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domingo, 1 de maio de 2011

Insight

A nova estratégia falida de Hollywood

É contingencial da posição de um executivo, esteja ele no ramo em que estiver, objetivar o lucro. Cada vez maior e insidioso. Em Hollywood esse mantra vem embalado em glamour. Mas vem. Nas sombras da briga contra a pirataria, os estúdios de cinema travam outro combate – que talvez seja ainda mais alarmante: reverter a tendência de queda de bilheterias verificadas nos últimos anos (a sofisticação do home vídeo e a qualidade dos streamings na internet seriam a base capilar do fenômeno). É verdade que há anos pródigos como os de 1999, 2004 e 2009, em que as bilheterias americanas registraram picos de ingressos vendidos. Mas a tendência geral é de queda. Como nos EUA o cálculo básico para aferir o sucesso de um filme se dá pela contagem dos milhões de dólares e não pelo público pagante, a tendência de queda é maquiada pelos inflacionados preços do ingresso. Ainda mais em época que o 3D está na moda. Mas os CEOs dos estúdios dormem com suas planilhas de metas e sabem que precisam melhorá-las. Nesse sentido, tal qual discípulos do professor Pardal, desenvolvem uma série de medidas – fruto de engenharias canhestras – com vistas a incrementar o faturamento de seu negócio: o cinema.
A mais nova estratégia de um punhado de estúdios (nominalmente Fox, Sony, Warner e Universal) é disponibilizar filmes no serviço on demand da Direct TV, 60 dias após o lançamento nos cinemas. O serviço, a princípio, só atenderia o público americano e seguiria um critério um tanto quanto subjetivo na cartilha de ofertas: filmes para a família.
Em 21 de abril foi disponibilizado o primeiro filme nessa plataforma: Esposa de mentirinha, estrelado por Adam Sandler. Outros lançamentos programados para o On demand da Direct Tv são Passe livre, dos irmãos Farrely e Sobrenatural, de James Wang.
A justificativa oficial da empreitada é de deixar o entretenimento mais democrático e possibilitar que o espectador eleja a melhor maneira de assistir o filme. O preço, em si, não é convidativo. O filme, em casa, 60 dias após a estréia nos cinemas custa U$ 30. Por mais 60 dias, é possível alugá-lo por U$ 4. Ou assisti-lo na estréia por um preço que varia entre U$ 8 e R$ 20.
Os críticos da medida argumentam que a estratégia não só é nula, sob o jugo da reversão da tendência de queda nas bilheterias, como pode municiar ainda mais a pirataria. E eles estão certos. O atual presidente da Motion Picture Association of America, o senador Chris Dodd, afirmou que a medida pode precipitar uma crise no mercado de cinema. Salas de exibição fechando, o cinema independente com ainda menos espaço, o fim da negociação dos direitos com TV e queda violenta nas vendas de DVDs e Blu-rays. É um cenário preocupante.

Cena de Passe livre, um dos lançamentos on demand na Direct TV americana: será que um filme com péssima bilheteria pode se salvar no on demand? 



Mais de 30 diretores, entre eles os oscarizados James Cameron, Peter Jackson, Ang Lee e Kathryn Bigelow, assinaram um manifesto contra a nova estratégia dos estúdios. “Estão querendo acabar com a magia do cinema. O frenesi da sala escura. De descobrir um filme em meio aquele ritual coletivo silencioso”, exclamou Peter Jackson, um dos mais engajados na causa.
A estratégia é falida porque, como prova a última temporada do Oscar (em que mais de 10 filmes concorrentes ultrapassaram a marca dos U$ 100 milhões nas bilheterias), o que o público quer são filmes que valham o ingresso. Tanto em casa quanto no cinema. Nesse contexto, um filme como Esposa de mentirinha não vale o ingresso nem em casa nem na sala escura.
Além de macular o encadeamento do negócio que matiza, os estúdios podem estar – justamente pela mira dos executivos no lucro – ferindo de morte o brilho de um prazer secular: ir ao cinema.

5 comentários:

  1. Eu AMO ir ao cinema (ver o filme que eu quero)...e depois repetir a dose na minha home theather. Livre arbítrio né? Pensando bem não adianta muito o Peter Jackson e CIA dizerem um discurso até um tanto cínico. Creio que LOVELY BONES decepcionou a maioria...mas OI vem O HOBBIT por aí...ele pode ficar sossegado! Rs!
    Abs. Amigo!

    RODRIGO
    p.s. cantaram a Liza Minnelli e o Joel Grey: "Money makes a world go around..."

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  2. Arrematou o texto com perfeição, Reinaldo. Assino embaixo. O que o público quer realmente são filmes que valhem o preço do ingresso. Sem falar que a declaração de Jackson não poderia ser mais plausível; eu, por exemplo, não perco a oportunidade de assistir a um filme na telona, é outro impacto, é outra sensação.

    Faço downloads, sim, mas de filmes que não estreiam no Brasil e que eu tenho plena noção de que nunca virão para o cinema da minha cidade. Mas, por intenrvenção divina ou algo do tipo, dá a louca aqui nos programadores das salas e eles trazem filmes que eu jamais esperaria, como "Tetro", que eu assisti pelo Torrent, mas depois fui conferir em película. Experiência única e, não sei se o espaço em que eu estava interferiu, mas acabei gostando ainda mais do filme do Coppola hehe.


    abs!

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  3. Reinaldo, pois eu acho justamente o contrário. Quem gosta de ir ao cinema, vai sempre ao cinema. A estratégia dos estúdios é justamente tentar atingir aquelas pessoas que não gostam de ir ao cinema e que preferem ver o filme em casa mesmo... Sinceramente, não sou tão radical em relação a esse tema!

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  4. Rodrigo: Te entendo Rodrigo, mas a preocupação exposta no artigo excede apenas o mercado exibidor e as bilheterias do estúdio. As salas de cinema diminuiriam, o cinema independente teria cada vez menos espaço, o mercado de home video seria redefinido... não sei até que ponto o discurso é cínico não. Acho que esse modelo já nasce com sérios problemas. Espero, francamente (e desconfio que), não vingue.
    Abs

    Elton: Acho que é preciso valorizar a arte. O lucro deve ser ambicionado, mas o buraco aí é mais embaixo. Além do preço salgado e da janela mais curta (o que desagrada público e indústria respectivamente), há outras problemas com esse modelo de negócio.Acho que o artigo cobre bem isso.
    Abs

    Kamila: Veja bem Ka, eu sou contra esse modelo de negócios,mas não expresso minha opinião no artigo. Estou expressando-a aqui nos comentários. A estratégia dos estúdios é clara em fornecer mais alternativas a um público mais segmentado. O que se argumenta é que haverá danos colaterais que no médio e longo prazo podem ser fatais para esse prazer que é ir ao cinema. Me diga como ir ao cinema com cada vez menos oferta de salas e preços cada vez mais inflacionados? Esse é um dos perigos capitais alavancados por essa estratégia míope em termos estruturais.
    bjs

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  5. Nossa, Reinaldo,

    Só peguei agora esse seu texto. Concordo em gênero, número e grau. Quando é que eles vão entender que é uma boa história que move as pessoas, que a propaganda boca a boca continua firme e forte (agora no twitter e no facebook)? Não sei, me parece um tiro no pé. Torço para que a ideia não vingue. A experiência de um boa filme na sala escura não tem preço.

    Bjs

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