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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Crítica - 360


Distopias emocionais

Não que 360 (360, Aus, Ingl, Can, Bra 2012) não seja sobre o amor, como muito se proliferou na mídia nessas últimas semanas; indiscutivelmente o tema gravita todas as subtramas interligadas do novo filme de Fernando Meirelles, mas 360 é, na verdade, um drama sobre escolhas. E as indesviáveis consequências delas. O que torna o material do filme ainda mais atraente, sob a perspectiva dramatúrgica, é o desenho do acaso; jamais subestimado pela narrativa alinhada por Meirelles e pelo roteirista Peter Morgan, e seu impacto em circunstâncias diversas.
Talvez seja do confronto do acaso e do arbítrio que 360 se erija como um filme de muitas potencialidades, alguns acertos e um discurso bem azeitado sobre ciclos.
Diferentemente do que se poderia supor, com base no histórico de filmes com múltiplos personagens, a narrativa não oscila e Meirelles com o préstimo do montador Daniel Rezende, mantém bem costuradas as transições entre os plots. A trilha, supervisionada por Ciça Meirelles, é outro bálsamo que acrescenta ao termostato da narrativa.
Mas 360 não escapa de outro problema crônico de filmes corais. O pouco, por vezes pobre, desenvolvimento dos personagens. Alguns não excedem o arquétipo como é o caso do dentista mulçumano que se apaixona por sua assistente casada e padece de um conflito mais espiritual do que ético. Há núcleos, porém, que não só recebem mais atenção da caneta de Morgan como contam com atores inspirados. Maria Flor protagoniza o arco mais bem adornado do filme. Laura (Flor) seguiu para Londres para tentar a vida ao lado do namorado fotógrafo. Depois de descobrir a traição dele, ela parte de volta para o Brasil. Em pouco mais de 24 horas, e cruzando com dois outros personagens cativantes, ela precisa externar toda a fragilidade e erupção emocional a qual a personagem está submetida. Não é uma tarefa fácil, mas Maria Flor a cumpre com tamanha desenvoltura que se equipara aos bem mais badalados Ben Foster e Anthony Hopkins, que também apresentam momentos de brilho.

Maria Flor em cena do filme: uma atriz surpreendente e cativante


Em comum, todas as subtramas de 360 têm a bifurcação nos caminhos de seus personagens. Em alguns casos, mais de uma escolha. Como é o caso da prostituta eslovaca Mirka (Lucia Siposová) que, não coincidentemente, abre e fecha o filme. O amor e a forma como lidamos com ele, obviamente, passa por essas escolhas e Fernando Meirelles é hábil em sinalizar isso. Seja no olhar de culpa que o marido reconhece na esposa (em grande momento silencioso de Jude Law), seja na opção de manter-se alinhado a uma certa visão de mundo em detrimento de um lampejo de felicidade ou quando se flerta com um agressor sexual.
360, nesses momentos, rejeita a frieza de quem apenas observa e permite que o sangue corra por suas veias. São momentos muito bem escolhidos por Meirelles. Em um filme de difícil realização, mas que o diretor soube tirar dessa dificuldade certa poesia.

6 comentários:

  1. Gosto muito do Fernando Meirelles, mas achei este filme muito pretensioso. O grande problema, pra mim, em filmes que contam uma multiplicidade de histórias é que eles podem cair pelo caminho da irregularidade. É justamente isso que ocorre com "360". Algumas histórias não funcionam, simplesmente. E a sensação que eu tive foi a de que o filme rodou, rodou e terminou no mesmo lugar, sem evoluir.

    De longe, a melhor história e que daria, por sinal, um bom filme inteiramente sozinha era aquela que envolvia: Maria Flor, Ben Foster e Anthony Hopkins.

    Beijos!

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  2. Já eu gostei bastante do filme. Na verdade, o pouco desenvolvimento dos personagens não me incomodou, achei que a forma como eles foram sendo conduzidos, a ligação entre as histórias que no final mostravam a mesma coisa é que foram interessante. E a montagem, claro.

    bjs

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  3. Eu gostei do filme tb, acho fluído e de uma narrativa aprazível. Apesar de alguns momentos parecerem surreais, o filme diáloga com propriedades sobre a ciranda amorosa proposta.

    Abraço.

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  4. Kamila: Eu não achei esse cúmulo de pretensão não. Gostei do filme. Achei uma proposta narrativa interessante na qual Meirelles mergulhou.
    Bjs

    Amanda: Concordo plenamente contigo!
    Bjs

    Celo Silva: E não só sobre o amor. Acho que, como coloquei na crítica, a premência do filme é falar sobre escolhas.
    Abs

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  5. Tô no time da Kamila. Acho que a pretensão de "360" já surge no título, equivocado porque a volta não chega nem ser perpendicular, sejamos francos. No mais, o panorama de personagens não me disseram nada em sua maioria, com exceção da trama explorada na crítica, com Flor, Hopkins (maravilhoso na cena do AA) e Foster. Mas Mairelles capta toda essa frieza com elegância e o mais legal do roteiro de Morgan, na minha concepção, são os entrelaços narrativos, embora esse recurso já chega batidíssimo ultimamente, não é mesmo, Guillermo Arriaga? rs.

    Não achei o filme ruim, só não acho que tenha muito sangue nas veias, e aí venho a discordar da sua análise, R.

    Abs!

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  6. Elton Telles: Mas Elton, uma das poesias do filme é justamente essa percepção de que nos movemos para, muitas vezes, não sairmos do lugar. Mas isso não ocorre com todos os personagens... De qualquer jeito, entendo suas restrições.
    Grande abraço!

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