Deliciosamente e melancolicamente romântico
Não é exagero dizer que Procura-se um amigo para o fim do
mundo (Seeking a friend for the end of the world, EUA 2012) é um dos romances
mais originais do cinema contemporâneo. Talvez seja algo surpreendente
aponta-lo como um dos melhores filmes da safra americana de 2012. Mas é
exatamente o sentimento que fica com o expectador ao fim da sessão deste que é
o primeiro filme dirigido por Lorene Scafaria – que já havia escrito o fofo Uma noite de amor e música.
Na trama, o apocalipse é iminente. O que Scafaria faz com
sagacidade e sensibilidade é conjugar clichês de uma comédia romântica com o
espírito de um road movie para entregar um filme que faz da melancolia um
sentimento doce. Não é uma equação fácil. Scafaria dosa o humor – nunca
exagerado – de maneira que se apresente como respiro de uma jornada existencial
e faz dos tipos que surgem na tela, inclusive os muito bem delineados
protagonistas, comentários sobre o que nos faz humanos.
No fundo, seu filme vislumbra algumas respostas para a
pergunta “como você gostaria de passar seus últimos dias em vida”? Desse mote
incomum, Scafaria pode não tirar uma ressonância profunda das angústias
humanas, mas realiza um filme cheio de predicados. Dentre os quais destaca-se o
saboroso retrato do nascedouro de um amor. De como apaixonar-se é
potencialmente transformador e capaz de preencher o vazio de sentido.
A última tentativa de deter Matilda, o meteoro que se
chocará com a Terra, falha. Com a sentença de morte da humanidade decretada,
Dodge (Steve Carell), um vendedor de apólices de seguros, é abandonado pela
mulher. Desconfortável com a agonizante falta de rotina e propósito que se
estabeleceu nos poucos dias que separaram a Terra de seu destino final, ele
decide se recolher em seu apartamento. É quando conhece sua vizinha – que já
morava no mesmo edifício há três anos – Penny (Keira Knightley). Um tanto
espaçosa e desajeitada, mas profundamente generosa, ela será a responsável pela
mudança mais profunda na vida de Dodge.
Eles estabelecem um pacto em que ela o ajudará a encontrar o
primeiro amor da vida dele e ele a ajudará a rever os pais pela última vez. Na
viagem, eles cruzam com tipos estranhos e esquisitos que reagem ao armageddon
de maneira diferente. Essa viagem incauta por um EUA em colapso promoverá um
estreitamento entre os dois dos mais tenros e belos.
É seguro dizer que a estreia na direção de Lorene Scafaria é promissora. Ela faz um romance atípico, extremamente cativante, que alterna
doçura, humor e drama com equilíbrio e espontaneidade. Contribuem para essa
condição, as atuações certeiras de Keira Knightley – uma atriz de repertório
cada vez mais impressionante – e Steve Carell, que segue mesmerizando por sua
capacidade de alternar os tons da atuação como um passe de mágica. É um talento
hediondo!
Por fim, Procura-se um amigo para o fim do mundo é o raro
tipo de filme que faz da tristeza um instrumento de alegria. Se isso não faz
dessa pequena obra prima algo especial, definitivamente é o fim do mundo.
Ainda não tive oportunidade de assistir, mas sua ótima crítica me estimulou, apesar de ser um filme que tem dividido opiniões, confio na sua visão.
ResponderExcluirUma grande filme mesmo, seu título já resume tudo: Deliciosamente e melancolicamente romântico.
ResponderExcluirbjs
Celo: Poxa, obrigado pelo crédito e moral. O filme é bom sim.
ResponderExcluirAbs
Amanda: Foi um título feliz, não foi?
Bjs