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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Filme em destaque: Melancolia

O dinamarquês Lars Von Trier, que na foto orienta os principais nomes de seu elenco, apresenta um trabalho de profunda ressonância emocional e sensorial. Claquete ajuda a desvendar a Melancolia de Von Trier


Lars Von Trier tem fama de falastrão. O dinamarquês gosta de tecer comentários sobre muitas coisas. Na promoção de Melancolia, no entanto, ele pouco falou sobre o filme. Não por recusar-se, como fizera à época do lançamento de seu predecessor (AntiCristo), mas por enfiar os pés pelas mãos (aparentemente), em entrevista coletiva em Cannes. De qualquer maneira, Melancolia foi o filme mais comentado do último festival de Cannes – de onde saiu com a Palma de ouro de melhor atriz para Kirsten Dunst.
Von Trier abre seu filme, assim como fizera em AntiCristo, com um prólogo de beleza irrepreensível amplificado pelo potente som da ópera Tristão e Isolda de Richard Wagner.
O prólogo de aproximadamente dez minutos antecipa, de forma intuitiva e simbólica, os eventos que se seguirão nas duas partes que compõem o filme: Justine e Claire. Os nomes das irmãs com as quais Von Trier encena sua versão do fim do mundo.
Melancolia é o planeta, até então ignorado, que irá colidir com a Terra. Melancolia é, também, o estado de espírito da protagonista Justine (Kirsten Dunst). “Não diria que este é o meu filme mais intimo, mais pessoal, mas certamente é dos que mais me orgulho de ter realizado”, afirmou o cineasta em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo.
Pessimista inveterado, Von Trier admitiu, e foi das poucas coisas que admitiu em relação a AntiCristo, que concebera aquele filme em meio a uma depressão muito forte. De certa forma, e Von Trier não descarta essa interpretação, Melancolia é um avanço temático. “É um filme que não poderia ser concebido antes de AntiCristo”, escreveu o Hollwood Reporter em sua crítica à época do festival de Cannes.

Kirsten Dunst, que se entrega despudoradamente ao diretor, em um poderoso close que abre Melancolia


Curiosamente , é de se supor, que Melancolia tivesse um tom diferente caso Penélope Cruz interpretasse Justine. O papel foi escrito para a atriz que chegou a aceitar o convite, mas desistiu para gravar (e ganhar mais) Piratas do Caribe: navegando em águas misteriosas. Kirsten Dunst foi contratada e uma das razões que mais a seduziu no papel de Justine foi que havia, assim como Von Trier, vivenciado um doloroso e lento processo de depressão. A terapia lhe rendeu o prêmio em Cannes e o convite de Von Trier para estrelar seu próximo filme, The nymphomaniac, nas palavras do próprio diretor um pornô filosófico sobre “ a evolução erótica da mulher”.
Von Trier seguirá radicalizando. O diretor que conseguiu se tornar persona non grata no festival que mais o projetou é essa dicotomia ambulante. Esse conclave publicitário de encontro ao artista incendiário e transparente. Melancolia é, de certa forma, a afirmação artística de um cineasta que vive em conflito consigo mesmo. É, nesse aspecto, um filme testamento. Há todo o talento de Von Trier posto à prova de uma história que deflagra tristeza e encantamento, mas também hesitação.

2 comentários:

  1. Tô tão ansiosa para assistir a este filme, apesar de achar que ele vai demorar pra chegar por aqui...

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  2. Kamila: Poxa, que chato né?! Mas quando assisti-lo, desconfio que gostará.
    Bjs

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