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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Crítica - Cisne negro

Poderoso!


Darren Aronofsky não é conhecido por ser um cineasta sutil. O que em muitos é defeito, no diretor de filmes como Réquiem para um sonho (2000) e O lutador (2008) é a cristalização de um dos maiores trunfos de seu cinema. A grandiloquência de Cisne negro (Black Swan, EUA 2010), essa obra prima moderna que dialoga com o clássico em forma, conteúdo e reverberação, é sintomática da necessidade de Aronofsky em chocar seu público. Remanejá-lo de sua zona de conforto. Essa condição ajuda a entender porque Aronofsky promoveu uma pequena revolução em seu cinema. De câmera em punho assombra seus protagonistas. Já fizera isso ao combalido Mickey Rourke em O lutador e torna a fazê-lo com a frágil Natalie Portman no novo filme. Esse recurso é mais um da cartilha do cineasta para transportar o público para dentro da ação fatigante que é viver a vida de Nina Sayers (Natalie Portman).
O diretor imprime um tom cada vez mais insidioso no desvelo da trama. Aos poucos, Cisne negro vai ganhando dimensão como horror psicológico e se alvorecendo como um drama de proporções maiúsculas sobre aquela personagem que na busca pela perfeição se perde de si mesma. Há quem ache ruim no filme sua vocação para explicitar visualmente todo o caos emocional da personagem. O tangenciamento de suas alucinações nunca é óbvio. É sugerido de forma enfática, nunca prolixa. Colaboram para essa sensação de agigantamento, a magnífica trilha sonora assinada por Clint Mansell – a partir da obra de Tchaikovsky - e a montagem inebriante de Andrew Weisblum.

Espiral de loucura: Aronofsky funde horror psicológico ao drama  


Ao filmar os bastidores de uma companhia de balé, Aronofsky está menos interessado na forma de arte e mais na maneira como sua protagonista se relaciona com essa arte. A representatividade desta em um âmbito emocional. Esse interesse já estava em O lutador (sendo a luta livre uma expressão de arte mais modesta, é verdade). Em Cisne negro ele é potencializado pela poesia nefasta entre beleza e feiúra que não se pressente no mundo do balé, porém, é intrínseco ao mundo de Nina Sayers.
Ao pautar seu filme de um frenesi crescente, Aronofsky estava ciente de que acumularia detratores, mas também tinha consciência dos resultados que obteria em termos dramáticos.
Aronofsky submete Natalie Portman a uma via crúcis das mais tenebrosas. A atriz entrega uma das atuações mais poderosas, desprovida de vaidade e cativantes dos últimos tempos. Tão grandiloquente quanto o filme deseja ser, Portman interioriza toda a carga emocional de sua personagem que precisa liberta-se de suas inibições. Uma performance que dialoga em níveis subliminares com a personagem. O registro é tão cuidadoso, e calculadamente hiperbólico, que isso transparece para o público quando necessário; na apoteótica cena final.

Eu sou você amanhã: Natalie Portman e Winona Ryder dividem a cena em uma das muitas cenas impactantes do novo filme de Aronofsky



O restante do elenco esbanja competência. Em especial o francês Vincent Cassel que como o intrusivo diretor da companhia brilha intensamente e assim como seu personagem provoca Nina para que ela se solte; Cassel propicia a Portman seus arroubos de grandeza no filme.
Com cinco indicações ao Oscar (filme, direção, atriz, fotografia e montagem), Cisne negro é aquele filme que submerge a força de sua intérprete. Se Natalie Portman está soberana, é porque Darren Aronosfky a ilumina dessa forma. Optasse por um registro mais sutil e menos sexual (na forma despudorada como expõe seus personagens e suas entranhas), não causaria um impacto tão devastador em seu público. A música insidiosa de Tchaikovsky encontrou um cineasta que soube traduzi-la em imagens de semelhante impacto.

8 comentários:

  1. Grandioso, tocante, tenso e perfeito!
    O filme é todo INTENSO em suas esferas técnicas e, principalmente, interpretativa.

    Natalie Portman é deusa aqui, expressa uma interpretação única. A maneira como sua personagem se desnuda, aos nossos olhos, é algo revelador...e a mão cuidadosa de Aronofsky ajuda, ao colocar a personagem aos nossos olhos e sentidos, com todas suas fragilidades e anseios, é assombroso.

    O filme pulsa, é todo psicológico. Me arrepiei bastante. A cena em que Nina explode, visualmente e metaforicamente, seu "Cisne Negro" desde já é um momento clássico do cinema moderno.

    Belo filme mesmo!

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  2. Olá!!

    "Cisne Negro" está repercutindo de forma impressionante, muitos parecem impressionados por esta obra-prima lúgubre de Aronofsky. Eu estou apaixonada, o filme ainda ecoa na minha mente, tão nítido, tangível. Natalie Portman está MAGNÍFICA! Sua submissão ao estilo do excêntrico diretor é algo absolutamente espetacular.

    Parabéns pela análise uma das melhores que li até o momento!

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  3. Simplesmente FANTÁSTICO!!
    O diretor consegue trazer um trabalho de arte de fácil entendimento e que chama o público ao invés de afastá-lo.
    A emoção e o suspense crescem com o passar do filme e chega a transbordar na cena final que pra mim já se tornou histórica!
    Sempre fui fã de Natalie, então sou suspeito pra falar, mas ela sempre está fantástica. E se não ganhar o Oscar ficarei indignado. rs
    Montagem incrível, figurino, trilha, edição...
    Pra mim é nota 10!

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  4. Poderoso sim, grande filme, uma cartase imensa. E Aronosfky soube contar muito bem essa história com suas escolhas. Só ressalto que da mesma forma se Portman não se entregasse de corpo e alma ao personagem, tudo poderia soar menor. É um conjunto e muito bem feito. Foi o filme que mais me impressionou dos últimos vistos.

    bjs

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  5. Grande filme. A Natalie agarrou seu personagem com unhas e dentes.

    Abraços

    www.ofalcaomaltes.blogspot.com

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  6. Poderoso! Já disse tudo no título de sua crítica, no ponto Reinaldo, como sempre você trouxe algumas nuances que não tinha notado.

    Vou rever de novo e de novo. Adorei este filme, um tipo de história que me prende na poltrona.

    A relação de Mela e Natalie é algo sensual e aterrador, tudo explícito. Aronofsky não conhece a palavra atalho.

    Um filme que será para sempre discursivo. E não é exagero.

    Abs.
    Rodrigo

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  7. È de tirar o fôlego, acho que é o filme definitivo de balé, por mostrar os bastidores, com aquela rivalidade e pressão física e mental, não somente a parte perfeita das danças.

    Beijos! ;)

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  8. Cristiano: Intensidade. Taí uma boa definição para esse grande filme do Aronofsky... abs

    Emmanuela: Poxa, obrigado mesmo pelo elogio e reconhecimento. Cisne negro é um filme que mexe contigo mesmo. E o que dizer da atuação de Natalie né? Sublime! Bjs

    Daniel: Não daria um dez, mas um 9 é certerza. Abs

    Amanda: o negócio da direção do Aronofsky é que ele queria te provocar justamente isso. "Ser um dos filmes que mais te impressionaram nos últimos meses". Bjs

    Antônio Júnior: é verdade! Abs

    Rodrigo: Obrigado meu amigo. Tudo explícito e não é exagero. Duas sábias verdades! Abs

    Mayara: Não sei se é o filme definitivo sobre balé, mas certamente flerta perigosamente com essa noção. Bjs

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