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sábado, 5 de novembro de 2011

Cantinho do DVD

Filmes sobre crise financeira geralmente seguem por dois caminhos: são estritamente técnicos, afastando qualquer possibilidade de envolvimento da platéia com os personagens ou circunstâncias; ou apelam às emoções para cativar o público e relevam a segundo plano a matéria prima da película em questão. A grande virada, destaque da seção Cantinho do DVD desta semana, consegue arejar esse conceito. O filme, escrito e dirigido por John Wells, é uma parábola vigorosa dos efeitos da última crise financeira de grande porte que o mundo testemunhou a partir de 2008. Com outra crise dobrando a esquina, o filme parece uma boa pedida.



Crítica
Um filme pungente e que elabora muito bem as relações de poder. Essa é uma boa definição de A grande virada (The company men, EUA 2010), filme que marca a estréia na direção de longa metragens de John Wells. O criador da série E.R também assina o roteiro que se desdobra sobre os efeitos da crise econômica de 2008 em uma empresa e, mais especificamente, na vida de um punhado de personagens ligados a ela. Robert Walker (Ben Affleck) é demitido logo no começo do filme. Seu emprego se vai junto com o de outras três mil pessoas. “Nós trabalhamos para os acionistas”, justifica James Salinger (Craig T. Nelson), presidente da empresa, para Gene McClary (Tommy Lee Jones), diretor do departamento afetado pelos cortes.
Antes do término de A grande virada haverá novos cortes. O filme é um retrato prolífero das entranhas da crise no contexto sócio econômico americano. Como ela afetou a vida de diferentes famílias de diferentes classes sociais. Mas não é só. O longa de Wells também faz um estudo rico das relações de poder. Como elas se sobrepõem a amizade e mesmo aos laços familiares. O núcleo encabeçado por Affleck é uma boa ilustração disso. O personagem, que ganhava - fora bônus - cerca de U$ 120 mil anuais, não aceita a súbita mudança de padrão de vida. É aí, em contraste com a angústia experimenta por Gene, que o mais rígido comentário da realização se erguerá. O próprio Gene, que vai contra os interesses da empresa, demitido, separa-se da mulher que representa algo que para ele não faz mais sentido.
A grande virada é um filme de elipses e por isso exige atenção. É um filme, também, de refinado trato. Embora circunde questões econômicas, e demanda familiaridade do espectador, versa sobre humanidades.  
Chris Cooper faz um personagem um tanto emblemático. Aliás, todos o são. Até o caso extra-conjugal de Gene com a responsável pelo RH da empresa (Maria Bello) o é. Estão ali escondidas metáforas de como a América lida com uma crise cruel, inesperada e que redefiniu prioridades para muitos. Mas é o Phil Woodward de Chris Cooper, em grande atuação, que expõe uma ferida de difícil cicatrização. Ao sublinhá-la, Wells não ataca o capitalismo. Apenas põe em relevo suas incoerências e incontinências. Um filme sobre crise e poder não poderia ser mais objetivo naquilo que se propõe. O final otimista não disfarça a conclusão de que são nas crises que nos descobrimos mais humanos. Pelo menos a maioria de nós. 

2 comentários:

  1. Uau! Adorei essa frase "É nas crises que nos descobrimos mais humanos"!
    Vou já colocar esse filme na minha lista dos "tenho que ver já" rsrsrs

    Beijos,
    Aline

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  2. Aline: Acho que vc vai gostar. É um filme muito bom!
    Bjs

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