Tido como um diretor fetichista e, mais ainda, pessimista, Todd Solondz está com fita nova nos cinemas brasileiros. A vida durante a guerra, cuja crítica o leitor pode conferir no post acima, retoma os personagens do mais célebre filme de Solondz, Felicidade. É esta produção de 1998, multipremiada (prêmio da crítica em Cannes, melhor filme no festival de Toronto e indicado ao Oscar de roteiro original, para citar alguns), que a seção Cantinho do DVD desta semana destaca. Felicidade não é um filme fácil. Muito pelo contrário, é enjoativo em alguns momentos e pesado em outros. Ainda assim, é o melhor trabalho desse cineasta bissexto.
Ficha técnica:
Direção: Todd Solondz
Roteiro: Todd Solondz Elenco: Jane Adams, Phillip Seymour Hoffman, Dylan Baker, Lara Flynn Boyle e Chyntia Stevenson
Gênero: Drama
Estúdio: Good machine/Imovision
Duração:134 min
Status: disponível em DVD para venda e locação
Preço médio: R$ 44,90
Crítica
Felicidade é um ideal ou um objetivo palpável? Para Todd Solondz isso pouca importa. Na conjuntura dramática proposta em Felicidade (Happiness, EUA 1998), ela pode ser tanto um objetivo de vida quanto um ideal distante; mas enquanto há vida há esperança, propaga uma personagem próximo do encerramento da fita. No filme, acompanhamos o cotidiano da família Jordan e de mais um punhado de personagens que a gravita. O que Solondz objetiva ao se aproximar desse microcosmo é professar sua fé: de que a América está corrompida pela pervertida busca pela felicidade. Não deixa de ser um tanto melancólica essa constatação. No painel alçado pelo diretor e roteirista estão um pedófilo que não parece se ressentir de sua condição, um tarado introvertido, a irmã falsa e arrogante (Helen), a irmã competitiva e prepotente (Trish) e a irmã que não sabe como se situar (Joy). Há muito mais no emaranhado de arquétipos que Solondz ilumina em seu filme.
Em Felicidade, há –deliberadamente – a intenção de chocar. Por isso, a risada nervosa do espectador aparece uma ou duas vezes durante o filme. Apesar de utilizar uma mise em scène esquemática (geralmente duas pessoas travando um diálogo em um enquadramento congelado), Solondz não economiza no conteúdo dos diálogos. Homossexualidade, pedofilia, drogas, infidelidade, entre outros assuntos tão incendiários quanto esses ocupam o itinerário dramático dos personagens. Itinerário porque eles pouco se parecem com seres vivos, mais se assemelham a rabiscos destinados a produzir um efeito reflexivo. Esse distanciamento opcional que Solondz afere à sua narrativa não é tão positivo quanto pode parecer. Ao prescindir da conexão emocional entre público e personagens, Solondz relega seu filme a mero instrumento para estudiosos (sejam eles do cinema ou das relações sociais).
Felicidade e todo o seu potencial agridoce estipulam uma sociedade perdida em seus desejos e em sua contemporaneidade. A cena final, das mais poderosas do cinema nos últimos 20 anos, resume toda a razão de ser do filme. O gozo, no final das contas, é o que vale.
hahahaaha já falei desse filme aqui ó http://avidaeumaopera.blogspot.com/2010/08/felicidade-que-constrange.html
ResponderExcluirMuito bom o teu olhar, você descreveu certinho o espírito do filme, e foi a única crítica que eu li , que não o comparou com Beleza Americana, ainda bem ! Seu olhar realmente é diferenciado.
Beijoss, saudade de comentar aqui no blog. Eta vidinha corrida que nos tira todo tempo pras coisas legais !!!
Creio que todo bom cinéfilo deve conferir este filme. Apesar das diretrizes pesadas do diretor.
ResponderExcluirÓtimo texto. Abs. meu caro!
Rodrigo
Laís: E eu estava com saudades de vc Laís. Seus comentários sempre lisonjeiros fazem falta aqui viu!rsrs. Pois é, Felicidade é muito bom mesmo ( e já que vc trouxe avante), mas Beleza americana é melhor.
ResponderExcluirbjs
Rodrigo: Concordo contigo. Obrigado pelo elogio!
Abração