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sábado, 11 de dezembro de 2010

Claquete repercute - Matrix


É um tanto difícil encontrar algo que já não tenha sido dito, refletido ou pormenorizado a respeito de Matrix, seguramente um dos filmes mais importantes dos últimos vinte anos. Há toda uma produção de literatura calcada no universo criado pelos irmãos Wachowski, um sem número de gadgets digitais e uma reprodução quase contínua do status quo de Matrix em filmes, seriados e na ficção em geral.
É, portanto, um exercício de aprofundamento. De revisão. Não de descobrimento e apontamento de verdades subliminares e objetivos ocultos. Matrix está para a ficção científica moderna como a bíblia (e a religião, como bem sabemos, é um elemento fundamental na construção de Matrix) está para o sacerdócio.
Não se alude aqui apenas os efeitos especiais espetaculares ou a inclusão desestabilizadora do chamado bullet time no repertório dos filmes de ação (hoje um expediente até mesmo banalizado, uma outra prova da aceleração proposta por Matrix). Refere-se à conjugação sofisticada de elementos que até então ficavam às margens da ficção de massa e que com Matrix passaram ao seu eixo central. É possível dizer que o filme dos Wachowski avalizou produções tão dispares como Lost e A origem. É devido a fórmula consagrada aqui (reunir filosofia, religião, artes marciais e teorias conspiratórias) com uma pegada pop e alto senso de moda que os anos 00 foram ociosos de ideias originais (um paradoxo deliciosamente filosófico). Por moda aí, entende-se tanto o conceito estrito ao fashionismo de roupas e acessórios, quanto à compreensão uniformizada do papel que a tecnologia não só passou a exercer no nosso mundo como o que se imagina será capaz de desempenhar.
Matrix, como cinema, veio atender a uma demanda cultural. Não que se o filme dos Wachowski não fosse concebido, outro não poderia tomar o seu lugar. Argumenta-se que Matrix articulou toda uma nova interjeição entre as mídias e a relação que o consumidor tem com elas. Ao destronar o retorno de Star Wars em 1999 (tanto na bilheteria quanto no Oscar), o filme dos Wachowski datou a obra de George Lucas (e aqui não se agrega valor pejorativo ao termo datou); comprovando que mais do que o cinema, o público estava cioso de novas ilações para um mundo que, ainda que sendo o mesmo, já se apresentava sob novas tonalidades. Afinal, ainda precisamos de um messias, mas porque espacial se ele pode ser cibernético?

Do revolucionário ao trivial: o bullet time, revolucionário a dez anos atrás, é empregado em produções picaretas na TV 


Pecado pelo excesso: a gana financeira do estúdio quase aniquilou o status quo de Matrix. Pela terceira vez, Neo e Smith se enfrentam em Matrix revolutions


O filme se desenvolve de forma clássica, ainda que temperado por modernices que podem afastar um espectador impaciente. Matrix é feito para pensar ou curtir? A ponderação que se instalou na mente de muitos, logo evoluiu para rótulos pouco lisonjeiros ou reducionistas. Convencionou-se que o filme dos Wachowski era uma bobagem como tantas outras, apenas como uma roupagem mais caprichada e bem adornada. Ajudou nesse julgamento o fato dos irmãos, por força das cifras que o estúdio (Warner) objetivava, terem rodado duas sequências que isoladamente podem até funcionar como bom entretenimento, mas que juntas empobrecem o referido status quo da produção original.
Mesmo com esse fogo amigo, há a prevalência do trabalho original. Matrix redefiniu a própria condição ao se posicionar como filme descolado, mas de reverberação filosófica. Muitas produções pretendem isso, mas é difícil superar a dinâmica tão bem estabelecida pelos Wachowski. No muito, conseguem impor a comparação e, com isso, revivem o status quo de Matrix a cada nova tentativa.


*Excepcionalmente a coluna Claquete repercute está sendo publicada hoje, ao invés do segundo domingo do mês.

4 comentários:

  1. Lembro até hoje de quando entrei no cinema meio desavisada para assistir ao filme. Era véspera da estreia de Episódio 1, que esperava com ansiedade. Não sabia nada do filme e saí maravilhada, talvez a experiência tenha ajudado a ficar ainda mais decepcionada com o resultado da volta de Star Wars, hehe.

    O filme é um marco, sem dúvidas. Excelente resgate.

    bjs

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  2. Reinaldo, tem um erro grave de informação quando você comenta que Matrix destronou Star Wars em 1999, na verdade é o oposto, foi Star Wars que nocateou Matrix em termos de bilheteria.

    Star Wars Episódio 01 - A Ameaça Fantasma arrecadou mais do que o dobro da bilheteria de Matrix em 1999 nos EUA, e a bilheteria mundial foi igualmente excepcional.

    Basta consultar o Box Office Mojo:

    Matrix (Bilheteria):
    EUA - US$ 171,479,930
    Mundo - US$463,517,383

    Star Wars Ep 01 - A Ameaça Fantasma (Bilheteria):
    EUA - US$ 431,088,301
    Mundial - US$924,317,558

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  3. Marcelo: O filmé ótimo mesmo. Abs

    Amanda:Obrigado Amanda. De fato, Matrix deixou George Lucas um tanto cabisbaixo... bjs

    Anônimo: Não qualificaria como um erro grave, mas de fato a informação passada no texto está equivocada. Agradeço pela correção pontual e bem embasada. Contudo, o ponto chave do argumento está mantido. De um jeito ou de outro, bem sabemos que o filme dos irmãos Watchowski eclipsou Star wars... E ainda teve O sexto sentido naquele ano tb...
    Grande abraço!

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