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sábado, 24 de setembro de 2011

Cantinho do DVD

Existem filmes que parecem ficções científicas e acabam se revelando comédias. Outros, descritos como filmes de guerra, são na verdade dramas viscerais. Acima de qualquer suspeita é um remake de um drama sublime do grande Fritz Lang. Na releitura virou um drama de tribunal raso que se resolve como um filme de mistério muito melhor do que se imaginava possível. Típico caso em que um filme fica melhor pelas opções narrativas do diretor. O que chama a atenção é que Peter Hyams apresenta majoritariamente trabalhos vinculados ao cinema de ação. Por essa soma de fatores, Acima de qualquer suspeita é uma agradável surpresa.




Crítica

Existem remakes que se inferiorizam mediante os filmes originais porque são desnecessários ou porque emulam frivolamente tudo o que já constava do material original, sem avançar conceitualmente ou narrativamente. Não é isso o que acontece com Acima de qualquer suspeita (Beyond a reasonable doubt, EUA 2009), refilmagem do clássico de Fritz Lang Suplício de uma alma (1956). O filme do competente Peter Hyams (Fim dos dias), no entanto, padece de uma ingenuidade que era imperceptível no primeiro filme. Isso porque o direito, ciência social sob a qual o filme se ergue, evoluiu muito e também se tornou mais acessível.
Esse pormenor não faz de Acima de qualquer suspeita um filme equivocado, mas torna a guinada do roteiro que arma o terceiro ato do filme, improvável.
Na fita, o jovem jornalista C.J Nicholas (Jesse Metcalfe) desconfia que o promotor de justiça (Michael Douglas) se vale de artifícios corruptos para obter condenações. Nicholas então, com ajuda de um colega, trama um ardiloso plano para desbaratar o esquema do promotor.
O jornalista assumiria um crime, aparentemente insolúvel, permitindo que a investigação tivesse acesso a provas circunstanciais (produzidas pelo próprio) – que em si não seriam suficientes para um veredicto favorável à acusação – e revelaria a farsa quando ficasse caracterizado que o promotor corrompeu as evidências. O problema é que o colega de Nicholas é assassinado no momento em que a revelação seria feita.
Acima de qualquer suspeita, portanto, excede sua premissa quando já marca 40 minutos de projeção. Até lá, Hyams não esconde em momento algum sua pretensão de brincar com as expectativas da audiência. Desde a cena inicial, o diretor sinaliza que a construção de seu filme tende a jogar com as deduções do público. É ao propor esse jogo, e o delinear com sagacidade narrativa, que Hyams consegue melhorar seu filme. Resolvendo-o como uma trama de mistério quando se pensava ser um drama de tribunal. Dessa perspectiva, a ingenuidade demonstrada na caracterização da promotoria de justiça com ares de máfia torna-se justificável e até mesmo perdoável.
Outro porém do filme é seu protagonista. Apesar de esforçado, Jesse Metcalfe não reúne recursos suficientes para compor um personagem tão tridimensional quanto o seu C.J Nicholas. A sorte de Hyams é contar com Michael Douglas como o promotor corrupto. Douglas, sem muito esforço, prova que certos atores são capazes de desviar nossa atenção das coisas mais óbvias e irritadiças.

3 comentários:

  1. Esse é um filme legal mesmo, não sabia q era um remake. Enfim, tb passou despercebido de boa parte do público. Pena, pois merecia ser descoberto. Otima crítica! Abração!

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  2. Interessante a análise, Reinaldo, principalmente em relação a distinção do original. Só não comento mais porque confesso que ainda não vi o remake.

    bjs

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  3. Celo: Valeu meu caro! Pois é, o lançamento foi direto nas locadoras e sem grande alarde. uma pena!

    Amanda: Obrigado Amanda. Espero que, quando assista, goste.
    bjs

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