O crime como metáfora!
Não é algo novo. Hollywood se aperfeiçoou em usar a atividade criminosa como metáfora de reminiscências familiares e sociais. Desde o auge do cinema de gangster com Vencido pela lei (1934) até a edificação de Nova Iorque pelo olhar de Martin Scorsese em Gangues de Nova Iorque (2002). Ben Affleck vem, com brilhantismo, prestar sua contribuição ao filão. Atração perigosa (The town, EUA 2010) é um filme autoral que não se esquiva da necessidade de se mostrar comercial, já que é um produto de um estúdio regido por uma lógica capitalista. Transitar com habilidade e manter-se invicto ante essa dualidade é, sem dúvida, o maior mérito de Ben Affleck que, aos poucos, deixa de ser um diretor promissor para figurar na lista dos diretores interessantes.
Em Atração perigosa, Affleck faz um interessante painel de um bairro de imigrantes irlandeses em Boston, o que justifica o título original, mas não perde seus personagens principais de vista. O comentário do diretor (que também divide os créditos de roteirista) remete a influência que o ambiente exerce na sua formação. Não à toa, Affleck ambienta esse segundo filme que dirige, assim como havia feito com o primeiro, na cidade que cresceu e que conhece intimamente. Doug MacRay (Affleck) quer se desvencilhar de seu destino, mas esbarra na inércia. Quis o acaso que uma mulher que aparenta ser tão frágil quanto ele (ainda que essa fragilidade seja de outra natureza) representasse o “empurrão” que Doug precisava para vencer a inércia.
Amigos de fé: As mesmas regras e a mesma formação não impedem que Doug e Jem pensem diferente em um belo painel montado pelo diretor Affleck em seu filme
Há quem diga que Atração perigosa manipula clichês de gênero com destreza e que o filme se limita a isso. É uma interpretação superficial e simplista. De fato, há uma manipulação bastante criativa e qualificada dos elementos que gravitam o cinema do gênero, porém, há mais. Affleck investe nas sutilezas e trabalha com personagens fortes. Seja o pai irremediado em sua aflição explosiva e silenciosa (Chris Cooper em uma cena fantástica), seja a estrangeira em busca de amparo emocional (Rebecca Hall cada vez mais diligente em cena) ou o cara que não sabe como escapar da vida que vive (Affleck).
O crime e a relação destes personagens com esse universo passa, então, a ser uma metáfora preciosa de inadequação. Atração perigosa não deixa de ser também romântico em sua visão crepuscular e bifurcada dos laços que compõem amigos irmanados no crime. É, ainda, uma excelente fita de ação. Do tipo que prima por diálogos fortes e ação anexada à emoção genuína e bem engendrada por um diretor que pensa o filme de dentro para fora, ou seja, os personagens ditam o rimo da ação e não o contrário.
Vale comentar, também, a atuação de Ben Affleck. O ator dá sintomas de que acumulando as funções de diretor e roteirista redobra os cuidados com seu trabalho como intérprete. Aqui vemos um Affleck humilde (todos brilham mais que ele. Até mesmo Blake Lively) e senhor dos gestos de seu personagem. Doug não é um cara explosivo (ao contrário de Jem, personagem do também ótimo Jeremy Renner) e Affleck produz os gestos que levam a platéia a concluir o perfil implosivo de Doug. Um trabalho notável de um ator limitado que se revela um diretor agudo. E com o diretor Affleck, o ator deve sair lucrando bastante.
Impressionante as boas críticas que este filme tem obtido. Gostei muito do seu texto e quero muito conferir esta obra. Só acho que o trailer revela demais sobre a história...
ResponderExcluirBeijos!
Snif, o filme ainda não estreou aqui em Salvador... Tomara que venha algum dia.
ResponderExcluirbjs
esperando ansiosamente a estreia deste filme nos cinemas aqui onde moro ...
ResponderExcluirUAU! Parece que Affleck mandou bem mais uma vez como cineasta. À conferir!
ResponderExcluirBeijos! ;)
Seu olhar capta coisas com uma sensibilidade incrível, realmente, adoro. Eu precisaria comer mto arroz com feijão para descrever tão bem o espírito do filme.
ResponderExcluirbjs
Kamila: Não se espante se o filme constar da lista dos 10 da academia Ka. O trailer revela demais da história pq o estúdio vendeu o filme como um mero policial. Não é o caso. Bjs
ResponderExcluirAmanda: Putz, que chato Amanda. Espero que chegue logo. Bjs
Alan: Digo o msm que eu disse para Amanda Alan. Sorte aí. Abs
Mayara: Mandou sim Ma. Pode confiar. Bjs
Aline: Nossa agora fiquei sem jeito.rsrs. Obrigado pelo elogio Aline.
Beijos
Reinaldo,
ResponderExcluirQue saudade de comentar aqui e eis que dou de cara com a crítica de Atração Perigosa. Não assisti ainda o filme, mas tenho algumas referências sobre este trabalho. Fantástico o seu olhar sobre o filme, com sacadas muito bem colocadas como a dualidade do comercial x autoral e a questão da inadequação. Aliás, penso que o não adequar-se de Doug que precisaria de uma mudança, mas se confronta com esta vulnerabilidade do mudar (pelo menos é o meu guess para o filme) é o que me interessa, além da ação e da relação dos personagens com Doug.
Tenho certeza que vou gostar deste filme!
bjs
Ben Affleck descobriu um resquício de talento. Espero que não faça como seu amigo Kevin Smith e jogo tudo pelo ralo.
ResponderExcluirMeus parabéns, Reinaldo!
ResponderExcluirMuito boa e coerente tua crítica.
;)
Ah... quando puder conferí-lo, repercuto aqui!
ResponderExcluirAbraço.
:)
Madame: E eu estava com muitas saudades de seus comentários e intervenções cinéfilas de imenso conteúdo. Prazer em recebê-la novamente aqui.Também tenho certeza que vc vai gostar desse filme. Aliás, já começou a pensá-lo bem antes mesmo de conferi-lo.
ResponderExcluirBeijos
Annastesia: acho que ele não vai jogar não. O cenário parece bem promissor. Contudo, vamos aguardar. Bjs
Cássio Bezerra: Vou aguardar suas ponderações com ansiedade. Obrigado pelo elogio Cássio. Que bom que gostou. Não desapareça. Abs