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sábado, 22 de outubro de 2011

Crítica - Meu país

Famiglia!

Além do fundo autobiográfico, Meu país (Brasil, 2011), estréia na direção de longa metragens de André Ristum, surge como um estrangeiro dentro da produção cinematográfica nacional. Intimista, valorizador dos silêncios e propenso a reflexão, o longa se configura como uma estréia poderosa para Ristum.
Rodrigo Santoro vive Marcos, brasileiro radicado na Itália, muito bem casado com a filha do chefe que o tem como braço direito no negócio da família. Mas Marcos precisa voltar ao Brasil após a morte do pai (Paulo José) para ajustes burocráticos em relação a herança e dívidas. Marcos não esconde o desconforto da viagem em que reencontra o irmão Tiago (Cauã Raymond), um tipo irresponsável que se projetava na escuridão da jogatina com a leniência do pai. Logo Marcos percebe que, assim como o filme na cinematografia nacional, também ele é um estrangeiro naquele contexto.
As coisas, já suficientemente complicadas, se complicam ainda mais quando Marcos toma ciência de que tem uma irmã, fruto de um relacionamento extraconjugal de seu pai, deficiente mental. É através de Manoela (Débora Falabella) que Marcos e sua família irão expiar angústias e frustrações.

Rodrigo Santoro é a força gravitacional de Meu país e Cauã Raymond funciona como uma bússola 


O drama pincelado por Ristum se desenvolve em camadas e metáforas. O acerto de contas de Marcos com seu passado, com o passado de seu pai e com sua família são prospectos de um futuro impensado, evitado. A angústia e imobilidade que acometem o personagem em face dos desdobramentos da morte do pai vão dando vez a descobertas dolorosas, mas significativas sobre si mesmo e suas vontades.
O fato de Marcos ir se afastando de sua mulher (e da Itália) à medida que mergulha nos problemas da família é revelador do status do personagem, um homem cético, maníaco por controle, profundamente reprimido (só desaba em lágrimas lá pelas tantas do filme) e que carrega mais mágoas do que suporta o olhar. Nesse departamento é preciso louvar, uma vez mais, Rodrigo Santoro. O ator vive Marcos com a insalubridade que a caracterização exige. Uma figura reta, endurecida e de gestos robóticos que vai se transformando e revelando fragilidades com o decorrer da trama. Santoro, que já atuou em inglês e espanhol, fala italiano de maneira convicta e não permite que os rumos da atuação (e do personagem) se desconectem em outro idioma. Ele flui do italiano para o português com esmero e refinamento.
O restante do elenco também contribui para a sutil angústia que permeia o registro. Ristum desenvolve seu filme como um poeta que observa beleza nas tragédias. Meu país é um filme sereno, emocional e, de certa forma, corajoso. Por propor uma reflexão e um embrenhamento tão caros ao cinema em geral, mas tão raros em sua assertividade em uma produção nacional.

2 comentários:

  1. Pois é, o filme me encantou por tudo isso, pela delicadeza, pelos atores, pelo texto que não desrespeita nossa inteligência, pela poesia dessa tragédia, como você falou.

    bjs

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