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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Crítica - Beleza adormecida


Plasticidade fetichista!

Beleza adormecida (Sleeping beauty, Aust 2011) é um filme que certamente se beneficiou do fato de ter sido selecionado para integrar a mostra competitiva do festival de Cannes de 2011. Do contrário, o filme jamais provocaria atenção para si – ainda que avente um tema de natureza controversa.
Em Beleza adormecida, Lucy (Emily Browning) é uma jovem carente, órfã funcional e que se divide entre sub-empregos e bicos ainda mais escanteados. A diretora e roteirista Julia Leigh patenteia sua heroína como uma mulher perdida, mas não se impõe a obrigação de conjecturar sobre as raízes dessa condição, muito menos de conduzi-la a qualquer tipo de redenção. Até aí, são escolhas legítimas que precisam ser respeitadas em matéria de cinema. Lucy ocasionalmente se prostitui e, nesse mundo, entra em contato com o “serviço diferenciado” prestado pela recatada Clara (Rachel Blake). A experiência que Clara propõe a seus clientes, em sua maioria velhos abastados, é um ambiente de luxo e ostentação temperado com mulheres expostas em lingeries bastante inventivas. “Há espaço para promoções”, adverte a empresária enquanto examina clinicamente o corpo da impressionável Lucy. Essa promoção vem. Lucy aceita ser dopada para servir de brinquedo sexual para os clientes de Clara. Clara os recebe em sua casa e estabelece a única regra: não pode haver penetração. Alguns chiam, outros mantêm a pose. Todos se esbaldam, de maneiras bem particulares, com o corpo adormecido de Lucy – batizada de Sofie nessa Sodoma de plástico.
Beleza adormecida se contenta em ser um exercício voyeur sem muito propósito que não afirmar nosso excêntrico gosto por devassar as taras alheias. A própria Lucy se demonstra muito confortável na função de objeto sexual. Em determinado momento do filme, quando assedia escandalosamente um homem em um bar, isso fica claramente estabelecido. No entanto, em um dado momento, ela passa a se reconhecer apenas como um objeto sexual. E é aí que Beleza adormecida poderia ter dito a que veio. Mas Julie Leigh parece satisfeita com suas proposições visuais e a aparente ousadia temática. A diretora abdica de qualquer aprofundamento e deixa que personagens, todos flagrados em vícios e descomposturas, transitem pela tela sem qualquer destino ou objetivo que não o puro e simples exibicionismo.

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