Plasticidade fetichista!
Beleza adormecida (Sleeping beauty, Aust 2011) é um filme
que certamente se beneficiou do fato de ter sido selecionado para integrar a
mostra competitiva do festival de Cannes de 2011. Do contrário, o filme jamais
provocaria atenção para si – ainda que avente um tema de natureza controversa.
Em Beleza adormecida, Lucy (Emily Browning) é uma jovem
carente, órfã funcional e que se divide entre sub-empregos e bicos ainda mais
escanteados. A diretora e roteirista Julia Leigh patenteia sua heroína como uma
mulher perdida, mas não se impõe a obrigação de conjecturar sobre as raízes
dessa condição, muito menos de conduzi-la a qualquer tipo de redenção. Até aí,
são escolhas legítimas que precisam ser respeitadas em matéria de cinema. Lucy
ocasionalmente se prostitui e, nesse mundo, entra em contato com o “serviço
diferenciado” prestado pela recatada Clara (Rachel Blake). A experiência que
Clara propõe a seus clientes, em sua maioria velhos abastados, é um ambiente de
luxo e ostentação temperado com mulheres expostas em lingeries bastante
inventivas. “Há espaço para promoções”, adverte a empresária enquanto examina
clinicamente o corpo da impressionável Lucy. Essa promoção vem. Lucy aceita ser
dopada para servir de brinquedo sexual para os clientes de Clara. Clara os
recebe em sua casa e estabelece a única regra: não pode haver penetração.
Alguns chiam, outros mantêm a pose. Todos se esbaldam, de maneiras bem
particulares, com o corpo adormecido de Lucy – batizada de Sofie nessa Sodoma
de plástico.
Beleza adormecida se contenta em ser um exercício voyeur sem
muito propósito que não afirmar nosso excêntrico gosto por devassar as taras
alheias. A própria Lucy se demonstra muito confortável na função de objeto
sexual. Em determinado momento do filme, quando assedia escandalosamente um
homem em um bar, isso fica claramente estabelecido. No entanto, em um dado
momento, ela passa a se reconhecer apenas como um objeto sexual. E é aí que Beleza
adormecida poderia ter dito a que veio. Mas Julie Leigh parece satisfeita com
suas proposições visuais e a aparente ousadia temática. A diretora abdica de
qualquer aprofundamento e deixa que personagens, todos flagrados em vícios e
descomposturas, transitem pela tela sem qualquer destino ou objetivo que não o
puro e simples exibicionismo.
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