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domingo, 29 de janeiro de 2012

Questões cinematográficas - A importância de Steven Spielberg para um negócio chamado cinema

É preciso foco quando há predisposição em discutir Steven Spielberg e seu significado para o cinema. Contudo, ao ater-se demais a certas especificidades incorre-se no risco de não tangenciar satisfatoriamente o legado que Spielberg construiu. Isso seria um erro. A proeminência da figura de Spielberg é tão grande que desconsiderar alguns aspectos de sua trajetória poderia resultar em um comprometimento fatal de qualquer análise. Por isso a pergunta: Qual a importância de Spielberg para o cinema?
Dessa maneira, com o cinema enquanto negócio fazendo às vezes de fio condutor do raciocínio, é possível fazer justiça à figura desse artista, empreendedor e empresário que sobeja em influência.
O cinema americano via o colapso da era das estrelas no alvorecer dos anos 70. Era um momento de crise em que o sistema de estúdios estava sendo posto à prova. A concorrência com a tv nunca estivera mais melindrosa e era preciso desbravar novos rumos. Foi justamente nessa época que um grupo de cineastas americanos emergiu e redefiniu o conceito de se fazer cinema na terra do tio Sam, influenciando não só a indústria americana como toda a produção cinematográfica dali para a frente em todo o planeta. Estamos falando, é claro, de George Lucas, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Brian de Palma e... Steven Spielberg.
Foi Tubarão (1975), apenas o segundo filme de Spielberg para o cinema, que realinhou perspectivas para a indústria e a modificou para sempre. Além de ser um baita filme, Tubarão se provou um entretenimento que só poderia ser perfeitamente apreciado nas telas de cinema. Estava criado o conceito de blockbuster. Em pensar que Spielberg, por várias vezes, quase foi ejetado do filme por produtores desesperados com as contas que não fechavam. George Lucas abalizou o conceito viabilizado por Spielberg dois anos mais tarde com o lançamento de Guerra nas estrelas (hoje, simplesmente, Star Wars).

Spielberg e, talvez, sua criação mais famosa: a década de 80 foi dele, mas os Oscars só vieram nos anos 90


Foi nessa época que a ficção científica experimentou seu momento de maior prestígio no cinemão e Spielberg, com filmes como Contatos imediatos de terceiro grau (1977) e E.T (1982) foi fundamental nesse sentido.
Depois de ser o responsável pelo salvo conduto dos estúdios de cinema, Spielberg ajudou a encorpar um outro conceito à léxica hollywoodiana: a matinê. Aqueles filmes descompromissados e formatados para toda a família.  Encaixam-se nesse perfil os filmes da série Indiana Jones que dirigiu ao longo da década de 80 (e retomou no final da década passada) e filmes que produziu como a trilogia De volta para o futuro, Os goonies, Gremlins e Fievel-um conto americano. É impossível discordar que os anos 80 foram a era de Spielberg. Ele moldou um tipo de cinema que, ainda hoje, alimenta a industria.
Foi no final desta década que Spielberg quis mostrar que também era um diretor sério. A cor púrpura foi um filme que recebeu duras críticas em uma sociedade ainda muito segmentada racialmente. As críticas condenavam o fato de um diretor branco e judeu contar uma história sobre racismo no início do século. Mas A cor púrpura mostrava um cineasta com talentos até então ocultos. Os talentos, no entanto, foram sendo revelados no curso da década de 90. Vieram os esperados Oscars e mais algumas curvas revolucionárias, a maior bilheteria da carreira (Jurassic Park: o parque dos dinossauros) e a consolidação da grife Spielberg. No final da década, Spielberg se juntou ao amigo e executivo Jeffrey Katzenberg para fundar o estúdio DreamWorks. A nova empresa rapidamente se firmou como uma das gigantes de Hollywood com vitórias no Oscar (Beleza americana, Gladiador, Uma mente brilhante) e grandes sucessos de bilheteria (a série Shrek, a série Transformers, entre outros).  

Nos sets de Transformers conversando com o diretor Michael Bay: um produtor ainda mais eficiente do que se poderia imaginar 


Nesse contexto, é possível vislumbrar que Hollywood, enquanto indústria, deve muito a Spielberg. Não se discute o valor artístico de seus filmes ou mesmo os efeitos do tempo sobre eles. A qualidade de seu trabalho como homem de cinema excede avaliações rasteiras e mal direcionadas. Spielberg, em uma conjuntura tão ampla quanto seus feitos, pode ser considerado o mais importante diretor da história do cinema. Senhor de uma boa narrativa, entusiasta e patrocinador dos avanços tecnológicos, mentor intelectual de novos talentos e empreendedor ousado, Spielberg merece a alcunha de mestre. Sua história, no final das contas, se confunde com a evolução da sétima arte.

3 comentários:

  1. Belo texto!

    Para mim, a importância de Steven Spielberg é porque ele criou, pra mim, um mundo de fantasias e de aventuras, com histórias e personagens que me acompanharam durante meu crescimento e que me encantam até hoje.

    É um dos mestres do cinema. Um dos meus diretores favoritos.

    Beijos!

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  2. Belíssimo Reinaldo!
    Matéria Show sobre Spielberg.

    Nunca duvidei do talento dele, até quando ouvi pela TV a chamada: "Uma produção de Steven Spielberg" pela primeira vez. Nota-se claramente isso em Amblin', Louca Escapada, Tubarão... etc antes mesmo de "A Cor Púrpura", um diretor talentoso e sério no que faz. Precisa levar a sério para se fazer um bom blockbuster. A tal síndrome de Peter Pan é até um equívoco quando relaciona com o tipo de filme que ele sabe fazer melhor do que ninguém. Um excelente produto para a família e a garotada. Não é que ele nunca cresceu, ele só também faz o tipo de cinema que as pessoas necessitam ter de vez em quando. Além de Walt Disney, ninguém como Spielberg levou a cabo esse cinemão pipoca com tanta maestria na qual todos adoram, até os mais chatos pelo cinema de adulto bem lá no fundo, gostam. Tá certo que ele teve filmes irregulares, mesmo assim a mão que afaga é a mesma que bate, e não posso dizer que nunca me diverti com o irregular ‘O Mundo Perdido: Jurassic Park’, por exemplo, mas realmente é feito por telefone. Ou em outro exemplo: até parece que nunca olhei com atenção, mesmo não aprovando, filmes como ‘Amistad’. Até como um diretor distante e menos inspirado, Spielberg sabe levantar a audiência.

    Os anos 1980 foram dele, isso é certo, mas ainda acho que ele sempre terá importância (depois de sua grife, marca) para as platéias até os últimos dias que lhe restarem de vida.

    Olha só que interessante: a nossa geração nunca havia presenciado a criação de um novo estúdio de sonhos em Hollywood. Não estávamos lá quando os irmãos Warner fundaram a W.Brothers e nem quando a Metro deu o primeiro rugido. Qual cineasta teve esse tutano em Hollywood ou o mesmo poder? O colega Lucas continua independente.

    De todos os cineastas e colegas de sua geração somente o Scorsese deu a volta por cima.

    Ótima matéria.
    Abraço.

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  3. Kamila: Obrigado Ka.Realmente Spielberg é O cara!
    bjs

    Rodrigo Mendes: Obrigado Rodrigo. Feedback primoroso como se podia imaginar do leitor que vc é. Eu é que agradeço pelo complemento cheio de perspectiva e entusiasmo que fizeste.
    Abs

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