Por que os americanos adoram os filmes ingleses? Uma das respostas para essa pergunta remete ao fato de que ninguém detém um senso de humor tão prolífico, envolvente, mordaz e certeiro quanto os ingleses. Mas a globalização está amansando o cinema da terra da rainha que anda se americanizando. Um bom exemplo é Um louco apaixonado, destaque de Cantinho do DVD desta semana. O filme começa bem inglês, no humor e na narrativa, e termina bem americano. Simon Pegg, o britânico da hora depois de Colin Firth, estrela esse divertido filme a frente de um elenco de estrelas: Jeff Bridges, Gillian Anderson, Danny Houston, Kirsten Dunst, Megan Fox e com pontas dos britânicos Kate Winslet e Daniel Graig.
Sidney Young (Simon Pegg) é um jornalista inglês que trabalha em uma revista semi-amadora com o objetivo de ironizar celebridades e seu modo de vida. Após um incidente que causa muita mídia, ele é convidado pelo editor da revista Shaps (um decalque da americana Vanity Fair), Clayton Harding (Jeff Bridges) para trabalhar em sua publicação em Nova Iorque. Sidney, em um misto de deslumbramento e inadequação, vai demorar a se ajustar ao novo emprego.
A princípio, Um louco apaixonado (How to lose friends & alienate people, ING 2008) é uma excelente comédia de humor negro sobre a ditadura do politicamente correto. O filme também funciona como ótima alegoria sobre como o senso de humor inglês, sempre mais afiado, muitas vezes colide com as fachadas americanas. Em um segundo plano, a fita de Robert B. Weide é um atentado contra as idiossincrasias desse particular mundo do jornalismo, também conhecido como celebrity gossip. A visão cínica de Sidney se confronta com sua disposição de adentrar aquele mundo (o shangri la¹, na definição do próprio Sidney). Essa dicotomia, embora não seja aprofundada, aproxima Sidney do público que – a primazia – nutre os mesmos sentimentos em relação aquele mundo.
Contudo, Um louco apaixonado deseja ser outro filme que não essa mordaz crítica ao establisement americano. Weide acredita que pode tirar uma comédia romântica da cartola e enfraquece uma fita que estava indo muito bem.
Sidney, que até então estava disposto a fazer um pacto com o diabo (renunciar a certos princípios da profissão) para dormir com a estonteante atriz Sophie Maes (Megan Fox), descobre-se apaixonado pela colega de redação vivida por Kirsten Dunst. Na meia hora final o filme se transforma em uma corrida pelo ouro. Sidney renuncia a seus princípios para em um estalo reavê-los e partir em busca de sua paixão. Essa rasura no sentido do filme diminui a força de Um louco apaixonado (e o título nacional surgiu dessa meia hora final) enquanto cinema, mas não reduz seu impacto total. Um louco apaixonado ainda é uma genial paródia desse mundo de plástico que tanto parece nos fascinar.
1 – da criação literária do inglês James Hilton, O horizonte perdido. É descrito como um lugar paradisíaco situado nas montanhas do Himalaia, onde o tempo parece deter-se em ambiente de felicidade e saúde, com a convivência harmoniosa entre pessoas das mais diversas procedências.
Eita, e eu pensando que era uma comédia completamente dispensável... Vou procurar ver!
ResponderExcluirAlan: É um filme de boas piadas. Principalmente para quem gosta de cinema e de jornalismo.
ResponderExcluirAbs