seus projetos e seus papéis.
Desejo e reparação (2007) talvez, na revisão que se propõe
esse artigo, seja um bom marco zero para esse "turn" na carreira. A segunda
colaboração com o diretor Joe Wright, no entanto, não exigia tanto assim de
Keira. A duquesa, do ano seguinte, já exigia uma atriz com mais dotes
dramáticos e alguma capacidade de fluxo narrativo. Ali, como principal elemento
narrativo, Keira surpreendia efetivamente pela primeira vez como atriz. Mas a
partir de 2010, Keira atingiu outra patamar. Começou com Não me abandone
jamais, um filme inglês muito sensível sobre humanidades. A atriz está
discreta, mas com forte presença em cena. Encarna uma personagem potencialmente
desagradável com candura e perspectiva. Ainda em 2010 esteve em Apenas uma
noite, lançado apenas em 2012 no Brasil. Neste filme, ela solta uma
sensualidade marota em uma personagem em confusão emocional e deixa
transparecer uma atriz mais sugestiva do que se podia imaginar. Em Um método
perigoso ela arrebata. Em um papel difícil, com uma personagem que no começo do
filme apresenta um quadro de histeria em um época em que a ciência ainda não
dominava exatamente o diagnóstico, ela evita a caricatura. Uma atuação com extrema
eficácia física e acerto na construção emocional da personagem envolvida em uma
batalha de egos entre os pais da psicanálise. Já no agridoce Procura-se um
amigo para o fim do mundo, Keira se permite certo histrionismo dramático em uma
composição menos exigente, mas mais traiçoeira. Ela brilha como uma otimista
ingênua apaixonante nessa comédia romântica que tem o apocalipse como pano de
fundo.
Keira em Um método perigoso: Tão boa e tão fiel na caracterização de um quadro de histeria que muita gente achou que ela estava exagerada
Keira é o principal expoente de um conjunto de atrizes que
deseja ser levado a sério. Veneza aplaudiu a ucraniana Olga Kurylenko por sua
performance em To the wonder, novo filme de Terrence Malick. A ucraniana já
declarou que espera que o filme lhe renda convites mais sérios no cinema
americano.
Rachel McAdams, que está no mesmo filme, é outra que tenta
se desvencilhar do histórico de produções água com açúcar. Depois de trabalhar
com Woody Allen em Meia-noite em Paris, ela também poderá ser vista em Passion,
novo longa de Brian De Palma. A atriz também já está confirmada no novo drama
de Anton Corbijn, diretor de Control, A most wanted man (baseado em romance de
John Le Carré).
Outro exemplo bastante nítido, e certamente precoce, desse
movimento é Rooney Mara. “Surgida” para o cinema no remake de A hora do
pesadelo (2010), a atriz logo no ano seguinte foi ao Oscar pela atuação
acachapante em outro remake, dessa vez com mais pedigree. Mas Os homens que não
amavam as mulheres não foi um espasmo. A atriz já está envolvida nos novos de
Terrence Malick e Steven Soderbergh. Uma demonstração de que quer realmente
acontecer.
Emma Waltson, a Hermione da saga Harry Potter, é outra que
anseia valorização artística. Com o fim da saga criada por J.K Rowling, Emma
até ensaiou um pausa na carreira como atriz, mas mudou de ideia. E engatou uma série
de projetos ousados e dramaticamente interessantes. Ela está em cartaz nos
cinemas brasileiros com o elogiado e independente As vantagens de ser
invisível. Já terminou as filmagens do novo de Sofia Coppola, The bling ring e
já está gravando o épico Noah, de Darren Aronofsky.
O desafio de Emma: ela quer ser popular e cult simultaneamente e tudo indica que vai conseguir
Jennifer Lawrence é outra que não quer saber de ficar
restrita a sua beleza. Depois de uma acachapante boas vindas com Inverno da
alma, que lhe rendeu indicação ao Oscar, ela escolheu protagonizar uma franquia
(Jogos vorazes) cujos temas agradam muito mais à crítica do que outras tantas
por aí. Jennifer também se abrigou sob a batuta de diretores festejados. Já vê
seu nome especulado para o próximo Oscar pelo trabalho em Silver Linings
playbook, de David O. Russell. Seria a segunda indicação na categoria de atriz
em três anos e com apenas 22 anos de idade.
Juntas, essas atrizes buscam mais do que um lugar ao sol em Hollywood. Elas
desejam mostrar que não estão no cinema em busca do estrelato pelo estrelato. E
o talento cada vez mais lapidado dessas belas feras faz com que o cinema, de
maneira geral, saia como o grande vencedor.
Keira evoluiu bastante mesmo. Além de linda vem se mostrando excelente atriz mesmo!
ResponderExcluirTorço bastante pela Rooney e espero que continue arrebentando... Concordo contigo quanto à Rachel McAdams, na verdade, não pensei que ela fosse dar essa virada na carreira. Ela é muito boa para ficar limitada nas comédias românticas.
Emma Waltson vem me surpreendendo positivamente! Vem fazendo ótimas escolhas cinematográficas. Realmente: vai longe!
Nunca tive nada contra Keira Knightley, hehe, acho que ela sempre se esforçou por boas interpretações, mas em "Procura-se um amigo" ela está ótima mesmo. Agora, tenho que discordar de você em Um Método, acho que ela exagera nos tiques ali, me incomodou muito algumas cenas.
ResponderExcluirTambém acho que Rachel McAdams pode mais. E Emma Waltson me convenceu bastante em As Vantagens...
Das atrizes citadas em seu texto, vou comentar sobre as duas que mais me agradam. Keira Knightley é talentosa, tem um bom faro pra papeis desafiadores, mas ela sempre atua melhor quando decide afastar aquelas caras e bocas que lhe são típicas. Acho que isso deve ser algum tique dela. rsrsrsrs
ResponderExcluirA Jennifer Lawrence é uma das maiores revelações da atuação norte-americana dos últimos anos. Adoro o fato de ela ser afeiçoada a papeis femininos mais fortes e que exigem dela, dramaticamente. Acompanho o desenvolvimento de sua carreira com curiosidade e acho que ela se tornará uma GRANDE atriz.
Beijos!
Alan: Pois é Alan. Keira me surpreende a cada trabalho. Eu mesmo, durante muito tempo, não cria nela como atriz. Agora tenho uma curiosidade indomável para saber até quando irá desabrochar. Rooney Mara é outra que tem me provocado fascínio e, por melhor dirigida que tenha sido por David Fincher, o que fez em "Os homens que não amavam as mulheres", só com talento genuíno.
ResponderExcluirAbs
Amanda: rsrs. Me recordo de nosso desacordo em relação à atuação de Keira. Bem, subjetividades à parte, eses tiques eram comuns naquela época e qualquer psiquiatra referenda isso. Mas, talvez, o que a Ka colocou reverbere nessa sua impressão. Keira tem cacoetes que não são sempre toleráveis.
Bjs
Kamila: Pois é Ka, mas acho que Keira está em um franco processo de evolução como atriz. Jennifer Lawrence já é outra história.
bjs
Vish, olha... é fato que Knightley está amadurecendo, interpretando personagens mais exigentes e se provando uma atriz com dotes dramáticos mais intensos. Mas esse processo, pra mim, é uma constante evolução e retrocesso; na soma de tudo, a atriz permanece no zero. Adoro incondicionalmente sua Elizabeth de "Orgulho e Preconeito". Ela tem a doçura e autosegurança que a clássica personagem de Jane Austen exige. Depois disso, fiquei surpreso com suas participações em "Apenas Uma Noite", "Procura-se Um Amigo para o Fim do Mundo" e "A Duquesa". Agora, indo na contramão, achei absolutamente ridícula sua participação histriônica e patética em "Um Método Perigoso". Até a tiazinha do café se sairia melhor. E também não simpatizo com sua atuação em "Não me Abandone Jamais". Acho uma chatice.
ResponderExcluirVamos aguardar "Anna Karenina". Não repreendo tanto a atriz, acho que ela tem futuro, mas ainda não convenceu a mim e nem a muita gente.
Das citadas, minha preferida é Jennifer Lawrence. Essa garota explode em cena. Já sou mezzo fã rs.
Abs!
Elton: Pois é... a atuação de Keira em Um método perigoso tem sido um caso à parte. Na verdade, esse histrionismo é parte crucial da caracterização de um quadro histérico no século XIX. Mas, de alguma maneira, eu tenho a mesma hesitação que vc quanto a Keira como um todo.
ResponderExcluirAbs