Grito de liberdade!
À primeira vista, Qual seu número? (What´s your number?, EUA 2011) pode parecer uma grande piada grosseira. E a presença de Anna Faris, de filmes como Todo mundo em pânico e A casa das coelhinhas, pode favorecer essa impressão. Mas o filme de Mark Mylod rapidamente a supera, ainda que vez ou outra uma piada grosseira surja para nos imputar dúvidas.
Ally (Anna Faris) surta quando vê um artigo em uma revista que sugere que uma mulher que passou dos 20 parceiros sexuais não encontrará sua alma gêmea. Ally então decide realizar um inventário de seus exs para certificar-se que o homem certo não escapará de seu crivo. Para isso contará com a ajuda de Colin (Chris Evans), um vizinho mulherengo com um potencial danado para ser o vigésimo primeiro.
Um dos grandes baratos de Qual seu número? é o sarro que tira das convenções machistas que imperam mesmo em um universo feminino, como, por exemplo, nas revistas femininas, cuja estupidez e ridículo são satirizados desde os créditos iniciais. São por convenções sociais que Ally põe toda a sua vida em stand by para descobrir o ex de sua vida e não avançar ao vigésimo primeiro parceiro sexual.
Conforme a busca vai se revelando catastrófica e Ally e Colin vão, conforme dita o manual das comédias românticas, se aproximando, Qual seu número? delineia uma ruptura na estrutura desse tipo de filme. O cara certo e decente não poderia ser o mais errado. O homem dos sonhos da mãe não necessariamente é o homem dos sonhos da filha. Como mostrou Shrek, um ogro pode muito bem ser um príncipe moderno. Essas ideias aparentemente tão desconexas fazem muito sentido quando o clímax de Qual seu número? surge como um grito de liberdade de um gênero que confina suas heroínas a arquétipos pré-estabelecidos. Não deixa de ser interessante ter Anna Faris, uma comediante um tanto anárquica e desbocada, para dar liga a essa proposta um tanto quanto necessária.
O filme é cheio de boas sacadas nesse departamento. Das músicas dos anos 80 (Lionel Ritchie tem um destaque especial) até a gag envolvendo Chris Pratt, marido de Anna Faris na vida real, como Donald nojento, um dos primeiros ex-namorados que Ally rastreia.
Qual seu número? é um filme carismático, divertido e que propõe algo muito mais genuíno do que muitas outras comédias românticas: estipular que o que importa é ser você mesmo (a). O discurso da fita não se ampara, porém, apenas nessa concepção. Irrompe com fronteiras machistas, ainda que haja um pequeno retrocesso na cena final, dentro do gênero.
Inteligente, bem intencionado, com um elenco tinindo e bastante original na proposta e concepção – apresentar como as comédias românticas são machistas e como muito do feminismo é fachada – Qual seu número? vem reforçar um 2011 muito positivo para um gênero com heroínas que gozam de cada vez mais liberdade de escolha e ação.
então o filme vale a pena? bom saber, não estava nada animado com esta comédia. vou assisti-la quando ela resolver dar as caras na minha cidade.
ResponderExcluir[]s
Então, apesar dessas pseudo piadas em relação ao machismo, eu acho que no final ele só as reforça, principalmente pela cena final, mas também pela forma como a personagem de Anna Faris leva a sério a empreitada dela.
ResponderExcluirDessa vez vamos discordar mesmo, Reinaldo, acontece nas melhores famílias. hehe. Eu realmente não suportei o filme.
bjs
Alan: Vale a pena sim. Não reinventa a pólvora, mas sabe manuseá-la...
ResponderExcluirabs
Amanda: Entendo seu ponto de vista. Acho que o que vc chama de "pseudo piada em relação ao machismo" é um recurso de sátira válido para não causar estranhamento. Concordo que a cena final seja um retrocesso (afinal, o gênero comédia romântica ainda está em evolução nesse eixo), mas enxergo uma "agenda feminista" bastante peculiar no filme. Ela havia mandado a merda as convenções que ela mesma obedecia cegamente em nome de seu bem-estar e paixão... É algo que excede feminismo e machismo...
Bjs