Páginas de Claquete

domingo, 16 de janeiro de 2011

Claquete repercute - Extermínio




A crítica cultural e muitos telespectadores se assombraram há alguns meses atrás com a estréia da série The walkind dead, em que poucos humanos tentam a sobrevivência após um holocausto zumbi. A série começava com um homem saindo do coma e descobrindo um mundo mutilado e de silêncio ensurdecedor. Esse começo é emprestado do último grande filme do diretor inglês Danny Boyle. O filme em questão é Extermínio (28 days later, ING 2002). Boyle reconfigurou o status dos zumbis nos cinemas. O que pode ser tomada como a grande contribuição desse filme, ainda não a é, mas certamente não deixa de ser uma atualização interessante. Saem de cena os zumbis clássicos viabilizados pelo cinema do mestre George Romero (e revisitados com a devida referência por Zack Synder em Madrugada dos mortos de 2004) e entram essas criaturas que não necessariamente estão mortas e sim infectadas por uma variação do vírus da raiva. A transformação em zumbi se dá em segundos e a capacidade de locomoção é muito mais veloz do que estávamos acostumados a ver nos cinemas. Os zumbis de Danny Boyle são criaturas caóticas e bem mais assustadoras do que os zumbis tradicionais. Até pelo fato de que o risco de se tornar um deles, além de maior, é mais presente.
Na trama, Jim (Cilliam Murphy) aos poucos vai digerindo a condição deste novo mundo e seu papel nele. A luta pela sobrevivência se dá ao lado de Selena (Naomi Harris), que já está alguns passos a frente de Jim na percepção de que certos valores já não tem mais lugar naquela realidade. É dessa fusão de percepções e de como elas descambam para uma vala comum que Boyle alimenta seu filme. A alegoria política de Romero sai de cena e dá lugar a desesperança na humanidade confrontada com a ruína da civilidade. O inglês se interessa menos pela forma como o homem se organiza e mais pelos interesses que permanecem com ele quando organização já soa como um luxo.

Devastação: solidão e caos são elementos presentes no último grande filme de Danny Boyle


Extermínio é, ainda, um vigoroso thriller sobre sobrevivência. Há dois fortes comentários da realização a respeito. O primeiro remete ao destino do personagem de Brendan Gleeson (um pai que fizera de tudo para prover esperanças a sua filha e por força das circunstâncias é privado de alimentá-las) e o segundo comentário – mais aterrador ainda – se dá no momento em que um punhado de militares se propõe a um ato sórdido que antecipa o clímax do filme.
Toda a tensão construída em Extermínio é capturada por uma câmara intrusa. A fotografia do filme é crua, as cores são mortas, frígidas até, mas os movimentos de câmera são rápidos, afoitos (em uma analogia com a condição dos próprios zumbis). Boyle faz cortes secos que funcionam como catalisadores de um sentimento de desorientação muito oportuno à trama que ele desvela. Extermínio se resolve de maneira previsível dentro das características de um produto comercial, mas seu desfecho não impede de brotar um forte pessimismo no âmago da platéia. É por ter conseguido atender os anseios comerciais e ter produzido um comentário tão poderoso sobre a degeneração humana, que nada tem a ver com tornar-se zumbi, que Extermínio é das melhores fitas de Danny Boyle.
O segundo filme, dirigido pelo espanhol Juan Carlos Fresnadillo, e que contou com produção e supervisão de Boyle, avança nas questões propostas por ele aqui. É ótimo cinema, visualmente arrebatador, e imbuído do mesmo sentimento que o filme original. A série The walkind dead, no frigir dos ovos, não emprestou de Extermínio apenas a cena inicial. Pena que falta o desprendimento (e talvez a competência) de Boyle para lhe prover a pujança que se verifica aqui.

7 comentários:

  1. Bela análise. Confesso que não sou muito fã de filmes, séries etc de zumbis, mas Extermínio é mesmo um bom filme.

    bjs

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Belas palavras e ótimo olhar crítico meu caro, como sempre.

    Sou adorador do gênero e gostei muito da série 'The Walking Dead', simplesmente pelo fato de ser a primeira série assumida de zumbi.

    Não tem nada de novo neste gênero (só mesmo a velocidade dos monstros), nem na fita de Boyle, Snyder e na telesérie de Darabont, vejo que todos eles seguem o padrão de Romero: o inimigo é a pesssoa que está ao seu lado tentando sobreviver, é que no caso de 'Extermínio' (acho o filme de Fresnadillo um apêndice), Boyle foca realmente em personagens bons e mais esperançosos, mas que culmina no clímax final com aqueles militares, ou seja, o que Romero já fizera na sua cinesérie de terror.

    Olha, eu ADORO. E na minha opinião nenhum filme consegue ter um final diferente como o original 'The Night Of The Living Dead' feito por Romero em 68 pelo fato de que naquela época era novidade e como o sucesso do tema transformou o gênero em um produto comercial, o que se teve anos depois foram apenas filmes bons para entreter e assustar. Portanto é difícil de extrair algo tão original e pessoal neste tipo de filme. E olha que estamos falando de trabalhos de cineastas de primeira linha como Boyle e Darabont nesta altura da carreira!

    Abs.
    Rodrigo

    ResponderExcluir
  4. Eu ODEIO esse filme. Na verdade, é uma questão de gosto pessoal. Não suporto filmes nesse gênero e muito menos obras sanguinolentas demais, como é "Extermínio". A obra me dá uma agonia enorme...

    ResponderExcluir
  5. Os dois filmes "Extermínio" são ótimos, o primeiro é sensacional e o segundo mantém a qualidade, o que para mim foi uma agradável surpresa.

    Ainda não tive a oportunidade de assistir a série Walking Dead" para comparar.

    Abraço

    ResponderExcluir
  6. Fuck yeah! Ótimo texto para um dos filmes mais surpreendentes dos últimos anos! Sabe aquele que tu vai assistir não dando um tostão? Tinha lá meus 16 anos e... uau, não me deparei apenas com um filme de terror, mas com um terror inteligente que evita as banalidades do gênero. Gosto muito das preferências estéticas de Danny Boyle, acho ele m grande artista que gosta de experimentar e quase tudo que toca se converte em algo, no mínimo, interessante.

    Não vejo "The Walking Dead", nem nenhuma outra série pq tenho filmes demais para ver nessa vida rs, mas se for 1/3 do que é "Extermínio", não é à toa que falam ser um dos melhores programas atuais na TV =)


    abraço, meu caro!

    ResponderExcluir
  7. Amanda: Valeu Amanda. É um belo filme msm. bjs

    Rodrigo:Valeu pelos elogios e pelo comentário sempre rico e agregador meu caro. De fato, não dá para comparar com Romero. O Deus dos mortos vivos. Mas acho que Boyle deu uma repaginada na mitologia zumbi, por assim dizer...
    Abs

    Kamila: rsrs. Todo mundo tem seu ponto fraco né Ka?! Bjs

    Hugo:É verdade Hugo. Como disse o Rodrigo, o segundo Extermínio é um belo de um apêndice. The walkind dead é maneira. Mas é só isso. Abs

    Elton:Valeu pelos elogios e pelo comentário meu Brother. Vamos ver 127 horas, mas por enquanto- para mim - esse é o último grande filme de Boyle.
    rsrs. Gostei da sua justificativa sobre não assistir séries. Diante dela, não posso apresentar nenhuma contra razão... abs

    ResponderExcluir