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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Crítica - Precisamos falar sobre o Kevin

Sem respostas!

Precisamos falar sobre o Kevin (We need to talk about Kevin, ING 2011) não foi concebido para ser um filme fácil. Não só pela natureza do tema abordado (a relação distópica entre mãe e filho), como pela forma que a diretora Lynne Ramsay (no que talvez seja o mais inventivo e barroco trabalho de direção do ano de 2011) articula sua história.
Desde a cena inicial - de clara síntese psicanalítica do estado de colapso emocional enfrentado pela protagonista - até as idas e vindas no tempo para apresentar, de maneira fragmentada, a relação entre Eva Khatchadourian (Tilda Swinton) e seu filho Kevin, vivido em diferentes fases pelos atores Rock Duer (bem criança), Jasper Newell (entre 6 e 10 anos) e Ezra Miller (na adolescência), Ramsay se preocupa, talvez em uma diligência distinta de Lionel Shriver que escreveu o livro no qual o filme se baseia, em montar um painel sobre a relação atribulada entre mãe e filho. Mas não só. Oferece alguma perspectiva de como essa mulher vive após o filho ser o responsável por uma tragédia sem precedentes em uma escola secundária.
Parece muita coisa para se administrar, mas Ramsay se sai incrivelmente bem sucedida da empreitada. Primeiro pela opção de focar na conturbada e intricada relação entre Kevin e Eva, mulher que não ficou exatamente radiante com a gravidez de seu primogênito. Ramsay apresenta cenas memoráveis em que joga para o espectador a “responsabilidade” de julgar se Eva tem ou não parte no monstrinho que criou. Fica claro, também, o quão aguçada é a inteligência de Kevin e a realização não se furta a sublinhar o sadismo que caracteriza o garoto. Mas nunca indica que aquilo não é “normal”. Justamente por essa angustiante construção, Precisamos falar sobre o Kevin é tão brilhante. Nunca o cinema abordou um relacionamento entre mãe e filho com tamanho interesse e tanto desprendimento em fazer perguntas incômodas.

Mãe e filho lado a lado: um jogo de contornos sádicos que catalisa uma família desestruturada


O outro grande trunfo de Ramsay é Tilda Swinton. Atriz soberba que alcança tons menores em uma atuação consistente que dosa desespero, desamparo e aflição com perícia clínica. Tilda usa muito bem seu semblante e os silêncios (que são muitos) para expandir seu domínio de cena. Ela encontra intérprete à altura na figura de Ezra Miller que é capturado pelas lentes de Ramsay com um distanciamento quase solene que só o faz mais inquietante.
Precisamos falar sobre o Kevin pode até ser asséptico nas afetuosidades, mas é apavorante nas ilações que possibilita sobre o desenvolvimento humano, as raízes da infância e à prospecção do mal. É um filme que não provê uma resposta sequer. Embora salpiquemos algumas por força da demanda emocional da experiência de assistir um filme tão atordoante quanto esse. 

7 comentários:

  1. A minha curiosidade se resume em Tilda Swinton. No mais, o filme será uma surpresa para mim quando eu for ver.

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  2. Eu acabei de ler o livro neste fds. É o tipo de coisa da qual vc sai completamente atordoado da leitura... Estou curiosa para ver o filme, mas desconfio que vou precisar de uma overdoso de Harry Potter e comédias românticas para limpar o sistema na sequência...

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  3. Achei excelente quando você comentou sobre Tilda Swinton - realmente, os silêncios dela são perturbadores e ela expande isso a todo filme: mesmo quando fala, é como se houvesse ali um silêncio que diz mais do que as suas palavras. Um filme excelente, que merece ir a público.

    Me surpreende que o Ocsar tenha ignorado Tilda Swinton.

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  4. Estou curiosa quanto ao filme, mas confesso que ainda não tive coragem de ver. Tentarei em breve.

    bjs

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  5. Alan: Tilda está ótima, mas o filme(como um todo) é muito mais surpreendente e inquietante.
    Abs

    Aline: rsrs. Não sei se chega a tanto Aline.
    bjs

    Luís:Conforme já conversamos, não me surpreendeu a exclusão de Tilda, por mais injusta que seja.
    Abs

    Amanda: Espero que vc goste.
    bjs

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  6. Incômodo, intenso e poderoso. Sem falar, claro, da grande performance da Tilda Swinton. O meu favorito da award season até agora.

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  7. Matheus: Adjetivos apropriadíssimos que tu usou aí meu caro.
    Abs

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