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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Crítica - A árvore da vida

Sobre humanidade...


Talvez A árvore da vida (The tree of life, EUA 2011) não seja um filme para se gostar. Certamente não é do tipo para desgostar. É difícil elaborar a relação que o espectador terá com a nova obra de Terrence Malick. Assim como seus filmes anteriores, o tom contemplativo prevalece, mas a proposição existencialista intrínseca à narrativa faz com que a fita assuma um viés polarizante irrevogável.
Em um primeiro momento A árvore da vida se abre para as mais distintas interpretações. Esse movimento se dá pela opção de Malick em evitar conflitos em seu filme. O grande conflito é externo. Afinal, qual é a função do homem no planeta? Podemos definir a essência da vida? São questões que Malick, convergindo graça e arrogância, tenta responder em duas horas e meia não cronológicas de filme.
E consegue? Não necessariamente. Há quem possa dizer que a ideia não era prover respostas, mas fomentar a reflexão. Não deixa de ser um raciocínio válido, ainda que incompleto. Desde as imagens que remetem à criação do universo, passando pela evolução das espécies, o que Malick parece dizer é que a espiritualidade é o caminho para o homem aceitar sua insignificância ante tamanho gigantismo da natureza. Logo no início da fita é colocada a questão entre o caminho da graça e o da natureza. O off dos personagens reproduz questionamentos que caracterizam angústias não só dos personagens, mas do público também.
Ainda sobre esse off, ele se prova um recurso anacrônico em A árvore da vida. Embora traduza o estado de espírito dos personagens e a linha de raciocínio do filme de Malick, ele empobrece as próprias imagens que o diretor cria. A experiência sensorial surge inconvicta mediante a opção de sublinhar a própria grandiloquência. Em contrapartida, se não fizesse isso, Malick corria o risco de não se fazer entender. Isso tudo ocorre porque o diretor decidiu afastar-se de alguns dogmas do cinema. Não por decidir-se por não ser comercial ao apresentar uma história de perda familiar de maneira metafísica, mas por fazê-lo de maneira viciada.
A árvore da vida não deixa de ser mais um filme em que Malick demonstra seu interesse antropológico. A fita se relaciona – e isso é saudável – com os trabalhos anteriores do diretor. O interesse em entender o homem é um dos meios para entender a natureza, o universo. Malick nunca escondeu isso. Essa disposição faz bem à A árvore da vida. As relações no seio da família O´Brien estabelecem um painel, ainda que conservador, belo e pungente sobre angustias humanas universais. O rigor do pai (Brad Pitt) e a graça da mãe (Jessica Chastain) digladiam-se dentro de Jack (na infância Hunter McCracken e na fase adulta Sean Penn) e essas reminiscências vão ao encontro da literatura filosófica e terapêutica.

Disciplina, amor e reflexão: três palavras de ordem em A árvore da vida


Malick acerta ao fluir o ponto de vista da narrativa. Predominantemente infantil – assumindo a perspectiva de Jack, inclusive no nível da câmara - e por vezes se posicionando como observador (e Sean Penn geralmente aparece quando essa é a situação).
É inegável que Malick fez um filme para se divagar a respeito. A ideia, mais do que a preocupação se A árvore da vida será apreciado ou não, parece ser se o filme transmite toda a pluralidade do pensamento humano sobre si e sobre o espaço que ocupa.
É nesse aspecto que a trama falha. Plasticamente belo, o que ajuda a forjar uma complexidade inexistente em termos de proposta, A árvore da vida falha em sua afirmação primal. É, sem dúvidas, um filme de referências filosóficas inesgotáveis, mas referências não garantem legitimidade em qualquer trabalho que se apresente. Apenas permitem que essa legitimidade se eleve. As conjecturas de Malick impressionam na mesma medida que cansam espectadores dispostos a uma experiência metafísica mais profunda ou a um exercício intelectual mais altivo. Como de hábito em sua filmografia, Malick ficou imerso entre ambos. Não é o pior dos mundos, mas torna imerecida a alcunha de obra-prima.

10 comentários:

  1. Me parece ser lindão.

    http://cinelupinha.blogspot.com/

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  2. As repercussões contraditórias em Cannes (vaiado na sessão, mas premiado depois) sempre me deixaram desconfiado. E, desde que esse filme entrou em cartaz, as opiniões se dividem bastante. Confiro no final dessa semana...

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  3. Filmaço!
    Bacana a crítica.
    Também fiz minha crítica. Olha aqui:
    http://cinelogin.wordpress.com/2011/08/15/cinema-critica-a-arvore-da-vida/

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  4. Pretendo assistir e sei que Malick é um cineasta diferenciado.

    O belo "Além da Linha Vermelha" é uma grande viagem, uma visão diferente sobre a guerra.

    Abraço

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  5. Como já disse no Cinebulição. Preciso muito ver este filme. Opiniões variadas estão em toda a parte! Um abraço!

    Visite meu blog Reinaldo, espero que goste!

    cinemapelaarte.blogspot.com

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  6. Concordo com você. Sua abordagem é muito semelhante ao que penso sobre o filme, o que me deixou feliz ver um blogueiro parceiro que tem uma linha de análise desconfiada para o filme, como eu tive...

    Vejo o filme mais como teológico que antropológico, embora ele seja as duas coisas, mas em intensidades completamente diferentes, a primeira sobressaindo-se à segunda.

    Eu gosto do Malick, mas como escrevi na minha crítica por aqui no CINEBULIÇÃO, acho que ele levou muito a sério o seu batismo místico. Não há exagero maneirista demais, aqui? Mais um pouco e nos lembraria o barroco, pela saturação!!!

    Enfim, gosto do diretor, acho esse filme uma das coisas mais BONITAS que eu já vi no cinema, mas é um filme fraaaaaaaco de dar dó, e, na minha opinião, mal amarrado e bastante vazio. Digo isso porque o filme pretende bastante coisa, mas abriu caminhos demais, "abstratamente" demais...

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  7. As críticas são boas, espero ver logo, logo. promete ser um dos filmes do ano.

    http://algunsfilmes.blogspot.com/

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  8. Celo: Mas que mania é essa de só ler crítica depois de ver o filme?! rsrs
    abs

    Rafael: Lindo é, mas como beleza não põe mesa...
    abs

    Matheus:É um filme que abraça mesmo o contraditório...
    Abs

    Tripedante: Não achei um filmaço não. Achei beeeem distante de um filmaço.
    Abs

    Hugo: Além da linha vermelha ainda é o melhor de Malick...
    Abs

    Emmanuela:Acho que vc vai gostar. Mas irá hesitar em apontar o filme como obra prima.
    bjs

    Luiz:Acho que o espiritualismo - que vc nomeia aqui como interesse teológico, deriva desse interesse antropológico que pauta toda a filmografia de Malick. Aqui ele é mais audacioso e envoca uma reflexão pseudo filosófica para abalizar esse interesse antropológico. Enfim... de qualquer maneira, esses interesses se correlacionam.
    Aproveitando o ensejo, não sei o que houve, mas eu não ativei essas letrinhas não. A publicação do comentário aqui em Claquete é instantânea.Tb acho um tanto quanto contrproducente essas letrinhas, mas respeito a preferência de muitos blogueiros. Mas aqui em claquete, nunca fiz uso desse dispositivo.
    Abs

    Marcos Rosa: Caro Marcos, as críticas são bem divididas. Acho que vc deve ter dado a sorte (ou azar, vai saber) e só leu críticas boas...
    A crítica de Claquete não busca patentear o filme como bom ou ruim e sim problematizá-lo.
    Abs

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  9. Reinaldo, filme maravilhoso! Não é para tds os os gostos mesmo, na sala q estava algumas pessoas sairam com 30 minutos, pena não darem chance. O teu texto ta muito bom, tb escrevi sobre ele, depois da uma olhada. Grande Abraço!

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