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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Crítica - Moonrise Kingdom


Os desajustados

Wes Anderson sempre foi peculiar e, dessa maneira, alçou seu cinema a um estrato autoral difícil de ser tangenciado no cinema contemporâneo. Seu mais recente filme, que abriu o último festival de Cannes, Moonrise kingdom (EUA 2012) é, de alguma maneira, seu filme mais acessível e, também, aquele mais incomum. Essa aparente ambiguidade se deve ao amadurecimento de Anderson enquanto cineasta na arquitetura do discurso cinematográfico e na maturação, não menos fascinante, de suas opções estéticas. Essa convergência resulta em um filme plasticamente belo e emocionalmente encantador.
Na trama, que se ambienta em uma ilha afastada na costa da Nova Inglaterra (EUA) na década de 60, acompanhamos a busca por dois adolescentes que mobiliza a cidadezinha. Um deles, Sam (Jared Gilman), órfão e escoteiro, foge do acampamento supervisionado pelo abobado mestre Ward (Edward Norton) para ir ao encontro de Zusy (Kara Hayward, uma revelação hipnótica) e juntos fugirem para um local ao qual Sam guarda algum fascínio. Anderson então equilibra a ação entre a busca desajeitada perpetrada pelo xerife local (um Bruce Willis encantador), pelos pais de Suzy (Bill Murray e Frances McDormand) e pelo escoteiro Ward e seus comandados e a fuga planejada, mas com gosto de improviso, de Sam e Suzy.
Moonrise kingdom revela a partir dessa divisão seus interesses. O primeiro e mais palatável está no flagra que faz do despertar de uma paixão – daquelas irremediadas pelo torpor da adolescência. Toda a inocência, a excitação e a inadequação da infância contraposta a sisudez e amargura da fase adulta ganham ainda mais viço na segunda frente do filme: Anderson nos diz que crescer nos priva de um certo encantamento circunscrito àquela fase da vida em que Suzy e Sam experimentam.
Os adultos aborrecidos, acovardados e entristecidos (e cada personagem é um comentário particular e intercambiável) são o contraponto perfeito à esperança ingênua e adornada de sentimentos das crianças que descobrem a adolescência.

O olhar: a jovem Suzy, brilhantemente interpretada por Kara Hayward, costuma observar atentamente tudo e todos a sua volta




Todos os personagens recusam a convenção. Mas são os apaixonados e “perturbados” Suzy e Sam quem preservam o romantismo de mudar, transmutar, viver...
Moonrise kingdom, como revela a poética cena final, é mais um estado de espírito do que um lugar. O filme de Anderson se inscreve como fervorosa referência tanto em sua obra quanto na cinematografia que se pretende estudiosa da adolescência, na qual Gus Van Sant parece ter tomado cadeira cativa. Moonrise kingdom parece destinado a puxar, talvez ao lado de Os excêntricos Tenenbauns (2001), a fileira da filmografia cult do diretor.

4 comentários:

  1. "Moonrise kingdom, como revela a poética cena final, é mais um estado de espírito do que um lugar."
    Perfeito!!
    Gostei muito da sua crítica. Quem não gostaria de estar Moonrise Kingdom? Um dos melhores filmes da temporada.

    Abração!

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  2. Eu não gosto dos filmes de Anderson. Acho que o diretor pesa a mão no cartunesco e fica muito bobo, irritante, a estética se sobrepondo ao conteúdo. Os personagens são puro desenhos animados, arquétipos criados de um mundo criado pelo diretor do qual eu não faço parte - e não é à toa que considero "O Fantástico Sr. Raposo" seu melhor projeto, adoro essa animação.

    Odeio os outros filmes do diretor, mas olha, eu dei o braço a torcer a "Moonrise Kingdom". O filme é engraçado e encantador como você bem pontua no texto. Concordo que é um projeto acessível do diretor, mas também é o que mais deixa a sua marca registrada atras das cameras, com um perfeccionismo estético ao mesmo tempo admirável e afetado rs. Fiquei confuso quando terminou o filme, parece que eu descobrir gostar de Wes Anderson haha, o q me motivou a rever a filmografia do diretor, mas não irei porque a fila tá muito grande hehe.

    Enfim, gostei, mas não era pra gostar! Go figure! =D

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  3. Celo: Obrigado Celo. Valeu mesmo! Pois é, quem não gostaria de estar em Moonrise kingdom? Certamente, um dos melhores filmes da temporada.
    Abs

    Elton Telles: Não sou um fã incondicional de Anderson. O acho um cineasta talentoso, mas frequentemente repetitivo. Bem, ele conseguiu fazer de Moonrise Kingdom um filme que condense suas idiossincrasias e se comunique para fora da "caixa" de seus fiéis seguidores. Talvez por isso tenha te provocado essa consternação. rsrs. É uma prova de talento e indica que a maturidade como cineasta está à espreita.
    Abs

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  4. O filme é adorável!
    Não sou fa do Wes, mas gosto da sua excentricidade. Guarda uma certa poesia.
    Bj

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