Páginas de Claquete

domingo, 30 de janeiro de 2011

OSCAR WATCH 2011 - Insight

Por que A rede social é o filme do Oscar?



Existem paixões. Há quem adore o filme de David Fincher e há quem enxergue nele um produto bem realizado, mas aquém das expectativas que orientam a classificação de um filme como o melhor do ano. Para estes, A rede social é demasiadamente frio, didático e anticlimático. Como produção de época (sim, porque embora se desdobre pelos últimos seis anos, A rede social é concebido como um filme de época), a fita é mesmo adepta da inflexão. Para isso prescinde de provocar emoções profundas, algo diferente de outra produção de época bem cotada no Oscar (o inglês O discurso do rei). Mas não é por essa opção em ser cerebral (uma característica marcante do cinema de David Fincher conforme delimitado quando o cineasta foi foco da mostra Panorama aqui do blog) que A rede social é “menos ou mais filme”. A rede social é o filme da 83ª cerimônia do Oscar porque é aquele que sintetiza uma geração, um fenômeno social e o faz em excelente forma cinematográfica. Essa condição não muda, ganhe o filme o Oscar ou não. Justamente por isso, Claquete já apontava desde novembro o filme como a principal produção dessa edição do Oscar. Ocorre, em certo nível, algo semelhante ao que aconteceu ano passado. Muitos críticos da premiação a Guerra ao terror pela academia argumentavam que ninguém se lembraria do filme de Kathryn Bigelow e que a academia deveria ter aproveitado a chance de premiar Avatar, um filme que – independentemente da percepção que se tem dele em relevo dramático – é um marco. A rede social, no entanto, conta com o apoio da crítica (assim como o filme de Bigelow). Essa equação aproxima o filme de Fincher tanto de Avatar (por ser o filme que merece ser premiado por razões que prescindem de seu arranjo dramático) quanto de Guerra ao terror (por ser um filme exaltado pela crítica, até mesmo em maior escala).
A polarização em torno de A rede social encerra o debate. Mesmo que o filme de Fincher não prevaleça em 27 de fevereiro – e essa é uma possibilidade maior do que muitos imaginam – a história lembrará deste como o ano de A rede social. É, sem sombra de dúvidas, o filme mais significativo do ano. O que não quer dizer que seja o mais simpático. Não fosse o endosso da crítica e o filme de Fincher provavelmente teria sua presença no Oscar diminuída em equivalência, por exemplo, a Cisne negro – o filme sombrio sobre rivalidade e obsessão que Darren Aronofsky rodou sobre o universo do balé.
A rede social obteve status de favorito pelo jugo da crítica, em alta depois de emplacar Oscars imerecidos a Guerra ao terror (e que fique claro que não era Avatar que os merecia), e pode juntar-se a Cidadão Kane (com o qual guarda inúmeras semelhanças) no rol de grandes filmes não laureados com o Oscar de melhor filme justamente pelo alto endosso da crítica. A academia pode reagir de maneira distinta, em comparação ao ano passado, e optar por não seguir o voto da relatoria (a crítica) e escolher O discurso do rei ou Bravura indômita como o melhor filme de 2010. De qualquer jeito, é irrevogável a condição de filme do Oscar que A rede social conquistou. E essa condição, como já provado, não tem nada a ver com a crítica.

3 comentários:

  1. Verdade, boa análise, acho que o Oscar está quase nas mãos de Fincher, mas, não vi ainda O discurso do rei, e ele tá ganhando espaço. Ainda assim, Rede Social é um retrato do nosso tempo.

    bjs

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  2. Assim, eu acredito que a imprensa dita as regras de quem vai ser considerado e quem vencerá o Oscar. Desde o princípio, "A Rede Social" foi o escolhido pela imprensa. O resto das premiações segue o buzz criado por eles. Eu considero "A Origem" um filme melhor, mas reconheço que "A Rede Social" é um filme atual, sobre a sociedade de hoje e que conta uma baita história. Se ganhar o Oscar, merecido.

    Posso dar uma sugestão? Analisa o crescente buzz em torno de "O Discurso do Rei". Será que dá tempo do longa inglês reverter a vantagem de "A Rede Social"??

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  3. Amanda: Obrigado. Vamos ver que bicho vai dar né?

    Kamila:Não acho isso Ka. Ano passado a crítica recuperou um pouco da influência perdida e, ao que tudo indica, é tudo influência-não antecipação como vc propõe. É lógico que a crítica delimita o que vale a pena ser vistou ou não, mas o gosto da crítica é, na maioria das vezes, mais refinado do que o da academia.
    Ótima sugestão. Em fevereiro vai ter muito O discurso do rei aqui no blog e, obviamente, essa trincheira entre o filme de Hooper e o de Fincher será pormenorizada. Bjs

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